19 novembro, 2024

Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra

Feriado nacional 20 de novembro
Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra

A Consciência Negra evidencia na atualidade o que ainda existe, a desigualdade, a violência, o preconceito e o racismo, más é sim dia de celebração, fazer memória para celebrar a data que é fruto da luta do povo negro que levou a morte o grande líder Zumbi dos Palmares.

É sabido da contribuição significativa e sofrida dada pelos afro-brasileiros na construção e na identidade deste país. Seus antepassados foram forçados a virem para o Brasil e sofreram o flagelo da escravidão. As marcas da escravidão ainda existem, porque não foram dadas as essas mulheres e homens nenhuma condições de vida digna. Recordar a história, denunciar essa desumanidade é tomar consciência da dívida para com o povo negro.

Vamos celebrar o feriado nacional Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, com a consciência que há um longo caminho que ainda precisamos percorrer em direção a uma sociedade mais igualitária e inclusiva.



A Lei Nº 14.759, de 21 de dezembro de 2023, declara feriado nacional o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.


Segue a lei


Lei Nº 14.759, de 21 de dezembro de 2023

Declara feriado nacional o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica declarado feriado nacional o dia 20 de novembro, para a celebração do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 21 de dezembro de 2023; 202º da Independência e 135º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Silvio Luiz de Almeida
Anielle Francisco da Silva

18 novembro, 2024

Olhamos nos olhos e tocamos as mãos de quem ajudamos?


Olhamos nos olhos e tocamos as mãos de quem ajudamos?
“com nossa proximidade cristã, com a nossa fraternidade cristã”.
“Você toca as mãos das pessoas ou joga a moeda sem tocá-las? Você olha nos olhos a pessoa que ajuda ou desvia o olhar?”.
(Papa Francisco)


14 novembro, 2024

Proclamação da República

Rezemos juntos,

Senhor, muitos valores deixados de lados, não há cuidado para com todas e todos e de tudo, vemos o descuido para com a república, Tu que nos mostrou o caminho da justiça, solidariedade e paz, nos ilumine e nos fortaleça no caminho da construção de um Estado Social de Direito democrático e participativo.


Celebramos nesta sexta-feira (15), a Proclamação da República, ocorrido em 15 de novembro de 1889 na Praça da Aclamação (atual Praça da República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil. A República foi resultado de um movimento articulado entre exército e civis insatisfeitos com a monarquia, que vigorava no País desde 1822. Liderados pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca, destituiu o imperador e assumiu o poder no país, encerrando a monarquia constitucional parlamentarista do Império, instituindo um governo provisório republicano, que se tornaria a Primeira República Brasileira. A família real partiu em exílio para a Europa. É feriado nacional desde 1949, segundo a Lei Federal 662, do presidente Eurico Gaspar Dutra. Em 2002, foi revogada pela Lei n.º 10.607/02, que passou a regular os feriados nacionais. Com a Proclamação da República, marechal Deodoro da Fonseca assumiu como primeiro presidente do Brasil. O país se tornou um Estado laico e o presidencialismo tornou-se o sistema de governo. A organização da república tomou forma quando foi promulgada uma nova Constituição no ano de 1889.


Mensagem do Santo Padre Francisco para o VIII Dia Mundial dos Pobres

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA O VIII DIA MUNDIAL DOS POBRES
XXXIII Domingo do Tempo Comum
17 de novembro de 2024


A oração do pobre eleva-se até Deus (cf. Sir 21, 5)

Caros irmãos e irmãs!

1. A oração do pobre eleva-se até Deus (cf. Sir 21, 5). No ano dedicado à oração, em vista do Jubileu Ordinário de 2025, esta expressão da sabedoria bíblica é ainda mais oportuna a fim de nos preparar para o VIII Dia Mundial dos Pobres, que acontecerá no próximo 17 de novembro. A esperança cristã inclui também a certeza de que a nossa oração chega à presença de Deus; não uma oração qualquer, mas a oração do pobre. Reflitamos sobre esta Palavra e “leiamo-la” nos rostos e nas histórias dos pobres que encontramos no nosso dia-a-dia, para que a oração se torne um modo de comunhão com eles e de partilha do seu sofrimento.

2. O livro de Ben-Sirá, ao qual nos referimos, não é muito conhecido e merece ser descoberto pela riqueza dos temas que aborda, sobretudo quando se refere à relação do homem com Deus e com o mundo. O seu autor, Ben-Sirá, é um mestre, um escriba de Jerusalém que, provavelmente, escreve no século II a.C. Radicado na tradição de Israel, é um homem sábio, que ensina sobre vários domínios da vida humana: desde o trabalho à família, desde a vida em sociedade à educação dos jovens; presta atenção às questões relacionadas com a fé em Deus e a observância da Lei. Aborda os problemas nada fáceis da liberdade, do mal e da justiça divina, que hoje são de grande atualidade também para nós. Inspirado pelo Espírito Santo, Ben-Sirá pretende transmitir a todos o caminho a seguir para uma vida sábia e digna de ser vivida diante de Deus e dos irmãos.

