30 outubro, 2025

O papel da Igreja onde há tensão entre moradores e facções ou entre moradores e polícia.

Em favelas onde há tensão entre moradores e facções ou entre moradores e polícia, a Igreja tem papel de ponte: dialogar com a comunidade, dar voz aos invisibilizados, e exigir transparência e proteção para civis.

Temos com angustia acompanhado a megaoperação policial realizada na última terça-feira, 28 de outubro de 2025, em Complexo do Alemão e Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, que resultou em centenas de mortos. (Já que os relatórios dão números que variam de 60 até mais de 130 mortos e muitos feridos/incertos.)

"Só quero tirar meu filho daqui e enterrá-lo", disse Taua Brito, mãe de uma das vítimas.

A Igreja pode ser ponte de apoio para pessoas afetadas: famílias que perderam entes-queridos, moradores que ficaram assustados, crianças que ouviram tiroteios — a Igreja pode oferecer acolhimento, oração, presença.

A Igreja precisa também ser profética, não se calar e ser voz que clama pelo fim da violência, insistir no valor da vida, contribuir para que a justiça e a segurança pública funcionem e que as operações respeitem direitos humanos e comunidades vulneráveis.

Importante a convocação para a oração, mas é preciso convocar para agir: visitar comunidades, colaborar com serviços locais (educação, lazer para crianças, adolescentes, jovens e idosos, apoio psicológico), se possível participar de iniciativas de reconstrução pós-trauma.

Como cristãs e cristãos, valorizamos que o Estado atue para proteger pessoas vulneráveis, e que crimes graves: tráfico, coação, violência organizada, sejam enfrentados. A ação policial parece ter sido orientada para conter o avanço da facção Comando Vermelho, que domina partes das favelas e impõe terror.

A operação policial realizada (...), foi marcada por execuções e torturas e classificada como carnificina por moradores, parentes dos mortos e pela Associação de Moradores do Parque Proletário da Penha. (Agência Brasil)

Cada vida humana é digna, inclusive de quem errou. O Evangelho fala de misericórdia e arrependimento (Lc 15; Mc 2,17). Quando há grande número de mortes e questionamentos sobre “quem resistiu” ou se foram execuções sumárias, isso assusta, isso preocupa. Toda ação deve respeitar o devido processo, transparência, direitos humanos. Organizações de direitos humanos pediram investigação.

Muitas famílias em favelas vivem situação vulnerável. A igreja tem o dever de “levar o jugo suave”. Se a operação também gerou o trauma, o medo ou a dor de inocentes, isso exige aproximação para amar e cuidar.

Limitar-se a combate armado sem pensar em educação, saúde, reintegração, pode perpetuar ciclos de violência. Há reflexões de especialistas dizendo que operações bombas não resolvem o problema da organização criminosa em si.

A operação revela a urgência de enfrentar o crime organizado, algo que a fé cristã reconhece como mal que prejudica vidas. Porém, a forma como isso é feito importa imensamente: a dignidade humana, o processo justo, o cuidado com vulneráveis, e a construção de alternativas pacíficas também fazem parte do caminho de Cristo. Portanto, como cristãs e cristãos, somos chamados a reconhecer a proteção da comunidade, mas também a criticar com respeito quando os meios usam de violência desproporcional ou negligenciam os mais frágeis, e contribuir na criação de mecanismos, de processos em favor da construção da paz e da justiça.

Eu, Lucimar Moreira Bueno (Lúcia)

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