"Obrigado Leão XIV por nos recordar essa verdade dogmática fundamental de nossa fé. Obrigado por nos devolver o Evangelho de Jesus Cristo, devolvendo-nos aos pobres desse mundo e exortando toda Igreja a ser uma Igreja pobre e para os pobres"
O texto é de Padre Francisco Aquino Júnior, publicada por Portal das CEB, 21-10-2025.
A Exortação do Papa Leão XIV sobre o amor aos pobres
É muito significativo que o primeiro documento de Leão XIV seja uma exortação sobre o amor aos pobres. Se o último documento de Francisco foi uma encíclica sobre o amor do Coração de Jesus (Dilexit Nos – Ele nos amou); o primeiro documento de Leão XIV é uma exortação a tornar realidade para os pobres as palavras de Jesus: “Eu te amei” (Dilexi Te). A contemplação do “amor de Cristo” leva-nos a colaborar na “difusão do seu amor” (DT 2). O texto já vinha sendo preparado por Francisco e foi assumido e concluído por Leão XIV com o propósito de ajudar a Igreja perceber a “forte ligação existente entre o amor de Cristo e o seu chamamento a tornar-nos próximos dos pobres” (DT 3).
O Documento tem cinco capítulos: Começa com “algumas palavras” sobre a relação entre o afeto ao Senhor e o afeto aos pobres; sobre São Francisco, sobre o clamor dos pobres e sobre os preconceitos ideológicos contra os pobres (cap. 1); partindo a Sagrada Escritura, mostra como “Deus escolhe os pobres” (cap. 2); fala da Igreja como “uma Igreja para os pobres”, testemunhada em toda a Tradição cristã (cap. 3); mostra como essa história de compromisso com os pobres continua em nosso tempo, destacando a importância da doutrina social da Igreja, do Concílio Vaticano II e da Igreja da América Latina (cap. 4); e conclui recordando que o serviço aos pobres “faz parte da grande Tradição da Igreja” e constitui “um desafio permanente” (cap. 5).
Um ponto fundamental do documento é a insistência no caráter teologal/espiritual da opção preferencial pelos pobres. Não se trata apenas de “beneficência” (serviço social), mas de “revelação” (salvação ou condenação) (DT 5). Na verdade, a opção da Igreja pelos pobres está fundada e decorre da “opção preferencial de Deus pelos pobres”: Em seu agir salvífico no mundo, Deus “tem particularmente a peito aqueles que são discriminados e oprimidos, pedindo-nos também a nós, sua Igreja, uma decidida e radical posição em favor dos mais fracos” (DT 16); “no coração de Deus, ocupam lugar preferencial dos pobres”; “todo caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres” (DT 17).
O capítulo 2 da exortação está todo dedicado à essa predileção de Deus pelos pobres: Em numerosas páginas do Antigo Testamento, “Deus é apresentado como amigo e libertador dos pobres, Aquele que escuta o grito dos pobres e intervém para o libertar” (DT 16). E “toda a história do Antigo Testamento sobre a predileção de Deus pelos pobres e o desejo divino de ouvir o seu clamor encontra em Jesus de Nazaré sua plena realização” (DT 18). Em sua identificação com os pobres, “Jesus é a revelação deste privilegium pauperum” (privilégio dos pobres) – “Ele apresenta-se ao mundo não só como messias pobre, mas também como messias dos pobres” (DT 19). Em sua pregação e nos sinais que realiza, Jesus manifesta a “predileção” de Deus pelos pobres: “a eles primeiramente se dirige a palavra de esperança e de libertação do Senhor e por isso ninguém, a apesar da condição de pobreza e fraqueza, deve sentir-se abandonado” (DT 21).
Essa “opção preferencial de Deus pelos pobres” justifica e exige da Igreja uma “decidida e radical” opção preferencial pelos pobres (DT 16). Na verdade, não se trata bem de “opção”, no sentido de que se poderia não optar. Trata-se de uma exigência que brota da revelação de Deus, de uma condição da fidelidade a Deus e de um critério escatológico de salvação ou de condenação: “desde os tempos apostólicos, a Igreja viu na libertação dos oprimidos um sinal do Reino de Deus” (DT 59); “se não quisermos sair da corrente viva da Igreja que brota do Evangelho e fecunda cada momento da história, não podemos esquecer os pobres” (DT 15); se a Igreja “deseja ser de Cristo, deve ser Igreja das Bem-aventuranças, Igreja que dá vez aos pequeninos e caminha pobre com os pobres, lugar onde os pobres têm um espaço privilegiado” (DT 21); “o amor aos pobres é a garantia evangélica de uma Igreja fiel ao coração de Deus” (103). Por essa razão, diz Leão XIV: “observar que o exercício da caridade é desprezado ou ridicularizado, como se fosse uma fixação somente de alguns e não o núcleo incandescente da missão eclesial, faz-me pensar que é preciso ler novamente o Evangelho” (DT 15).
Obrigado Leão XIV por nos recordar essa verdade dogmática fundamental de nossa fé. Obrigado por nos devolver o Evangelho de Jesus Cristo, devolvendo-nos aos pobres desse mundo e exortando toda Igreja a ser uma Igreja pobre e para os pobres…
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