3. Um dos temas a que este autor sagrado dedica mais espaço é a oração, e fá-lo com grande ardor, porque dá voz à sua própria experiência pessoal. Efetivamente, nenhum texto sobre a oração poderia ser eficaz e fecundo se não partisse de quem se encontra diariamente na presença de Deus e escuta a sua Palavra. Ben-Sirá declara que, desde a sua juventude, procurou a sabedoria: «Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado, busquei abertamente a sabedoria na oração» (Sir 51, 13).

4. No seu caminho, descobre uma das realidades fundamentais da revelação, ou seja, o facto de os pobres terem um lugar privilegiado no coração de Deus, a tal ponto que, perante o seu sofrimento, Deus se “impacienta” enquanto não lhes faz justiça: «A oração do humilde penetrará as nuvens, e não se consolará, enquanto ela não chegar até Deus. Ele não se afastará, enquanto o Altíssimo não olhar, não fizer justiça aos justos e restabelecer a equidade. O Senhor não tardará nem terá paciência com os opressores» (Sir 35, 17-19). Deus, porque é um Pai atento e carinhoso para com todos, conhece os sofrimentos dos seus filhos. Como Pai, preocupa-se com aqueles que mais precisam dele: os pobres, os marginalizados, os que sofrem, os esquecidos... Ninguém está excluído do seu coração, uma vez que, diante d’Ele, todos somos pobres e necessitados. Somos todos mendigos, pois sem Deus não seríamos nada. Nem sequer teríamos vida se Deus não no-la tivesse dado. E, no entanto, quantas vezes vivemos como se fôssemos os donos da vida ou como se tivéssemos de a conquistar! A mentalidade mundana pede que sejamos alguém, que nos tornemos famosos independentemente de tudo e de todos, quebrando as regras sociais para alcançar a riqueza. Que triste ilusão! A felicidade não se adquire espezinhando os direitos e a dignidade dos outros.

A violência causada pelas guerras mostra claramente quanta arrogância move aqueles que se consideram poderosos aos olhos dos homens, enquanto aos olhos de Deus são miseráveis. Quantos novos pobres produz esta má política das armas, quantas vítimas inocentes! Contudo, não podemos recuar. Os discípulos do Senhor sabem que cada um destes “pequeninos” traz gravado em si o rosto do Filho de Deus, e que a nossa solidariedade e o sinal da caridade cristã devem chegar até eles. «Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade; isto supõe estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 187).

5. Neste ano dedicado à oração, precisamos de fazer nossa a oração dos pobres e rezar com eles. É um desafio que temos de aceitar e uma ação pastoral que precisa de ser alimentada. Com efeito, «a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária» (ibid., 200).

Tudo isto requer um coração humilde, que tenha a coragem de se tornar mendigo. Um coração pronto a reconhecer-se pobre e necessitado. Existe, efetivamente, uma correspondência entre pobreza, humildade e confiança. O verdadeiro pobre é o humilde, como afirmava o santo bispo Agostinho: «O pobre não tem de que se orgulhar, o rico tem o orgulho para combater. Portanto, escuta-me: sê um verdadeiro pobre, sê virtuoso, sê humilde» (Discursos, 14, 4). O homem humilde não tem nada de que se vangloriar nem nada a reclamar, sabe que não pode contar consigo próprio, mas acredita firmemente que pode recorrer ao amor misericordioso de Deus, diante do qual se encontra como o filho pródigo que regressa a casa arrependido para receber o abraço do pai (cf. Lc 15, 11-24). O pobre, sem nada em que se apoiar, recebe a força de Deus e coloca n’Ele toda a sua confiança. Com efeito, a humildade gera a confiança de que Deus nunca nos abandonará e não nos deixará sem resposta.

6. Aos pobres que habitam as nossas cidades e fazem parte das nossas comunidades, recomendo que não percam esta certeza: Deus está atento a cada um de vós e está perto de vós. Ele não se esquece de vós, nem nunca o poderia fazer. Todos nós fazemos orações que parecem não ter resposta. Por vezes, pedimos para sermos libertados de uma miséria que nos faz sofrer e nos humilha, e Deus parece não ouvir a nossa invocação. Mas o silêncio de Deus não significa distração face ao nosso sofrimento; pelo contrário, contém uma palavra que pede para ser acolhida com confiança, abandonando-nos a Ele e à sua vontade. É ainda Ben-Sirá que o testemunha: “O juízo de Deus será em favor dos pobres” (cf. 21, 5). Da pobreza, portanto, pode brotar o canto da mais genuína esperança. Lembremo-nos de que «quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. […] Esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2).

