31 outubro, 2025

Operação no RJ não é sobre segurança pública, é apenas eleição

"Nessa gramática da força, a ausência de resultados concretos nem é tão importante. A prisão de Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como liderança do Comando Vermelho (CV), não ocorreu e ele segue foragido. A apreensão de drogas, armas, celulares e dinheiro foi irrisória. Mas a mensagem vale mais do que o resultado da ação."

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Operação no RJ não é sobre segurança pública, é apenas eleição

A imagem de Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro, sorridente ao lado de aliados, após a operação policial que resultou em 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, na capital fluminense, sintetiza uma patologia recorrente da política brasileira: a conversão da violência em ativo eleitoral. Em tempos de esvaziamento programático e descrédito das instituições, a violência se tornou uma forma de comunicação direta com parcelas do eleitorado.

A operação termina como êxito simbólico para o governador, uma membrana fina de prestígio com uma parte da sociedade, que são os conservadores de extrema direita. Esse êxito não chega pela eficácia policial, mas pela mensagem política: o Estado mostrou poder. Nessa gramática da força, a ausência de resultados concretos nem é tão importante. A prisão de Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como liderança do Comando Vermelho (CV), não ocorreu e ele segue foragido. A apreensão de drogas, armas, celulares e dinheiro foi irrisória. Mas a mensagem vale mais do que o resultado da ação.

Castro inscreve-se, assim, numa linhagem de governantes que, diante da perda de protagonismo político, recorrem à violência institucional como forma de reafirmar autoridade. Seu par, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), quando estava imerso em conflitos com o bolsonarismo e perdendo capilaridade, lançou mão da Operação Escudo, que barbarizou a rotina dos moradores do litoral paulista. É a política como espetáculo e banalizada.

Alijado da disputa nacional pela própria extrema direita, que hoje privilegia nomes como os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (UB-GO) e próprio Freitas, Castro busca preservar capital eleitoral no Rio de Janeiro, mirando uma vaga no Senado em 2026. As pesquisas o colocam atrás de figuras mais estruturadas politicamente, como o senador Flávio Bolsonaro (PL) e a deputada federal Benedita da Silva (PT). A operação, portanto, cumpre o papel de reposicionar o governador no noticiário, devolver-lhe visibilidade e realinhar sua imagem com o eleitorado conservador fluminense.

Há, contudo, um risco estrutural nesse tipo de estratégia. A operação expõe a ausência de políticas públicas integradas de segurança e o esgotamento do modelo repressivo que o Rio de Janeiro repete há décadas. A insistência nesse caminho não gera estabilidade, apenas reitera o ciclo da violência: cada incursão amplia a desconfiança, aprofunda o abismo entre Estado e periferia e adia qualquer possibilidade de reforma duradoura.

Faltando um ano para a eleição, Castro levou sua tropa às ruas do Rio de Janeiro em busca de visibilidade e sobrevida política. A operação devolveu-lhe o protagonismo perdido, arrastando para o noticiário nacional e para o debate partidário a velha dicotomia brasileira entre “apoio irrestrito à polícia” e “defesa dos direitos humanos”. Desde terça-feira (28), a classe política foi constrangida a se posicionar: aplaudir o governador ou denunciá-lo. Esse era, desde o início, o verdadeiro objetivo.

O episódio ecoa, inclusive, o delírio recente de Flávio que, poucos dias antes, sugeriu que os Estados Unidos bombardeassem a costa brasileira, especialmente o Rio, sob o pretexto de combater o narcotráfico. O gesto não é apenas retórico: é o reflexo de uma cultura política que se inspira na lógica militarista do presidente estadunidense, Donald Trump.

Nesse ambiente, Castro tenta se projetar como herdeiro local dessa estética da brutalidade, convertendo 121 mortos em símbolo de autoridade. Sua estratégia é transparente: falar ao eleitorado que deseja ver sangue, não soluções.

A operação no Alemão e na Penha, portanto, não foi apenas uma incursão policial. Foi um ato de campanha. Um movimento calculado dentro da lógica de sobrevivência política de um governador que estava isolado.

Em última instância, esta operação não é sobre segurança pública, é a eleição e nada mais. Muitos veículos podem fechar os olhos para a realidade bem clara à nossa frente, mas o Brasil de Fato segue atento e comprometido com a verdade: denunciamos os responsáveis sem medo de cobrar justiça e reparação. Junte-se a nós!

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Igor Carvalho
Supervisor de jornalismo


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