10 abril, 2020



Por Carlos Orsi

A irracionalidade e o oportunismo que vêm sustentando muito do “hype” em torno do uso da cloroquina/hidroxicloroquina (CQ/HCQ), com ou sem a ajuda do antibiótico azitromicina (AZ), no tratamento de pacientes de COVID-19 parecem estar, finalmente, sendo expostos pelo que são — ainda que muito mais devagar do que deveriam, se formos levar a tão propalada preocupação com o bem-estar dos pacientes a sério.

A paisagem pintada pelas mídias – sociais e outras – a respeito do assunto é um torvelinho de contradições e histórias mal contadas: enquanto o Ministério da Saúde se propõe a disponibilizar a cloroquina  “como terapia adjuvante no tratamento de formas graves, em pacientes hospitalizados” (Nota Informativa 05/2020), um grupo privado de medicina passa a fornecer o fármaco a pacientes ao primeiro sinal de febre, e até mesmo via motoboy.

Aumentando ainda mais a confusão, o virologista da USP Paulo Zanotto apareceu em um vídeo do YouTube sugerindo que a combinação de HCQ e azitromicina, entre outros efeitos, atuaria na mitocôndria das células humanas, bloqueando a produção de energia, o que impediria a captura dessa energia pelo vírus e a subsequente multiplicação do invasor.

Pondo de lado o fato de que uma combinação de fármacos capaz de impedir a produção de energia pela célula simplesmente mata a célula — o que talvez seja desejável num tratamento oncológico, mas não num antiviral — o mecanismo proposto é tão esdrúxulo, do ponto de vista biológico, que ombreia com a ideia defendida por outro professor da USP, o falecido Gilberto Chierice, de que o câncer é causado por mudanças no pH celular, e não por mutação genética.

Em meio a isso tudo, a desinformação impera: há quem fale em centenas pacientes recuperados “graças” à CQ, HCQ ou HCQ/AZ em São Paulo, mas ninguém apresenta dados. E sem dados, a atribuição da cura a esses fármacos se reduz a bravata.

É difícil não ver oportunismo na bravata. Estima-se, afinal, que a taxa de recuperação das pessoas que contraem o vírus — mesmo entre as que requerem hospitalização — é  de mais de 90%. Sem controles adequados, atribuir parte desses 90% à HCQ faz tanto sentido quanto atribuir a cura de um caso qualquer de câncer à fosfoetanolamina, tão cara a Chierice, ou a cura de um resfriado à vitamina C.

O mérito, que por justiça deveria caber ao tratamento convencional, acaba, por ingenuidade ou má-fé, sendo atribuído à nova fórmula.

A ampliação do uso para quem está no início da doença, ou mesmo para aqueles que apresentam sintomas semelhantes, mas não chegaram a ser testados — que podem ter uma alergia, uma gripe ou um resfriado, não o vírus SARS-CoV-2 —, só fará aumentar ainda mais a ilusão de efeito: num cenário hipotético de disseminação ampla da CQ/HCQ, milhares de pessoas que se recuperariam naturalmente da COVID-19, ou que nem sequer chegaram a contrair o vírus, passarão a atribuir suas “curas”, reais ou imaginadas, ao remédio.
  
Estudos atacados

Mas, entre contradições e bravatas, alguns fatos concretos insistem em aparecer. No fim da semana passada, o artigo científico que pôs a combinação cloroquina/azitromicina no mapa viu-se sob ataque, até mesmo, dos responsáveis pelo periódico que o publicou. Depois de ter sido impiedosamente demolido nas críticas pré e pós-publicação, o trabalho do grupo francês de Didier Raoult tornou-se alvo de uma nota de preocupação emitida pela própria sociedade científica que mantém o International Journal of Antimicrobial Agents. O estudo “não atende aos padrões esperados de qualidade” científica, diz a crítica.

Enquanto isso, um estudo chinês com 62 pacientes, que teria encontrado as primeiras evidências concretas de benefício da HCQ contra a COVID-19, derrete sob o escrutínio da comunidade científica. Descobriu-se, por exemplo, que os autores mudaram as condições do teste no meio do caminho: a versão registrada junto ao governo chinês previa um estudo com 300 pacientes, para verificar redução na carga viral, uma métrica objetiva.