7. O Dia Mundial dos Pobres tornou-se um compromisso na agenda de cada comunidade eclesial. É uma oportunidade pastoral que não deve ser subestimada, porque desafia cada fiel a escutar a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades. É uma ocasião propícia para realizar iniciativas que ajudem concretamente os pobres, e também para reconhecer e apoiar os numerosos voluntários que se dedicam com paixão aos mais necessitados. Devemos agradecer ao Senhor pelas pessoas que se disponibilizam para escutar e apoiar os mais pobres: sacerdotes, pessoas consagradas e leigos que, com o seu testemunho, são a voz da resposta de Deus às orações daqueles que a Ele recorrem. Portanto, o silêncio quebra-se sempre que se acolhe e abraça um irmão necessitado. Os pobres têm ainda muito para ensinar, porque numa cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que sacrifica muitas vezes a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, eles remam contra a corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa.

A oração, por conseguinte, encontra o certificado da sua autenticidade na caridade que se transforma em encontro e proximidade. Se a oração não se traduz em ações concretas, é vã; efetivamente, «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26). Contudo, a caridade sem oração corre o risco de se tornar uma filantropia que rapidamente se esgota. «Sem a oração quotidiana, vivida com fidelidade, o nosso fazer esvazia-se, perde a alma profunda, reduz-se a um simples ativismo» (BENTO XVI, Catequese, 25 de abril de 2012). Devemos evitar esta tentação e estar sempre vigilantes com a força e a perseverança que nos vem do Espírito Santo, que é dador de vida.

8. Neste contexto, é bom recordar o testemunho que nos deixou Madre Teresa de Calcutá, uma mulher que deu a vida pelos pobres. Esta santa repetia continuamente que a oração era o lugar donde tirava força e fé para a sua missão de serviço aos últimos. Quando falou na Assembleia Geral da ONU, a 26 de outubro de 1985, mostrando a todos as contas do terço que trazia sempre na mão, disse: «Sou apenas uma pobre freira que reza. Ao rezar, Jesus põe o seu amor no meu coração e eu vou dá-lo a todos os pobres que encontro no meu caminho. Rezai vós também! Rezai, e sereis capazes de ver os pobres que tendes ao vosso lado. Talvez no mesmo andar da vossa casa. Talvez até nas vossas próprias casas há quem espera pelo vosso amor. Rezai, e abrir-se-ão os vossos olhos e encher-se-á de amor o vosso coração».

E como não recordar aqui, na cidade de Roma, São Bento José Labre (1748-1783), cujo corpo jaz e é venerado na igreja paroquial de Santa Maria ai Monti. Peregrino desde França até Roma, rejeitado em muitos mosteiros, viveu os seus últimos anos pobre entre os pobres, passando horas e horas em oração diante do Santíssimo Sacramento, com o terço, recitando o breviário, lendo o Novo Testamento e a Imitação de Cristo. Não tendo sequer um pequeno quarto para se alojar, dormia habitualmente num canto das ruínas do Coliseu, como “vagabundo de Deus”, fazendo da sua existência uma oração incessante que subia até Ele.

9. No caminho para o Ano Santo, exorto todos a fazerem-se peregrinos da esperança, dando sinais concretos de um futuro melhor. Não nos esqueçamos de guardar «os pequenos detalhes do amor» (Exort. ap. Gaudete et Exsultate, 145): parar, aproximar-se, dar um pouco de atenção, um sorriso, uma carícia, uma palavra de conforto... Estes gestos não podem ser improvisados; antes, exigem uma fidelidade quotidiana, muitas vezes escondida e silenciosa, mas fortalecida pela oração. Neste momento, em que o canto da esperança parece dar lugar ao ruído das armas, ao grito de tantos inocentes feridos e ao silêncio das inúmeras vítimas das guerras, dirijamos a Deus a nossa invocação de paz. Somos pobres de paz e, para a acolher como um dom precioso, estendemos as mãos, ao mesmo tempo que nos esforçamos por costurá-la no dia-a-dia.

10. Em todas as circunstâncias, somos chamados a ser amigos dos pobres, seguindo os passos de Jesus, que foi o primeiro a solidarizar-se com os últimos. Que a Santa Mãe de Deus, Maria Santíssima, nos sustente neste caminho; ela que, aparecendo em Banneux, nos deixou uma mensagem a não esquecer: «Eu sou a Virgem dos pobres». A ela, a quem Deus olhou pela sua humilde pobreza e em quem realizou grandes coisas com a sua obediência, confiemos a nossa oração, convictos de que subirá até ao céu e será ouvida.

