03 novembro, 2025

A direita apresenta suas armas

O que segue a baixo, é newsletter, recebido em meu e-mail, do "Brasil de Fato (31/10/2025)

A direita apresenta suas armas

Olá, enquanto Lula tentava tirar um caldo da viagem à Ásia, o governo do Rio fazia seu suco de barbárie.

.Sangue nas urnas. Depois de planejar e coordenar uma chacina, Claudio Castro tentou jogar a culpa no governo federal. A versão de que o Planalto havia sido negligente não colou, dando oportunidade para o governo ressuscitar a PEC da Segurança Pública parada há meses no Congresso. Mas, o centrão deve cozinhar o projeto em banho maria até o final do ano, já que a oposição prefere a lei antiterrorismo, seguindo as orientações de Donald Trump para a América Latina. Não à toa, o governador do Rio fez questão de reportar a Casa Branca sobre os tentáculos do Comando Vermelho nos Estados Unidos. Lula, por seu lado, aproveitou o calor do momento para sancionar a Lei das Organizações Criminosas que já havia sido aprovada pelo Congresso no início de outubro. Porém, o Planalto insiste em evitar confrontos, criticando timidamente as ações da polícia fluminense e pregando que a melhor solução é uma ação coordenada entre a esfera estadual e a federal. Ao contrário da direita, que deve continuar batendo na tecla de que a culpa da violência no Rio de Janeiro é de Lula e do Judiciário, que passa pano pra bandidagem. As mesmas posições devem estar presentes na CPI do Crime Organizado do Senado. A ação de Cláudio Castro foi também uma oportunidade para galvanizar os governadores da direita em torno da linha “Bandido bom é bandido morto” ironicamente batizando o grupo de “Consórcio da Paz” e deixar para trás a falida pauta da anistia. Vale lembrar que o projeto de extermínio da população negra e pobre no Rio de Janeiro não é inédito, nem isolado. Ele também é seguido por Tarcísio de Freitas e pela PM de São Paulo a seu próprio modo. Tudo isso só confirma que, junto com a corrupção, a segurança pública é um dos temas preferidos da direita em momentos de crise e pode render votos, como aposta o secretário da PM do Rio de Janeiro, Marcelo de Menez, que cogita ser governador. Mas na esquerda também tem gente que flerta com a linha dura. Se o Planalto insiste em evitar a politização do assunto, coube ao STF, a pedido do Conselho Nacional de Direitos Humanos e da PGR, solicitar explicações ao governo do Rio. Além disso, um julgamento de Cláudio Castro no TSE vai ser retomado semana que vem e poderá culminar na sua cassação e inelegibilidade.

.Cada um por si. A chacina no Rio de Janeiro deixou em segundo plano a batalha da política econômica que vem sendo travada pelo Planalto. Assim, duas boas notícias ficaram apagadas: a MP do setor elétrico foi aprovada na Câmara, e o Senado validou a excepcionalidade orçamentária da isenção do Imposto de Renda. Quanto à queda de braços fiscal, a estratégia do governo é aprovar primeiro medidas de contenção de gastos para depois dar conta de recuperar a arrecadação. Outro resultado positivo veio do encontro entre Lula e Donald Trump. É verdade que a conversa não encerrou a questão do tarifaço, nem a investigação aberta nos EUA contra o pix, nem parece que vai resolver a curto prazo as sanções à Alexandre de Moraes. No final, dificilmente o Brasil escapa sem ceder alguma coisa. Mas é indiscutível que o diálogo foi um avanço e que outra vitória de Lula foi fazer de Bolsonaro “página virada para Trump”, como definiu um diplomata americano. Assim, chegou a hora do núcleo duro do bolsonarismo pensar na vida e planejar o futuro. Com Tarcísio mais uma vez indeciso sobre a candidatura ao Planalto, a ideia de lançar Michelle à presidência voltou à pauta, mas até a Paraná Pesquisa, instituto do PL, reconheceu que ambos são incapazes de fazer frente à Lula nas eleições. A mesma situação vivida por Eduardo Bolsonaro. Bananinha, porém, vive num universo paralelo e se lançou à presidência, mesmo com o abandono de Trump e completamente ignorado por seu próprio partido. Santa Catarina, que já havia recebido Jair Renan em Camboriú, terá Carlos Bolsonaro como candidato ao Senado, dividindo a direita nativa, e consolidando o estado como reduto inconteste do bolsonarismo. Quanto a Jair pai, se escapar da Papuda e garantir uma prisão domiciliar já será lucro. Entretanto, que o fim do clã não seja confundido com fraqueza da extrema-direita. Segundo levantamento da Real Time Big Data, a extrema-direita, com bolsonaristas fiéis ou não, pode eleger 44 senadores na próxima eleição, o suficiente para assumir o comando da casa.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Como Comando Vermelho surgiu e se espalhou pelo Brasil. O nascimento e expansão da mais longeva facção criminosa do Brasil. Na BBC.

.Venezuela: até onde irá Trump?. Os primeiros objetivos são intimidar Maduro, afastar a China e afagar a ultradireita. No Outras Palavras.

.Como Milei conseguiu vitória nas eleições legislativas da Argentina apesar de crises e escândalos. Na BBC, como o apoio de Trump foi fundamental para alavancar a vitória de Milei.

.'Febre do lítio' avança para Amazônia e afeta 21 áreas protegidas. A extração desenfreada de lítio pode agravar os conflitos socioambientais na Amazônia. Repórter Brasil.

.Os panteras negras que nunca voltaram para casa. A trajetória dos Panteras Negras se confunde com a história dos ex-militantes Charlotte e Pete O'Neal, exilados há cinco décadas na Tanzânia. Na Jacobin.

.Como a nostalgia virou tendência entre a Geração Z. Porque o passado alimenta o marketing para as novas gerações. Na DW.

.Ideologia hoje. A filósofa Marilena Chauí é a convidada do podcast da 451 para falar sobre a nova edição de seu clássico “O que é Ideologia?”.

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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.


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