O que veio apresentado no artigo foi um trabalho com 62 pacientes e baseado em métricas menos “duras”, como tempo de recuperação, duração da febre e da tosse.  Uma explicação comum para esse tipo de desvio de rota é que o estudo original encaminhava-se para um resultado negativo, e os autores “pescaram” o que puderam para salvar a publicação.

Além disso, o grupo de pacientes que recebeu a HCQ incluiu um número maior de pessoas que já havia entrado no estudo com tosse e febre — o que sugere que a melhora mais rápida, vista nesse grupo, pode ser atribuída à evolução natural da doença, e não ao medicamento.

Nesta terça-feira, dia 7, a Folha de S. Paulo publicou entrevista com o infectologista Marcus Lacerda, que coordena um estudo controlado da HCQ, e que não está encontrando diferença significativa entre as taxas de sobrevivência de pacientes que receberam o fármaco e os que ficaram restritos ao tratamento convencional. Lacerda chama ainda atenção para o dado de que a dose mais alta testada mostrou-se tóxica.

 Vampirismo

O protocolo para uso precoce da combinação HCQ/AZ, proposto por Zanotto e também pela médica Nise Yamaguchi, é inspirado no que o médico americano Vladimir Zelenko diz ter posto em prática numa comunidade judaica de Nova York. “Diz ter praticado”, porque, assim como Zanotto, Zelenko não apresenta dados, apenas bravatas via YouTube. Como bem resume o serviço Estadão Verifica, do jornal O Estado de S. Paulo, “não há evidências de que essa pesquisa tenha realmente sido realizada, a não ser a palavra do próprio médico”.

O uso precoce, é bom repetir, representa um modo perfeito de gerar falsos positivos e multiplicar “casos de sucesso” espúrios: se mais de 90% dos diagnosticados se recuperam por conta própria ou com base nos cuidados médicos usuais, o acréscimo, sem controles adequados, de novas drogas constitui prática de vampirismo epistêmico — o novo tratamento, mesmo se for inócuo ou, até, prejudicial, suga para si as glórias do sucesso que, na verdade, cabem à natureza ou às demais medidas curativas adotadas.

 Carlos Orsi é jornalista e editor-chefe da Revista Questão de Ciência

Fonte: Revista Questão de Ciência

A “Nova Teologia Política” – Teologia Pública que se intromete nos conflitos concretos e que dá ao grito dos pobres uma memória. Entrevista especial com Paulo Suess


A “nova Teologia Política”, universalmente contextualizada, é teologia pública que se intromete nos conflitos concretos e que dá ao grito dos pobres uma memória e no abandono do crucificado e dos crucificados a perspectiva de uma correção possível e, talvez, o início de uma interrupção, sem suspender a irritação da pergunta de Jó: “Até quando?” Tempo não é passagem pela sala de espera da história, devidamente tranquilizado por uma esperança que aguarda o essencial depois. No tempo do grito há canção e na eucaristia celebramos morte e ressurreição “enquanto esperamos a vossa vinda”, enquanto celebramos uma festa de espera que tenta antecipar a Sua vinda e radicaliza sua encarnação, enquanto o sofrimento ainda não é consumado. Pode ser que a destruição da natureza seja o prelúdio da destruição apocalíptica da humanidade. Contudo, ainda não é consumado. O Apocalipse não é uma mensagem catastrófica definitiva. É uma advertência. Alzheimer pode ser não só uma doença degenerativa, mas paradigmática da nossa civilização. Confira a íntegra da entrevista AQUI


09 abril, 2020

Fazemos memória também de Jesus quando lavamos os pés das irmãs e dos irmãos.


09 de abril  Quinta-Feira da Semana Santa
Memória da Última Ceia
Celebração em família
Fazemos memória também de Jesus quando lavamos os pés das irmãs e dos irmãos.
"Amou-nos até o fim, amou-nos até o fim. 
Amou-nos, amou-nos até o fim!"



08 abril, 2020

Lindo

"Quero saber se você pode ver a beleza mesmo quando o que vê não é bonito, todos os dias, e se você pode buscar a fonte de sua vida em sua presença. Quero saber se você pode conviver com o fracasso, seu e meu, e ainda postar-se à beira de um lago e gritar à lua cheia prateada: “Sim!”." (Oriah Mountain Dreamer).