Roma – São João de Latrão, na Memória de Santo António, Patrono dos pobres, 13 de junho de 2024.

FRANCISCO

- Jornada Mundial dos Pobres - VIII Dia Mundial dos Pobres


 

Oitava edição da Jornada Mundial dos Pobres!

A informação é publicada por Religión Digital, 12-11-2024.

A oitava edição da Jornada Mundial dos Pobres será celebrada no domingo, 17-11-2024. A iniciativa, proposta pela primeira vez em 2017, foi fortemente desejada pelo Papa Francisco para incentivar a Igreja a sair de seus muros para encontrar a pobreza nos múltiplos significados em que se manifesta no mundo de hoje.

Este ano, com vistas ao início do Jubileu Ordinário de 2025, o Papa escolheu como lema o trecho do Livro do Eclesiástico: "A oração dos pobres se eleva a Deus" (cf. Eclesiástico 21,5). Essa expressão, que vem do antigo autor sagrado Ben Sira, torna-se imediata e facilmente compreensível. O Papa reitera que os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus, que está atento e próximo de cada um deles. Deus ouve as orações dos pobres e, diante do sofrimento, se torna "impaciente" até fazer-lhes justiça. De fato, o Livro do Eclesiástico ainda atesta que "o julgamento de Deus será a favor dos pobres" (ver 21,5).


13 novembro, 2024

Palestina: o horror em primeira pessoa. Artigo de Bernardo Gutiérrez

Atef não hesita em descrever a guerra em Gaza como genocídio. “Até que ponto a guerra deve ser assimétrica para deixar de ser guerra. É apenas um massacre”, escreve ele. Ele acusa Israel, com o seu “exército selvagem e sangrento”, de limpeza étnica e terrorismo de Estado. “O genocídio, como nunca me canso de explicar aos europeus, não significa que se mata todo mundo, mas que se tem a intenção de o fazer. De acordo com o direito internacional, o genocídio impede a entrada de alimentos e medicamentos. Recordemos que no terceiro dia de ocupação, quando o norte de Gaza estava sendo evacuado, um ministro israelense disse que queriam construir ali um parque de diversões, uma espécie de Disneylândia para fazer churrascos. Eles ainda não tiraram essa ideia da cabeça”, sustenta Atef.


O artigo é de Bernardo Gutiérrez publicado por CTXT e reproduzida por Outras Palavras, 12-11-2024. A tradução é de Rôney Rodrigues.
Eis o artigo.


Escritor palestino, que se salvou do massacre, narra uma Gaza destroçada: corpos insepultos, fome e sinfonias de bomba. E a tentativa de matar a memória de seu povo, com o bombardeio irracional de bibliotecas, museus e templos milenares.

Em 7 de outubro de 2023, enquanto Atef Abu Saif nadava no Mar Mediterrâneo, ele notou foguetes e explosões soando em todas as direções. Ele havia dormido na casa de sua irmã Halima, em Beit Lahia, na Faixa de Gaza. Ele interpretou os foguetes como manobras de treinamento do exército israelense. Suas companhias – o cunhado, o irmão e o filho Yasser, de 15 anos, que tinha decidido viajar da Cisjordânia para visitar os avós – não demoraram muito para perceber que algo grave estava acontecendo. Saíram da praia de carro em direção à cidade de Gaza. Poucas horas depois de chegar à Casa de Imprensa, Atef já sabe que uma guerra brutal fora desencadeada. Começa a escrever. “Narrava os acontecimentos e fazia crônicas para mim mesmo, pensando que um dia, como romancista, usaria o material. Eu não queria escrever um livro. Mas uma semana depois do início da guerra, percebi que poderia morrer”, assegura o escritor, em entrevista concedida ao CTXT durante a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), no Rio de Janeiro.

Atef Abu Saif – autor de cinco romances, dois livros de contos e dois de ensaios – propôs-se a registar compulsivamente a ferocidade do ataque israelense contra a população civil. Escrevia no computador, no celular. Gravava mensagens em árabe e inglês que enviava aos seus editores. Às vezes, caminhava três quilômetros até conseguir wi-fi num posto da Cruz Vermelha. Outras vezes, arriscava aproximar-se dos tanques israelenses para captar um sinal, “algo perigoso” que tinha de fazer por causa da sua “responsabilidade como escritor”. “Os meios de comunicação ingleses e árabes não me deram muito espaço. Então, resolvi anotar tudo. A cidade de Gaza estava sendo assassinada e com ela a nossa memória. Disse a mim mesmo, se eu morrer, quero ser lembrado. Senti que poderia morrer a qualquer momento”, diz Atef.

