31 outubro, 2025

1º Novembro dia de todas santas e santos de Deus!

“celebramos todos os Santos, e poderíamos ter uma impressão enganadora: poderíamos pensar que estamos a celebrar as irmãs e irmãos que na vida foram perfeitos, sempre lineares, impecáveis, aliás, “engomados”. Ao contrário, o Evangelho de hoje desmente esta visão estereotipada, esta “santidade de santinho””.


Papa Francesco – Angelus 1° novembro 2022

Estimados irmãos e irmãs, feliz festa, bom dia!

Hoje, celebramos todos os Santos, e poderíamos ter uma impressão enganadora: poderíamos pensar que estamos a celebrar as irmãs e irmãos que na vida foram perfeitos, sempre lineares, impecáveis, aliás, “engomados”. Ao contrário, o Evangelho de hoje desmente esta visão estereotipada, esta “santidade de santinho”. De facto, as Bem-aventuranças de Jesus (cf. Mt 5, 1-12), que são o cartão de cidadão dos santos, mostram o oposto: falam de uma vida contra a corrente, de uma vida revolucionária! Os santos são os verdadeiros revolucionários.

Vejamos, por exemplo, uma bem-aventurança muito atual: «Bem-aventurados os pacificadores» (v. 9), e constatamos como a paz de Jesus é muito diferente do que imaginamos. Todos desejamos paz, mas muitas vezes o que queremos não é precisamente a paz, é estar em paz, ser deixados em paz, não ter problemas, mas tranquilidade. Por outro lado, Jesus não chama bem-aventurados os tranquilos, aqueles que estão em paz, mas aqueles que fazem a paz e lutam para fazer a paz, os construtores, os pacificadores. De facto, a paz tem de ser construída, e como qualquer construção requer empenho, colaboração, paciência. Gostaríamos que a paz chovesse do alto, mas a Bíblia fala da «semente da paz» (Zc 8, 12), porque germina do terreno da vida, da semente do nosso coração; cresce no silêncio, dia após dia, através de obras de justiça e misericórdia, como nos mostram as testemunhas luminosas que hoje celebramos. Somos levados a acreditar que a paz vem pela força e pelo poder: para Jesus é o oposto. A sua vida e a dos santos dizem-nos que a semente da paz, para crescer e dar fruto, deve primeiro morrer. A paz não é alcançada conquistando ou derrotando alguém, nunca é violenta, nunca está armada. Estava a ver no programa “À Sua Imagem” [programa da Tv italiana, ndr], tantos santos e santas que lutaram, que construíram a paz, mas com o trabalho, dando a própria vida, oferecendo a vida.

Como nos tornamos então pacificadores? Antes de mais, é necessário desarmar o coração. Sim, porque estamos todos equipados com pensamentos agressivos, uns contra os outros, com palavras afiadas, e pensamos estar a defender-nos com o arame farpado da queixa e os muros de cimento da indiferença; e entre queixa e indiferença defendemo-nos, mas isto não é paz, isto é guerra. A semente da paz pede-nos que desmilitarizemos o campo do coração. Como está o teu coração? Está desmilitarizado ou cheio destes sentimentos, com queixas e indiferença, com agressão? E como se desmilitariza o coração? Abrindo-nos a Jesus, que é «a nossa paz» (Ef 2, 14); permanecendo diante da sua Cruz, que é a cátedra da paz; recebendo d’Ele, na Confissão, «o perdão e a paz». Por aqui se começa, pois ser pacificadores, ser santos, não é capacidade nossa, é dom seu, é graça.

Irmãos e irmãs, olhemos para dentro de nós e perguntemo-nos: somos pacificadores? Onde vivemos, estudamos e trabalhamos, levamos tensão, palavras que magoam, tagarelices que envenenam, polémicas que dividem? Ou será que abrimos o caminho para a paz: perdoamos aqueles que nos ofendem, cuidamos dos que estão à margem, curamos alguma injustiça ajudando aqueles que têm menos? A isto chama-se construir a paz.