Memória da Preparação da Ceia e da Traição de Judas


8 de abril – Quarta-Feira da Semana Santa
Memória da Preparação da Ceia e da Traição de Judas
Celebração em família

“Respondei-me pelo vosso imenso amor, 
neste tempo favorável, Senhor Deus.”

"Amou-nos até o fim, amou-nos até o fim. 
Amou-nos, amou-nos até o fim!"



Um tempo de grande incerteza. Entrevista com o papa Francisco

Em uma entrevista exclusiva ao The Tablet – a sua primeira para uma publicação britânica – o papa Francisco fala que essa extraordinária Quaresma e Tempo Pascal pode ser um momento de criatividade e conversão para a Igreja, para o mundo e para toda a criação.
 Próximo ao final de março, sugeri ao papa Francisco que este poderia ser um bom momento para se dirigir ao mundo da língua inglesa: a pandemia que tanto afetou a Itália e a Espanha estava chegando ao Reino Unido, aos Estados Unidos e à Austrália. Sem compromisso com nada, ele me pediu para que lhe enviasse algumas questões. Eu escolhi seis temas, cada um com uma série de questões que ele poderia responder ou não, conforme ele quisesse. Uma semana depois, recebi o comunicado de que ele escreveu algumas reflexões em resposta às questões.
 A entrevista é de Austen Ivereigh, autor da biografia do papa Francisco, intitulada, em português, "O Grande Reformador", publicada por The Tablet, 07-04-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
 A entrevista também é publicada por Commonweal, EUA, e pelo jornal ABC, Espanha.

 

Eis a entrevista.

 A primeira questão foi sobre como ele estava vivenciando a pandemia e o lockdown, ambos na residência Santa Marta e na administração do Vaticano (“a Cúria”), mais amplamente, tanto na prática quanto na espiritualidade.
 A Cúria está tentando fazer o seu trabalho, e vive normalmente, se organizando em escalas, para que não estejam todos presentes ao mesmo tempo. Isso tem funcionado bem. Nós estamos aplicando as medidas recomendadas pelas autoridades de saúde. Aqui na residência Santa Marta nós temos duas escalas para as refeições, o que nos ajuda a amenizar o impacto. Todos trabalham em seus escritórios ou salas, usando a tecnologia. Todos estão trabalhando; não há infectados aqui.
 Como eu estou vivendo a espiritualidade? Eu estou rezando mais, porque eu sinto que devo. E eu penso no povo. Isso é o que me preocupa: o povo. Pensando no povo , isso me faz bem, isso tira a preocupação de mim. Claro, eu tenho minhas áreas de egoísmo. Nas terças-feiras meu confessor vem, e cuido dessas coisas.
 Eu penso nas minhas responsabilidades de agora e o que virá depois. O que será do meu serviço como bispo de Roma, como chefe da Igreja, depois disso? O depois já está começando a ser revelado como trágico e doloroso, é por isso que nós precisamos pensar sobre isso já. O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral vem trabalhando nisso, e está se reunindo comigo.
 Minha maior preocupação – ao menos o que vem através da minha oração – é como acompanhar e estar próximo do povo de Deus. É devido a isso o streaming ao vivo da missa às 7h da manhã, celebrada todos os dias, que está sendo apreciado e seguido por muitas pessoas, assim como a benção do dia 27 de março na Praça São Pedro. Por isso, também, que as atividades de caridade da Esmolaria Apostólica atendem aos doentes e aos famintos.
Eu estou vivendo este como um tempo de grande incerteza. Este é o tempo para inventar, para a criatividade.
 Na segunda questão, eu referenciei uma novela do século XIX, muito querida pelo papa Francisco, a qual ele recentemente mencionou: I Promessi Sposi (Os noivos), de Alessandro Manzoni. A novela centra-se sobre a praga de Milão em 1630. Aqui estão vários personagens clericais: o covarde dom Abbondio, o santo cardeal Borromeo e os frei capuchinhos que servem aos lazarentos, em uma espécie de hospital de campanha, no qual os infectados estão rigorosamente longe dos saudáveis. Sob a luz da novela, como o papa Francisco vê a missão da Igreja no contexto da covid-19?
 O cardeal Federico Borromeo realmente é um herói da praga de Milão. Porém, em um dos capítulos, ele saúda a cidade, mas com a janela da carruagem fechada para proteger a si mesmo. Ele não se sai bem com o povo. O povo de Deus precisa do seu pastor próximo a eles, não superprotegendo a si mesmo. O povo de Deus necessita dos seus pastores fazendo autossacrifício, como os Capuchinhos, estando próximos.
 A criatividade dos cristãos precisa mostrar novos horizontes, abrindo as janelas, abrindo a transcendência em direção a Deus e ao povo e criando novas formas de estar em casa. Não é fácil estar confinado na sua casa. O que me vem à mente é um verso de Eneida em meio à derrota: o conselho é não desistir, mas salvar a si mesmo para os tempos melhores, por isso relembrar o que aconteceu naqueles tempos nos ajudará. Cuidem-se para um futuro que virá. E lembrar no futuro o que aconteceu fará bem a você.
 Cuide do agora, pelo bem de amanhã. Sempre criativamente, com uma criatividade simples, capaz de inventar algo novo a cada dia. Dentro de casa, isso não é difícil de descobrir, mas não fuja, não se refugie no escapismo, que neste momento não é útil para você.
 Minha terceira questão foi sobre políticas governamentais em resposta à crise. Embora a quarentena da população seja um sinal de que alguns governos estão dispostos a sacrificar o bem-estar econômico em benefício das pessoas vulneráveis, sugeri que também estivesse expondo níveis de exclusão considerados normais e aceitáveis até agora.
 É verdade que vários governos adotaram medidas exemplares para defender a população com base em prioridades claras. Mas estamos percebendo que todo o nosso pensamento, goste ou não, foi moldado em torno da economia. No mundo das finanças, parecia normal sacrificar [pessoas], praticar uma política da cultura descartável, do começo ao fim da vida. Estou pensando, por exemplo, na seleção pré-natal. Hoje em dia, é muito incomum conhecer pessoas com Síndrome de Down nas ruas; quando o tomógrafo os detecta, eles são descartados. É uma cultura de eutanásia, legal ou secreta, na qual os idosos estão recebendo medicamentos, mas só até certo ponto.

