O relatório do Centro de Pesquisa para uma Cultura de Paz da Universidade Autônoma de Barcelona destaca um aumento generalizado de tensões internacionais e guerras no mundo inteiro, com um número crescente de mortes e violações generalizadas de direitos humanos. No entanto, há vislumbres de paz nos quais a comunidade internacional deve investir. A preocupação, contudo, envolve a mudança militarista da União Europeia e seu plano de rearmamento de € 800 bilhões
O relatório anual sobre conflitos, direitos humanos e oportunidades para a paz, feito pelo Centro de Pesquisa para uma Cultura de Paz da Universidade Autônoma de Barcelona, registra um aumento sem precedentes de guerras globais nos últimos 12 anos. O documento, baseado em dados divulgados pelas principais agências e organizações internacionais, analisa o estado global dos conflitos armados, tensões sociopolíticas e iniciativas de construção da paz, destacando tendências, riscos e oportunidades para a paz no futuro. Em 2024, o número de conflitos armados aumentou para 37, em comparação com 36 em 2023. A maioria dos conflitos concentra-se na África (17), seguida pela Ásia e Pacífico (10), Oriente Médio (6), Europa (2) e América (2). Dois contextos degeneraram de crise sociopolítica para conflito armado devido ao alto número de vítimas e tiroteios: Haiti e Papua Ocidental, enquanto a Guerra do Sinai, no Egito, deixou de ser considerada como tal.
Aumento de violência e mortes
Cinquenta e sete por cento dos conflitos armados foram de alta intensidade, resultando em graves perdas humanas e impactos na segurança. Além disso, 60% dos conflitos apresentaram aumento da violência em comparação aos anos anteriores. As principais causas incluem a rejeição do sistema político, econômico ou social do Estado (73%), questões de identidade e demandas por autogoverno (59%) e controle de recursos e territórios (46%).
Mulheres na mira
O relatório também destaca os graves impactos de gênero nos conflitos. Em 2024, 79% dos conflitos de alta intensidade ocorreram em países com baixos níveis de igualdade de gênero. Além disso, os casos de violência sexual relacionada a conflitos aumentaram 50% em 2023, com mulheres e meninas representando 95% das vítimas.
Tensões sociopolíticas
As crises sociopolíticas aumentaram, atingindo 116 casos em 2024, com a maioria na África (38) e na Ásia e Pacífico (31). Trinta e oito por cento dessas crises se agravaram em relação a 2023, enquanto apenas 21% apresentaram redução nas tensões. As principais causas incluem oposição às políticas governamentais (77%), questões de identidade (30%) e controle de recursos e territórios (35%).
A paz é possível
Apesar da situação crítica, o relatório identifica cinco oportunidades para a paz: as negociações entre a República Democrática do Congo e Ruanda, a transição política em Bangladesh, o diálogo sobre autonomia em Bougainville, o processo de paz entre a Turquia e o PKK e a esperança de uma nova era pós-Assad na Síria. No entanto, quatro cenários de risco também emergem: a guerra civil no Sudão, as tensões entre a Índia e o Paquistão, o confronto entre a China e Taiwan e a militarização da União Europeia
A Europa em risco
A União Europeia e seus Estados-membros lançaram um plano de rearmamento massivo – observa o Relatório – com um compromisso financeiro superior a € 800 bilhões ao longo de quatro anos. O plano europeu parece priorizar o setor militar principal para lidar com as atuais tensões geopolíticas, em detrimento de vias não militares para a própria segurança. O Plano surge na sequência do aumento dos gastos militares globais e da pressão da Otan por maiores compromissos financeiros dos Estados-membros. Não por último, o Relatório destaca a capacidade da indústria de armamentos de influenciar o poder político como um dos fatores que impulsionam a Europa rumo ao rearmamento.
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Fonte: Vatican News
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