Até cruzar a fronteira egípcia com seu filho Yasser para retornar à sua casa na Cisjordânia, Atef escreveu diariamente durante noventa dias. O resultado é Quero estar acordado quando morrer. Diário de um Genocídio, livro de caráter urgente lançado por uma aliança internacional de editoras que o publicou em julho “simultaneamente para denunciar a situação da população palestina e pedir um cessar-fogo”: Blackie Books (espanhol e catalão); Berria (Basco), Comma Press (Reino Unido), Beacon Books (Estados Unidos) e Jacana (África do Sul) em inglês; Angústúra (islandês), Noura Books (indonésio), Chiheisha Publishing (japonês), Società Informazione (italiano), Elefante (português), Second Thesis (coreano) e Pinar Publications (turco). “Através da escrita, podemos manter os lugares vivos, podemos lembrar as ruas que agora estão em escombros, as casas que agora foram destruídas”, escreve Atef no livro.

“Não somos números.” Atef nasceu em 1973 no campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza. Desde a primeira Intifada, ele tem fragmentos de balas no corpo. “Eu tinha quinze anos quando os soldados israelenses atiraram em mim e incrustaram esses fragmentos no meu fígado. O cirurgião britânico acalmou minha mãe e disse: seu filho sobreviverá. Cada vez que encontro a morte diante de mim, no meio da rua, tento reunir coragem e me convencer de que vou sobreviver, assim como o cirurgião inglês disse à minha mãe que eu faria. Mas desta vez é diferente. Eu sei que não posso mentir. Vejo isso em todos os lugares, é a morte, posso sentir isso. Posso tocá-la”, escreve ele. Na guerra de 2014, Atef publicou o artigo We are not numbers, que acabou se tornando o slogan da Autoridade Nacional Palestina e promovendo o projeto wearenotnumbers.org, no qual escritores tornam visíveis as vidas dos palestinos ocultadas pelos números. “Os números escondem nossas vidas. Para os assassinos não somos seres humanos. Nossas memórias e histórias não existem. Somos números. Se você ler que quinze palestinos morreram num ataque israelense, isso significa quinze vidas, quinze histórias de amor. Quinze memórias da juventude. Quinze casas. Quinze sentimentos de perda. Quinze palestinos que esperam na fila da padaria para alimentar a sua família”, afirma Atef com firmeza.

Quero estar acordado quando morrer é uma crônica detalhada. À medida que os dias de guerra passam, a Faixa de Gaza torna-se um cemitério a céu aberto. As crianças escrevem seus nomes na pele de seus corpos para que suas famílias possam encontrar seus corpos caso morram. Os edifícios caem “como colunas de fumaça”. A cidade de Gaza é transformada num “lixão de borracha e escombros”. A comida é escassa. As filas se multiplicam. Uma para água. Outra para pão. Outra para carregar celulares. Os cadáveres estão se acumulando por toda parte. Nas ruas, “crianças confusas, homens irritados, mulheres cansadas”. Ovelhas e cabras famintas vagam pela cidade. As pessoas não andam, elas correm. Um homem usa sapatos femininos porque “são mais confortáveis”. Zumbido de drones. Estrondos constantes de explosões. As bombas destroem hospitais, escolas, campos de refugiados, o Centro Cultural al-Shawa, os Centros de Imprensa. Os mísseis destroem sete padarias, mercados e barracas de vendedores ambulantes. Uma noite, Atef vai dormir sem ter comido nada. Às vezes ele cai na cama depois de trinta e seis horas sem pregar o olho. Tentar salvar vidas é mais importante que dormir.

Ao longo do diário, o leitor toma conhecimento da destruição da Cidade de Gaza. Muitos moradores estão mortos sob os escombros, sem possibilidade de resgate. “Tudo ao nosso redor está morto e silencioso. Há apenas corvos e um ou outro cachorro perdido vasculhando os escombros. Os israelenses querem que toda Gaza tenha esta aparência. Insuportável. Infernal. O objetivo é sempre nos fazer retroceder no tempo, fazer com que a cidade pareça pobre e feia novamente”, escreve Atef. “Quando eu estava escrevendo o livro, Gaza era um ser violado, cortado em pedaços. A partir de hoje, a cidade de Gaza não existe. Não há um único apartamento em Gaza onde você possa ficar. Quero dizer, tem janelas, portas, paredes. Tudo foi total ou parcialmente destruído”, diz Atef. No livro, ele descreve a destruição de seu bairro, dos becos e passagens de Jabalia, como “o fim de um filme de guerra”. “Até os israelenses admitem que a sua ênfase está agora no ‘dano’ e não na ‘precisão’”, escreve ele. Sua cidade natal, onde escreveu sua primeira história sobre um velho que adorava contar histórias, mas havia esquecido todos os finais, está completamente destruída.