No entanto, pode surgir uma última questão, que se aplica a qualquer bem-aventurança: vale a pena viver desta forma? Não é de perdedor? É Jesus que nos dá a resposta: os pacificadores «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9): no mundo parecem fora de lugar, porque não cedem à lógica do poder e do prevalecer, no Céu serão os mais próximos de Deus, os mais semelhantes a Ele. Mas, na realidade, também aqui aqueles que prevaricam permanecem de mãos vazias, enquanto aqueles que amam todos e não magoam ninguém vencem: como diz o Salmo, «o homem de paz terá uma descendência» (cf. Sl 37, 37).

Que a Virgem Maria, Rainha de todos os santos, nos ajude a ser construtores de paz na vida diária.

O pranto de homens e mulheres!

 “O pranto de homens e mulheres debruçados sobre os corpos enfileirados na Praça São Lucas, na Penha, lembra as lágrimas de Maria, sobre as quais falou o Papa Francisco”. 


Uma breve oração pelos mortos no massacre no Rio de Janeiro: “Nossa Senhora da minha escuridão, que me perdoe por gostar dos des-heróis”

O Dia de Finados deste ano foi antecipado no coração dos familiares que choraram a morte daqueles que foram massacrados no confronto aberto entre as forças de segurança do Rio de Janeiro e os membros do Comando Vermelho nesta semana. Para além dos discursos governamentais insultantes, dirigidos a pais, mães, esposas, avós e filhos, chamam a atenção a dor, o desespero e as lágrimas daqueles que choram a morte dos seus pela segunda vez. A primeira foi quando os perderam para o tráfico. A segunda, quando foram abatidos pela polícia, como relatou um avô após a confirmação do assassinato do neto, criado como filho, aos 17 anos.

A morte, como disse Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, ao comentar o Evangelho deste domingo, “é sempre estranha e, com frequência, se revela incômoda”. Em massacres como este, a morte deixa sequelas abertas, que continuam se manifestando na reverberação do ódio, do ressentimento, da tristeza e da vingança. Toda morte, como observou a Nota Pública da Pastoral Carcerária Nacional, “em qualquer contexto, é uma ferida aberta no tecido social” e evidencia um traço que perpassa a história humana: “irmãos continuam matando irmãos”. A chacina do Rio, disse o sociólogo José de Cláudio Alves em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, “vai trazer um sofrimento inimaginável”.

O pranto de homens e mulheres debruçados sobre os corpos enfileirados na Praça São Lucas, na Penha, lembra as lágrimas de Maria, sobre as quais falou o Papa Francisco: “São as lágrimas de Maria, a nossa Mãe, Mãe celeste, pelos sofrimentos e as penas dos seus filhos. Maria chora pelos seus filhos que sofrem. São lágrimas que nos falam da compaixão de Deus por todos nós. Devemos pensar nisto: a compaixão de Deus. Ele, com efeito, doou a todos nós a sua Mãe, que chora as nossas mesmas lágrimas para que não nos sintamos sós nos momentos mais difíceis”.

A situação dramática em que vivem as comunidades do Rio de Janeiro hoje e o assentimento à crueldade que matou mais de 120 pessoas, nos faz refletir sobre as questões postas pelo professor José Cláudio Alves: “Que grau de desilusão e de arrependimento houve? A que tipo de violências essas pessoas são submetidas? Onde essas pessoas se quebraram? Manoel de Barros perguntava, num poema, quanto tempo uma pessoa precisa viver na miséria para que em sua boca nasça a escória. Quanto tempo essas pessoas terão que ser submetidas a isso a que elas foram submetidas nesse massacre, para que nelas nasçam o ódio, a escória, o desejo de matar o outro?”

Manoel de Barros, que aos 18 anos escreveu Nossa Senhora de minha escuridão, disse, anos mais tarde, possuir o “vício de amar as coisas jogadas fora”. Ao que acrescentou: “É por isso que eu sempre rogo pra Nossa Senhora da minha escuridão, que me perdoe por gostar dos des-heróis. Amém!”.

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Fonte: IHU
O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestra em Filosofia pela Unisinos e mestra em Teologia pela PUCRS.

Fonte da Foto: Agência Brasil

Orações Inter-religiosas Declamadas | Prece, de Elisa Guimarães

Operação no RJ não é sobre segurança pública, é apenas eleição

"Nessa gramática da força, a ausência de resultados concretos nem é tão importante. A prisão de Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como liderança do Comando Vermelho (CV), não ocorreu e ele segue foragido. A apreensão de drogas, armas, celulares e dinheiro foi irrisória. Mas a mensagem vale mais do que o resultado da ação."