O que vem à mente é a encíclica Humanae Vitae do papa Paulo VI. A grande controvérsia da época era sobre a pílula [contraceptiva], mas o que as pessoas não percebiam era a força profética da encíclica, que previa o neomalthusianismo que estava começando a acontecer em todo o mundo. Paulo VI soou o alarme sobre essa onda de neomalthusianismo. Vemos isso na maneira como as pessoas são selecionadas de acordo com sua utilidade ou produtividade: a cultura do descarte.
 Agora mesmo, os sem-teto continuam sem-teto. Uma foto apareceu no outro dia de um estacionamento em Las Vegas, onde eles foram colocados em quarentena. E os hotéis estavam vazios. Mas os sem-teto não podem ir a um hotel. Essa é a cultura do descarte na prática.
 Fiquei curioso para saber se o Papa viu a crise e a devastação econômica como uma chance de uma conversão ecológica, de reavaliar prioridades e estilos de vida. Perguntei-lhe concretamente se era possível ver no futuro uma economia que – para usar suas palavras – era mais “humana” e menos “líquida”.
 Há uma expressão em espanhol: “Deus sempre perdoa, nós perdoamos às vezes, mas a natureza nunca perdoa”. Não respondemos às catástrofes parciais. Quem agora fala dos incêndios na Austrália, ou lembra que há 18 meses um barco poderia atravessar o Polo Norte porque todas as geleiras haviam derretido? Quem fala agora das inundações? Não sei se é a vingança da natureza, mas certamente são as respostas da natureza.
 Temos uma memória seletiva. Eu quero me debruçar sobre este ponto. Fiquei impressionado com a comemoração do septuagésimo aniversário do desembarque na Normandia, com a presença de pessoas dos mais altos níveis de cultura e política. Foi uma grande festa. É verdade que marcou o início do fim da ditadura, mas ninguém parecia se lembrar dos 10 mil jovens que permaneceram naquela praia.
 Quando fui a Redipuglia, pelo centenário da Primeira Guerra Mundial, vi um belo monumento e nomes em uma pedra, mas foi isso. Eu chorei, pensando na frase de Bento XV: inutile strage (“massacre sem sentido”). O mesmo aconteceu comigo em Anzio no Dia de Finados, pensando em todos os soldados norte-americanos enterrados lá, cada um deles com uma família e como qualquer um deles poderia ter sido eu.
 Neste momento na Europa, quando começamos a ouvir discursos populistas e testemunhar decisões políticas desse tipo seletivo, é muito fácil lembrar os discursos de Hitler em 1933, que não eram tão diferentes dos discursos de alguns políticos europeus atualmente.
 O que vem à mente é outro versículo de Virgílio: [forsan et haec olim] meminisse iubavit [“talvez um dia seja bom lembrar dessas coisas”]. Precisamos recuperar nossa memória porque a memória virá em nosso auxílio. Não é a primeira praga da humanidade, as outras tornaram-se meras anedotas. Nós precisamos lembrar de nossas raízes, de nossa tradição repleta de memórias. Nos exercícios espirituais de Santo Inácio, na Primeira Semana, bem como na “Contemplação para alcançar o Amor”, na quarta semana, são completamente lembrados. É uma conversão através da memória.
 Essa crise está afetando a todos nós, ricos e pobres, e colocando em foco a hipocrisia. Estou preocupado com a hipocrisia de certas personalidades políticas que falam em enfrentar a crise, no problema da fome no mundo, mas que, entretanto, fabricam armas. Este é um momento para ser convertido a partir desse tipo de hipocrisia funcional. É hora de integridade. Ou somos coerentes com nossas crenças ou perdemos tudo.
 Você me pergunta sobre conversão. Toda crise contém perigo e oportunidade: a oportunidade de sair do perigo. Hoje acredito que temos que diminuir nossa taxa de produção e consumo (Laudato Si’, 191) e aprender a entender e contemplar o mundo natural. Precisamos nos reconectar com nosso ambiente real. Esta é a oportunidade de conversão.
 Sim, vejo sinais precoces de uma economia menos líquida, mais humana. Mas não vamos perder nossa memória depois que tudo isso tiver passado, não vamos arquivá-la e voltar para onde estávamos. Este é o momento de dar o passo decisivo, de passar do uso e mau uso da natureza para a contemplação. Perdemos a dimensão contemplativa; temos que recuperá-la neste momento.