A fuga a pé que Atef faz com o filho para sair do norte de Gaza em direção ao sul, atravessando a nova “cortina de ferro” desenhada por Israel, é uma das cenas mais duras do diário: “Espalhados ao acaso, em ambos os lados do caminho, há dezenas e dezenas de cadáveres. Apodrecendo. Derretendo, ao que parece, no chão. O cheiro é horrível. Uma mão se estende em nossa direção da janela de um carro incendiado, como se estivesse me implorando por alguma coisa. Corpos sem cabeça aqui. Cabeças decepadas ali. Membros e partes de corpos jogados fora e abandonados à própria sorte. Não olhe, digo novamente a Yasser. Continue andando, filho.

Destrua a cultura. No dia em que os soldados israelenses invadiram o apartamento histórico de Atef em Gaza, ficaram chocados com a sua coleção de três mil livros. Um dos soldados arrancou da parede uma reprodução da Mona Lisa de Leonardo da Vinci. “Eles não gostam da ideia de que temos educação, que temos uma cultura, que somos cultos. Quando Napoleão Bonaparte ocupou a Palestina, usou o palácio Pasha durante três dias como escritório, mas o exército israelense destruiu-o com tanques”, diz ele num tom desolado. Atef Abu Saif, ministro da Cultura entre 2019 e abril de 2024, denuncia como Israel destruiu intencionalmente qualquer manifestação cultural em Gaza. Numa entrevista em fevereiro de 2024, já alertava sobre a destruição de doze museus e da Biblioteca Municipal de Gaza, uma das maiores coleções de documentação sobre a vida em Gaza e na Palestina antes da criação de Israel em 1948. “Por que bombardearam a igreja mais antiga de Gaza, a terceira mais antiga do mundo? Por que estão destruindo o porto fenício ou os templos de cinco mil anos de antiguidade? Por que ninguém menciona uma palavra sobre tudo isso? Eles não estão apenas assassinando pessoas e um lugar, mas também a história. Israel quer eliminar a nossa história e memória. Além disso, não é a nossa história, é a história da humanidade”, afirma o escritor.

Atef não hesita em descrever a guerra em Gaza como genocídio. “Até que ponto a guerra deve ser assimétrica para deixar de ser guerra. É apenas um massacre”, escreve ele. Ele acusa Israel, com o seu “exército selvagem e sangrento”, de limpeza étnica e terrorismo de Estado. “O genocídio, como nunca me canso de explicar aos europeus, não significa que se mata todo mundo, mas que se tem a intenção de o fazer. De acordo com o direito internacional, o genocídio impede a entrada de alimentos e medicamentos. Recordemos que no terceiro dia de ocupação, quando o norte de Gaza estava sendo evacuado, um ministro israelense disse que queriam construir ali um parque de diversões, uma espécie de Disneylândia para fazer churrascos. Eles ainda não tiraram essa ideia da cabeça”, sustenta Atef.

O escritor não hesita em responsabilizar os Estados Unidos e as potências ocidentais pelo genocídio. “Israel é seu filho mimado. Estamos pagando o preço pelos erros europeus da Segunda Guerra Mundial”, esclarece. No livro, Atef conta como, em 1948, o Estado judeu veio à tona, semeando o caos na Palestina: “800 mil árabes foram expulsos à força de suas casas, homens executados, mulheres estupradas, aldeias queimadas, cidades inteiras massacradas. O terror foi o que destruiu aquela metade da Palestina e o que deu origem ao novo país (…) A minha avó foi obrigada a deixar a sua linda casa em Jaffa, pensando que voltaria dentro de alguns dias. Isso foi há setenta e cinco anos.” A escalada bélica comandada por Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, é na sua opinião uma cortina de fumaça: “A expansão da guerra é uma forma de escapar à pressão de uma guerra civil. Quando iniciam uma guerra no Líbano, ninguém lhes pede que acabem com a guerra em Gaza. O objetivo da guerra é a própria guerra. Com o Irã tudo estará sob controle, o seu verdadeiro objetivo é Gaza.”