O que segue a baixo, é newsletter, recebido em meu e-mail, do "Brasil de Fato (31/10/2025)

Operação no RJ não é sobre segurança pública, é apenas eleição

A imagem de Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro, sorridente ao lado de aliados, após a operação policial que resultou em 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, na capital fluminense, sintetiza uma patologia recorrente da política brasileira: a conversão da violência em ativo eleitoral. Em tempos de esvaziamento programático e descrédito das instituições, a violência se tornou uma forma de comunicação direta com parcelas do eleitorado.

A operação termina como êxito simbólico para o governador, uma membrana fina de prestígio com uma parte da sociedade, que são os conservadores de extrema direita. Esse êxito não chega pela eficácia policial, mas pela mensagem política: o Estado mostrou poder. Nessa gramática da força, a ausência de resultados concretos nem é tão importante. A prisão de Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como liderança do Comando Vermelho (CV), não ocorreu e ele segue foragido. A apreensão de drogas, armas, celulares e dinheiro foi irrisória. Mas a mensagem vale mais do que o resultado da ação.

Castro inscreve-se, assim, numa linhagem de governantes que, diante da perda de protagonismo político, recorrem à violência institucional como forma de reafirmar autoridade. Seu par, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), quando estava imerso em conflitos com o bolsonarismo e perdendo capilaridade, lançou mão da Operação Escudo, que barbarizou a rotina dos moradores do litoral paulista. É a política como espetáculo e banalizada.

Alijado da disputa nacional pela própria extrema direita, que hoje privilegia nomes como os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (UB-GO) e próprio Freitas, Castro busca preservar capital eleitoral no Rio de Janeiro, mirando uma vaga no Senado em 2026. As pesquisas o colocam atrás de figuras mais estruturadas politicamente, como o senador Flávio Bolsonaro (PL) e a deputada federal Benedita da Silva (PT). A operação, portanto, cumpre o papel de reposicionar o governador no noticiário, devolver-lhe visibilidade e realinhar sua imagem com o eleitorado conservador fluminense.

Há, contudo, um risco estrutural nesse tipo de estratégia. A operação expõe a ausência de políticas públicas integradas de segurança e o esgotamento do modelo repressivo que o Rio de Janeiro repete há décadas. A insistência nesse caminho não gera estabilidade, apenas reitera o ciclo da violência: cada incursão amplia a desconfiança, aprofunda o abismo entre Estado e periferia e adia qualquer possibilidade de reforma duradoura.

Faltando um ano para a eleição, Castro levou sua tropa às ruas do Rio de Janeiro em busca de visibilidade e sobrevida política. A operação devolveu-lhe o protagonismo perdido, arrastando para o noticiário nacional e para o debate partidário a velha dicotomia brasileira entre “apoio irrestrito à polícia” e “defesa dos direitos humanos”. Desde terça-feira (28), a classe política foi constrangida a se posicionar: aplaudir o governador ou denunciá-lo. Esse era, desde o início, o verdadeiro objetivo.

O episódio ecoa, inclusive, o delírio recente de Flávio que, poucos dias antes, sugeriu que os Estados Unidos bombardeassem a costa brasileira, especialmente o Rio, sob o pretexto de combater o narcotráfico. O gesto não é apenas retórico: é o reflexo de uma cultura política que se inspira na lógica militarista do presidente estadunidense, Donald Trump.

Nesse ambiente, Castro tenta se projetar como herdeiro local dessa estética da brutalidade, convertendo 121 mortos em símbolo de autoridade. Sua estratégia é transparente: falar ao eleitorado que deseja ver sangue, não soluções.

A operação no Alemão e na Penha, portanto, não foi apenas uma incursão policial. Foi um ato de campanha. Um movimento calculado dentro da lógica de sobrevivência política de um governador que estava isolado.

Em última instância, esta operação não é sobre segurança pública, é a eleição e nada mais. Muitos veículos podem fechar os olhos para a realidade bem clara à nossa frente, mas o Brasil de Fato segue atento e comprometido com a verdade: denunciamos os responsáveis sem medo de cobrar justiça e reparação. Junte-se a nós!

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Igor Carvalho
Supervisor de jornalismo