07 outubro, 2025

O que restará sob os escombros de Gaza?

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O que restará sob os escombros de Gaza?

Hoje, 7 de outubro de 2025, completam-se dois anos do genocídio em Gaza. Dois anos de ataques constantes, sistemáticos e criminosos contra um povo cercado, mas não vencido. Dois anos que se somam a décadas de resistência e sofrimento. Em 1948, quando a ONU reconheceu o Estado de Israel e dividiu a Palestina entre árabes e judeus, marcou o que os palestinos chamam de Nakba, palavra árabe que significa catástrofe, desastre.

Passaram-se 77 anos, e a catástrofe segue em curso. O cerco, o deslocamento forçado, a limpeza étnica, as prisões arbitrárias, torturas e as demolições sistemáticas. O bloqueio imposto a Gaza desde 2007 transformou a região em uma prisão a céu aberto — e, desde 2023, tornou-se um campo de extermínio televisionado, assistido em tempo real, comentado, compartilhado, mas não interrompido. O que mais é preciso para cessar essas violações?

O Brasil de Fato acompanha essa cobertura desde o início, com o compromisso de nomear o que tantos tentam suavizar. Chamamos de genocídio porque é o que é. Enquanto a mídia comercial e ocidental insiste em justificar o indefensável, relativizar as mortes palestinas, dramatizar as israelenses e, sobretudo, omitir as causas, nós reafirmamos nossa escolha por um jornalismo comprometido com a verdade e com os povos do mundo.

Mais um ano de cobertura, e não há celebração. Mais um ano de violações, fome e desespero. Mais um ano também de resistência, de Flotilhas que insistem em romper o bloqueio, como a mais recente, interceptada e sequestrada em águas internacionais — médicos, jornalistas, ativistas e toneladas de ajuda humanitária impedidos de chegar a um povo. Mais um ano de vetos vergonhosos, como o dado pelos Estados Unidos na ONU, impedindo novamente uma resolução que exige cessar-fogo imediato. É de dilacerar o coração — de quem o tem.

O mundo vê. As explosões em Gaza são ouvidas, filmadas, transmitidas. O que falta não é informação. É vontade política, compromisso ético e humano. As imagens percorrem as telas — crianças famintas, corpos sob escombros, hospitais colapsados — e ainda há quem se recuse a chamar de crime o que é evidente.

Como alguém pode não se sensibilizar? Não se importar? Justificar tamanha barbárie? Tudo se resume às narrativas — as mesmas que sustentam ocupações, naturalizam massacres e apagam povos ao longo de séculos. E é contra essas narrativas que o jornalismo deve se opor.

O que restará sob os escombros de Gaza? Além dos corpos desaparecidos, carteiras escolares partidas ao meio; estetoscópios que um dia salvaram vidas; ferramentas que ergueram lares; brinquedos, roupas de bailarinas e fantasias infantis; câmeras de jornalistas — milhões de sonhos e futuros interrompidos. E comprometidos por essa dura realidade de perder pais, filhas, amigos, companheiros e companheiras.

Quando os sonhos morrem, que sentimentos ocupam seu lugar? Raiva. Indignação. Um desejo profundo de justiça. Esperar que a história termine quando o último prédio for demolido é não compreender o que move a luta palestina. Porque sob os escombros há raízes, e raízes não se extinguem — se espalham.

E oscilando entre uma realidade brutal e o otimismo na luta dos povos, afirmo: sob os escombros, resta o povo. Resta a dignidade que nenhum míssil consegue destruir. Resta a solidariedade internacional, que não será silenciada. Resta a responsabilidade de não calar. Resta o dever de nomear o crime e de escolher um lado — o da vida. O da luta. O da mudança.

Gaza não está só. Assim como Cuba, como Venezuela, como todos os povos que enfrentam bloqueios, sabotagens e invasões, Gaza é parte do todo. Faz parte de um mundo em disputa. E nós estamos na arena.

Sob os escombros, nascerão novas sementes. E quando o sol romper novamente o horizonte sobre Gaza, haverá de nascer um novo tempo — porque nenhum império dura para sempre, e nenhum povo resiste sozinho. Não será fácil, nem indolor. Mas seguimos juntos. Enquanto Brasil de Fato e enquanto humanos, que não fecham os olhos para a barbárie. Apoie nosso trabalho e venha conosco nesta luta.

Porque enquanto houver luta, haverá Palestina. Enquanto houver vida, haverá esperança. Do rio ao mar, a Palestina será livre.


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Nina Fideles

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