O futuro da Palestina. Atef, membro do partido político Fatah, herdeiro da antiga Frente Nacional de Libertação da Palestina, acredita que o futuro da Palestina não pode ser concebido excluindo o Hamas. “Não há futuro sem o Hamas. O povo decidirá se o Hamas geriu kbem o 7 de Outubro e as suas consequências. As pesquisas dizem que os habitantes de Gaza estão descontentes com o Hamas. Eles estão pagando o preço e suas vozes não estão sendo ouvidas. Mas para a maioria dos palestinos em todo o mundo, mesmo que discordem de algumas ações, o 7 de Outubro é um ato heroico. Saberemos mais sobre tudo isso quando houver discussão aberta e eleições, algo que eles não estão permitindo”, afirma Atef.

A certa altura da entrevista, Atef abaixa o tom. O cansaço toma conta de seu rosto. Ele explica que viu sua família morrer nesta guerra. Mais de cem parentes assassinados. Seu pai morreu em abril, por falta de remédios. Ele confessa que poderia estar morto se tivesse aceitado o convite da meia-irmã. “Eu deveria ter passado aquela noite com eles. Ainda guardo o SMS em que ele me disse: Ei, meus sobrinhos estão aqui. Venha passar a noite conosco. Hoje, toda a família está morta”, confessa com resignação. Quando parece que está prestes a sair do prumo, Atef recupera o ânimo, como se estivesse agarrado ao salva-vidas de um trecho de seu próprio livro: “E quando você ouvir que outra pessoa morreu, significa que você, ao contrário, continua vivo”.

O ex-ministro se recompõe. Sorri. Tira forças da fraqueza. Reconhece que tudo contribui para parar o genocídio. Seu livro. Esta entrevista. A iniciativa judicial liderada pela África do Sul. Que a Espanha reconheça o Estado Palestino. As manifestações de apoio. “O mundo tem que romper a narrativa de Israel de que isto é legítima defesa”, escreveu em seu livro. “A questão não é estar com os palestinos ou com os israelenses – afirma com ânimo recobrado – mas consigo mesmo como ser humano. É a favor ou contra o genocídio? A favor ou contra o assassinato de crianças inocentes? Não estou pedindo que você esteja conosco, mas que esteja consigo mesmo, com sua ética.”

A última página de Quero Estar Acordado Quando Morrer é por parte dos editores: “Em 30 de dezembro, Atef e seu filho, que havia completado dezesseis anos apenas dois dias antes, conseguiram cruzar a fronteira egípcia e chegar em segurança. Muitos de seus familiares e amigos permanecem presos na Faixa. A sogra de Atef, Haja, morreu de frio numa loja em Rafah enquanto fechávamos a edição deste diário. O genocídio já dura 235 dias.” Quando o CTXT publica este texto, o genocídio já durava 398 dias.

Cop29, Papa: chega de atrasos e indiferença. Cancelar a dívida dos países pobres

A mensagem de Francisco para a COP29 foi lida pelo, em Baku, no Azerbaijão, pelo secretário de Estado Parolin. "Que as nações ricas reconheçam a gravidade de tantas decisões passadas e perdoam as dívidas dos países pobres." "Mais do que generosidade, é uma questão de justiça". O Pontífice pede a implementação de uma "nova arquitetura financeira internacional": não ao egoísmo "de indivíduos e grupos de poder" que alimenta a desconfiança e a divisão. "Criar uma cultura de respeito pela vida."



Salvatore Cernuzio – Vatican News


É uma questão de "justiça", não de "generosidade": Que os países ricos, conscientes de muitas decisões sérias do passado, comprometem-se “a perdoar as dívidas dos países que nunca poderão pagá-las”, lembrando que entre o Norte e No Sul do mundo existe uma verdadeira “dívida ecológica” ligada aos “desequilíbrios comerciais com efeitos no ambiente” e ao “uso desproporcional de recursos naturais” por longos períodos de tempo.

Aos mais de 50 mil participantes da COP29, em Baku, no Azerbaijão, o secretário de Estado Vaticano, cardeal Pietro Parolin, levou o apelo do Papa Francisco lançado na Bula Jubilar Spes non confundit, desta vez acompanhado do duplo convite para implementar "uma nova arquitetura financeira internacional", ousada e criativa , e demonstrar, através da Cúpula sobre o Clima, que “existe uma Comunidade internacional disposta a olhar para além dos particularismos e a colocar no centro o bem da humanidade e a nossa Casa comum, que Deus confiou ao nosso cuidado e responsabilidade”.

Salvaguardar a criação e salvaguardar a paz
Na mensagem lida por Parolin, o Papa Francisco analisou os dados científicos que deixam claro que não há mais tempo e não são permitidos mais atrasos: “A salvaguarda da criação é uma das questões mais urgentes de nosso tempo. Devemos também reconhecer que ela está intimamente relacionada à salvaguarda da paz”. De fato, a Cop29 se realiza num cenário de “crescente desilusão com as instituições multilaterais” e “tendências perigosas de construir muros”.