 E por falar em contemplação, gostaria de me debruçar sobre um ponto. Este é o momento de olhar para os pobres. Jesus diz que sempre teremos os pobres conosco, e é verdade. Eles são uma realidade que não podemos negar. Mas os pobres estão escondidos, porque a pobreza é tímida. Recentemente, em Roma, no meio da quarentena, um policial disse a um homem: “Você não pode estar na rua, vá para casa”. A resposta foi: “Não tenho casa. Eu moro na rua”. Descobrir o enorme número de pessoas que estão à margem... E não as vemos, porque a pobreza é tímida. Eles estão lá, mas nós não os vemos: eles se tornaram parte da paisagem; são coisas.
 Santa Teresa de Calcutá os viu e teve a coragem de embarcar em uma jornada de conversão. “Ver os pobres” significa restaurar sua humanidade. Eles não são coisas, não são descartáveis; eles são pessoas. Não podemos nos contentar com uma política de bem-estar como a que temos para animais resgatados. Muitas vezes tratamos os pobres como animais resgatados. Não podemos nos contentar com uma política de bem-estar parcial.
 Vou me atrever a oferecer alguns conselhos. Este é o momento de ir ao subterrâneo. Estou pensando no romance curto de Dostoiévski, Memórias do Subsolo. Os funcionários daquele hospital prisional ficaram tão acostumados que tratavam seus pobres presos como coisas. E, vendo a forma como era tratado alguém que acabara de morrer, o que estava na cama ao lado lhes diz: “Basta! Ele também teve uma mãe!”. Precisamos dizer isso a nós mesmos com frequência: aquela pobre pessoa teve uma mãe que o criou com amor. Ao decorrer da vida não sabemos o que acontece. Mas é bom pensar no amor que ele recebeu pela esperança de sua mãe.
 Nós desempoderamos os pobres. Não lhes damos o direito de sonhar com suas mães. Eles não sabem o que é carinho; muitos vivem das drogas. E vê-los pode nos ajudar a descobrir a piedade, as "pietás", que apontam para Deus e para o próximo.
 Desçamos ao subterrâneo e passemos do mundo hipervirtual e sem carne para o sofrimento da carne dos pobres. Esta é a conversão que temos que passar. E se não começarmos por aí, não haverá conversão.
 Hoje estou pensando nos santos que moram ao lado. Eles são heróis: médicos, voluntários, irmãs religiosas, padres, lojistas – todos cumprindo seu dever para que a sociedade possa continuar funcionando. Quantos médicos e enfermeiros morreram! Quantas irmãs religiosas morreram! Todos servindo... O que me vem à mente é algo dito pelo alfaiate, na minha opinião, um dos personagens com maior integridade em Os noivos. Ele diz: “O Senhor não deixa seus milagres pela metade”. Se tomarmos consciência desse milagre dos santos da porta ao lado, se pudermos seguir seus rastros, o milagre terminará bem, para o bem de todos. Deus não deixa as coisas pela metade. Somos nós que fazemos isso.
 O que estamos vivendo agora é um lugar de metanoia (conversão), e temos a chance de começar. Então, não vamos deixar escapar isso, e vamos seguir em frente.
 Minha quinta questão é centrada nos efeitos da crise sobre a Igreja e a necessidade de repensar nossas formas de operar. Ele vê emergir uma Igreja mais missionária, mais criativa, menos preocupada com as instituições, a partir disso? Estamos vendo uma nova forma de “Igreja nas casas”?
 Menos apegado às instituições? Eu diria menos apegado a certas maneiras de pensar. Porque a Igreja é instituição. A tentação é sonhar com uma igreja desinstitucionalizada, uma igreja gnóstica sem instituições ou sujeita a instituições fixas, que seria uma igreja pelagiana. Quem faz a Igreja é o Espírito Santo, que não é gnóstico, nem pelagiano. É o Espírito Santo que institucionaliza a Igreja, de uma maneira alternativa e complementar, porque o Espírito Santo provoca desordem através dos carismas, mas daí a desordem cria harmonia.
 Uma igreja que é livre não é uma igreja anárquica, porque a liberdade é um presente de Deus. Uma igreja institucional significa uma igreja institucionalizada pelo Espírito Santo.
