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STF tem cor e gênero: são 134 anos de homens brancos no poder
Dos 18.265 magistrados que atuam no Poder Judiciário brasileiro, cerca de 2.260 são pardos e 328 são pretos. Se nosso Judiciário é majoritariamente branco, como podemos esperar avanços na luta antirracista, na justiça racial e na reparação de mais de três séculos de escravidão?
Produzido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o relatório “Justiça em Números 2024” aponta que as pessoas negras são sub-representadas nos espaços da magistratura no país, apesar de serem maioria da população. Os dados evidenciam que o número de negros no Poder Judiciário é de 14,3%, sendo 12,4% de pardos e somente 1,8% de pretos.
Esses dados alarmantes deveriam ajudar a nortear a escolha de um sucessor para a vaga do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. Com a antecipação de sua aposentadoria, retoma-se a disputa política pela próxima indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre os cotados estão o advogado-geral da União, Jorge Messias, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, e o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco — todos homens brancos.
Criado em 1891, o STF nunca teve uma mulher negra como ministra e apenas três homens negros ocuparam a Corte, sendo o último Joaquim Barbosa, aposentado em 2014. Mesmo a presença de mulheres brancas é ínfima: desde a aposentadoria de Rosa Weber, a única ministra é Cármen Lúcia. Segundo os movimentos populares, essa falta de representatividade evidencia a “baixa intensidade da democracia brasileira”.
Em entrevista ao Conexão BdF, jornal diário da Rádio Brasil de Fato, a jurista Amanda Vitorino afirmou que a saída de Barroso oferece uma oportunidade para corrigir desigualdades na composição da Corte. “É o momento histórico perfeito para conseguirmos indicar uma mulher negra no STF. Lula tem a possibilidade de trazer um legado, um marco na história”, reforçou.
Novo nome, velha democracia racial
Contrariando a reivindicação dos movimentos, Lula parece já ter seu favorito e, em termos de representatividade, a velha política deve se repetir. Messias é o grande esperado para assumir a vaga de Barroso.
Mas será que o Brasil precisa de mais um ministro branco no STF, ou de uma guinada democrática e representativa? O Fórum Justiça, a plataforma Justa e a Themis – Gênero e Justiça formalizaram a reivindicação por uma mulher negra na Corte, por ser uma “janela única” para corrigir a “constrangedora e histórica desigualdade” que marca a composição do Supremo.
Em nota pública, as organizações apresentaram uma lista com sete mulheres, parte delas negras, de perfil técnico e trajetória consolidada, ressaltando que não há escassez de nomes qualificados.
Com a saída do ministro Ricardo Lewandowski da Corte em 2023, o movimento Mulher Negra no STF ganhou força. Apesar da mobilização, Lula indicou Cristiano Zanin para a vaga. Dois anos depois, a história parece se repetir e os esforços para subverter o legado da escravidão serem, mais uma vez, escanteados.
Esperamos 122 anos da nossa República para ver uma mulher — branca — assumir a presidência do país. Já são 134 anos aguardando uma mulher negra sentar-se à cadeira da maior Corte do Brasil. Lula, que batalhou pela posse de Dilma em 2011, vai descartar facilmente a chance de dar um novo e grande passo no país?
Se o petista escolhe fechar os olhos para a possibilidade de ter uma jurista comprometida com a justiça racial no STF, o Brasil de Fato redobra seu compromisso com a luta antirracista, a democracia e a reparação. Quanto mais gente, mais forte é a nossa contracorrente.
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Marcela Reis
Supervisora de conteúdo de redes sociais