 Uma tensão entre desordem e harmonia: esta é a Igreja que deve sair da crise. Temos que aprender a viver em uma igreja que existe na tensão entre harmonia e desordem provocada pelo Espírito Santo. Se você me perguntar qual livro de teologia pode melhor ajudá-lo a entender isso, seriam os Atos dos Apóstolos. Lá você verá como o Espírito Santo desinstitucionaliza o que não é mais útil e institucionaliza o futuro da Igreja. Essa é a Igreja que precisa sair da crise.
 Cerca de uma semana atrás, um bispo italiano, um tanto perturbado, me ligou. Ele andava pelos hospitais querendo dar absolvição àqueles dentro das enfermarias do corredor do hospital. Mas ele conversou com advogados canônicos que lhe disseram que não, que a absolvição só poderia ser dada em contato direto. “O que você acha, padre?”, me perguntou. Eu disse a ele: “Bispo, cumpra seu dever sacerdotal”. E o bispo disse “Grazie, ho capito” (“Obrigado, eu entendi”). Descobri depois que ele estava dando absolvição por todo lugar.
 Esta é a liberdade do Espírito no meio de uma crise, não uma Igreja fechada em instituições. Isso não significa que o direito canônico não seja importante: é, ajuda e, por favor, façamos bom uso dele, é para o nosso bem. Mas o cânone final diz que toda a lei canônica é para a salvação das almas, e é isso que abre a porta para sairmos em momentos de dificuldade para trazer o consolo de Deus.
 Você me pergunta sobre uma “igreja local”. Temos que responder ao nosso confinamento com toda a nossa criatividade. Podemos ficar deprimidos e alienados – através da mídia que pode nos tirar da realidade – ou podemos ser criativos. Em casa, precisamos de uma criatividade apostólica, uma criatividade despida de tantas coisas inúteis, mas com um desejo de expressar nossa fé na comunidade, como povo de Deus. Então: estar preso, mas ansioso, com aquela memória que anseia e gera esperança – é isso que nos ajudará a escapar de nosso confinamento.
 Por fim, pergunto ao papa Francisco como está sendo o chamado para viver essa Quaresma e Tempo Pascal extraordinários. Perguntei se ele tinha uma mensagem particular aos idosos que estão sofrendo com o autoisolamento, para os jovens confinados, e para aqueles que encaram a pobreza como resultado da crise.
 Você fala dos idosos isolados: solidão e distância. Quantos idosos existem cujos filhos não vão visitá-los em tempos normais! Lembro-me de Buenos Aires, quando visitava as casas de idosos, e perguntava: como está sua família? Bem, bem! Eles vêm? Sim, sempre! Então a enfermeira me chamava de lado e dizia que os filhos não os viam há seis meses. Solidão e abandono... distância.
 No entanto, os idosos continuam a ser nossas raízes. E eles devem falar com os jovens. Essa tensão entre jovens e idosos deve sempre ser resolvida no encontro entre si. Porque o jovem é broto e folhagem, mas sem raízes, não pode dar frutos. Os idosos são as raízes. Hoje eu diria a eles: sei que sentem que a morte está próxima e têm medo, mas procurem outro lugar, lembrem-se de seus filhos e não parem de sonhar. É isso que Deus pede de vocês: sonhar (Joel 3, 1).
 O que eu diria aos jovens? Tenha a coragem de olhar para o futuro e ser profético. Que os sonhos dos velhos correspondam às suas profecias - também Joel 3, 1.
 Aqueles que foram empobrecidos pela crise estão hoje desprovidos, são adicionados como mais um número de desprovidos de todos os tempos, homens e mulheres cujo status é “desprovido”. Eles perderam tudo ou vão perder tudo. Que significado a miséria tem para mim, à luz do Evangelho? Significa entrar no mundo dos necessitados, entender que quem já teve, não o tem mais. O que eu peço às pessoas é que levem os idosos e os jovens sob suas asas, que levem a história sob suas asas, as pessoas carentes sob suas asas.
 O que vem à mente agora é outro verso de Virgílio, no final do Livro 2 da Eneida, quando Eneias, após a derrota em Troia, perdeu tudo. Dois caminhos estão diante dele: permanecer ali para chorar e acabar com sua vida, ou seguir o que estava em seu coração, subir a montanha e deixar a guerra para trás. É um verso bonito: Cessi, et sublato montem genitore petivi (“Dei lugar ao destino e, carregando meu pai nos ombros, fui para a montanha”).
 É isso que todos temos que fazer agora, hoje: levar conosco as raízes de nossas tradições e fazer o caminho, subir a montanha.
Fonte: IHU

07 abril, 2020

Memória da entrega do Servo Sofredor


7 de abril – Terça-Feira da Semana Santa
Memória da entrega do Servo Sofredor
Celebração em família
“Minha boca anunciará vossa justiça”
"Amou-nos até o fim, amou-nos até o fim. 
Amou-nos, amou-nos até o fim!"



Auxílio emergencial de R$ 600


Auxílio emergencial de R$ 600

Terão direito ao benefício, que será pago por até três meses, trabalhadores informais, desempregados, MEIs e contribuintes individuais do INSS, que cumpram requisito de renda média.

Site e aplicativo Auxílio emergencial de R$ 600

O aplicativo deve ser usado pelos trabalhadores que forem:
- Microempreendedores Individuais (MEIs)
- Trabalhadores informais sem registro e contribuintes individuais do INSS.

Aqueles que já recebem o Bolsa Família, ou que estão inscritos no Cadastro Único, não precisam se inscrever pelo aplicativo. O pagamento será feito automaticamente.
No link abaixo como saber se você está no Cadastro Único






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Salmo - Sl 70, 1-2. 3-4a. 5-6ab. 15.17 (R.15)


Relatório assinado por Mandetta reforça importância de isolamento social


Um artigo assinado por membros do Ministério da Saúde, incluindo o ministro Luiz Henrique Mandetta, e especialistas de diversas universidades reforça a necessidade de se manter o isolamento social, para a contenção do novo coronavírus, e prevê o aumento de casos nos próximos meses no Brasil.

Veja a matéria na íntegra AQUI

O Papa cria um fundo para as áreas de missão afetadas pelo vírus


A contribuição inicial feita por Francisco é de 750 mil dólares. As Igrejas que podem, pede o Papa, contribuam através das Pontifícias Obras Missionárias. Tagle: uma rede para ajudar milhões de pessoas vulneráveis.

Fala-se pouco, mas depois da China, o Ocidente é o maior “viveiro”. Na realidade, os números falam de uma pandemia que vem se estendendo há algum tempo também nas regiões do hemisfério sul, especialmente na América Latina, mas também na África. Estas são áreas que para a Igreja são terras de missão, onde a escassez de meios junto com o coronavírus podem criar situações muito difíceis. Por isso, o Papa decidiu ajudar essas áreas, instituindo um fundo de emergência nas Pontifícias Obras Missionárias, com uma contribuição inicial de 750 mil dólares.

Leia a matéria na íntegra AQUI

06 abril, 2020

Salmo - 26, 1. 2. 3. 13-14 (R. 1a)


Para refletir


Os pobres 
“Jesus se identifica com eles. Seremos julgados sobre nossa relação com os pobres.” (Papa Francisco)

Prece


"Penso num grave problema que existe em várias partes do mundo. Gostaria que hoje rezássemos pelo problema da superlotação nos cárceres. Onde há uma superlotação – muita gente ali – há o perigo, nesta pandemia, de que se acabe numa grave calamidade. Rezemos pelos responsáveis, por aqueles que devem tomar as decisões nisso, a fim de que encontrem um caminho justo e criativo para resolver o problema." (Papa Francisco)

Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos emite nota a respeito da Covid-19



Leia a nota da SBCC na íntegra:

Nós, membros da SBCC, diante da pandemia do Covid-19, fazemo-nos próximos e solidários aos brasileiros neste momento de angústia, incertezas e esperanças. Reconhecemos o grande valor dos cientistas, profissionais da saúde e de todos os demais que têm papel indispensável nesta hora. Queremos também contribuir para a promoção e defesa da vida, o bem maior.

A Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e a comunidade científica têm indicado algumas ações que já estão em andamento para conter o avanço da doença e assim evitar o colapso do sistema de saúde, bem como reduzir o número de mortes causadas pela Covid-19. Considerando-se que muitas outras ações ainda precisarão ser desenvolvidas, a SBCC propõe aos pesquisadores católicos as seguintes reflexões:

1 – É preciso priorizar temporalmente os esforços científicos, técnicos e econômicos, de modo que soluções para os problemas mais relevantes sejam rapidamente levantadas, tendo em conta o valor inegociável da vida humana. Sob este valor, devem estar subordinadas todas as demais preocupações políticas e econômicas.

2 – A aplicação em larga escala de vacinas, medicamentos e outros tratamentos deve ser baseada em conhecimentos científicos comprovados ou, quando em condições extremas, em protocolos clínicos devidamente justificados. Comunidades humanas não podem ser usadas como cobaias, a fim de obter conhecimento. Isso inverte a lógica de uma ciência humanista e fere a ética científica em diferentes níveis. Neste mesmo sentido, as medidas políticas, sociais e econômicas adotadas devem estar baseadas em modelos que priorizem vidas, seja evitando a disseminação da doença, seja garantindo a subsistência dos indivíduos num cenário pós-epidemia.

3 – É mister estabelecer, em espírito solidário, um diálogo efetivo e transdisciplinar para encontrar a dosimetria adequada das ações no complexo enfrentamento da crise. Deve-se buscar ações econômicas e de organização social baseadas em um humanismo solidário, que visem o bem comum e protagonizem a opção preferencial pelos pobres.

4 – Ao fim dessa crise, a sociedade terá a oportunidade de reavaliar os papéis tanto da comunidade científica quanto dos profissionais de saúde, por vezes preteridos de incentivos públicos e privados, no cenário nacional. Reafirmamos sua importância e a necessidade de que suas orientações sejam seguidas por parte das autoridades civis, eclesiásticas, e toda sociedade de modo geral.

Em tempo, conclamamos esses profissionais a que assumam, com profunda solidariedade e colaboração, suas funções tão necessárias nesse momento crítico em que vivemos. Pedimos a todos os irmãos para que rezem por esses profissionais e que nos unamos a Cristo para sermos sinais de esperança.

27 de março de 2020.