O egoísmo – individual, nacional e de grupos de poder – alimenta um clima de desconfiança e divisão que não responde às necessidades de um mundo interdependente no qual deveríamos agir e viver como membros de uma única família que habita a mesma aldeia global interligada.

Cultura de respeito à vida e à dignidade humana
“O desenvolvimento econômico não reduziu as desigualdades”, escreve o Papa. Pelo contrário, “favoreceu a prioridade do lucro e dos interesses particulares em detrimento da proteção dos mais frágeis, e contribuiu para o agravamento progressivo dos problemas ambientais”. Para inverter a tendência e criar uma cultura de respeito pela vida e pela dignidade humana é necessário, para o Pontífice, “compreender que as consequências nocivas dos estilos de vida dizem respeito a todos e planejar juntos o futuro, para garantir que as soluções sejam propostas num contexto global”. perspectiva, e não simplesmente para defender os interesses de alguns países".

Deixemos que as responsabilidades históricas e presentes se transformem em compromissos concretos e clarividentes para o futuro, para que destas semanas de trabalho possa emergir um Novo Objetivo Coletivo Quantificado sobre o Financiamento Climático, entre os mais urgentes desta Conferência.

Dívida externa e dívida ecológica, duas faces da mesma moeda

Devemos, portanto, “fazer esforços para encontrar soluções que não comprometam ainda mais o desenvolvimento e a capacidade de adaptação de muitos países que já estão sobrecarregados por uma dívida econômica paralisante”. “Ao discutir o financiamento climático, é importante lembrar que a dívida ecológica e a dívida externa são duas faces da mesma moeda, que hipoteca o futuro”, escreve o Papa Francisco.

Uma nova arquitetura financeira internacional
O convite “essencial” é, portanto, “buscar uma nova arquitetura financeira internacional” que seja “ousada, criativa e baseada nos princípios de equidade, justiça e solidariedade”, mas acima de tudo “centrada no ser humano”.

Uma nova arquitetura financeira internacional que possa realmente garantir a todos os países, especialmente aos mais pobres e aos mais vulneráveis ​​aos desastres climáticos, caminhos de desenvolvimento tanto de baixa emissão de carbono quanto de elevada partilha que permitam a todos atingir o seu pleno potencial e ver a sua dignidade respeitada.

Os recursos humanos e tecnológicos existem para “inverter a tendência” e “prosseguir o círculo virtuoso do desenvolvimento integral verdadeiramente humano e inclusivo”.

O apoio da Santa Sé
Parolin, em nome do Papa, garantiu o apoio da Santa Sé em todos estes esforços, especialmente no campo da educação ecológica integral e na conscientização para o meio ambiente como um “problema humano e social em vários níveis” que requer acima de tudo um compromisso claro, por parte de todos: “Não podemos passar e olhar para o outro lado. A indiferença é cúmplice da injustiça." E não há mais tempo para indiferença.

Não podemos lavar as mãos sobre isso, com o distanciamento, com o descuido, com o desinteresse. Este é o verdadeiro desafio do nosso século.

Acordo "ambicioso"
A esperança é, portanto, que a COP29 de Baku produza “um acordo ambicioso”, que conduza “a um desenvolvimento realmente inclusivo”. “Garanto a vocês o meu apoio e o do Santo Padre” – conclui o secretário de Estado Vaticano – para prestar um serviço eficaz à humanidade, para que todos possamos assumir a responsabilidade de salvaguardar não só o nosso futuro, mas o de todos”.

11 novembro, 2024

Nota de preocupação dos Bispos do Paraná sobre o Projeto de Lei: “Parceiros da Escola” Seque a nota:

NOTA DE PREOCUPAÇÃO SOBRE O PROJETO DE LEI DO GOVERNO DO PARANÁ: “PARCEIROS DA ESCOLA”

“Busquemos tudo que contribui para a paz e a edificação de uns pelos outros” (Rm 14,19).

O episcopado paranaense tem acompanhado com solicitude e preocupação o programa instituído pela Lei 22.006/2024, que autoriza a Secretaria do Estado de Educação (CEED/PR) a celebrar contratos com empresas privadas, transferindo a elas a responsabilidade pela administração das escolas públicas selecionadas. Percebemos relevante e intenso desconforto e descontentamento de muitos dos envolvidos no dia a dia da escola, bem como de especialistas em educação.

É fundamental que essa Lei, agora já sancionada, seja amplamente debatida com todos os envolvidos, incluindo professores, pais, alunos, especialistas em educação e a sociedade civil. As políticas devem ser elaboradas com foco no fortalecimento da educação pública, garantindo igualdade de oportunidades e a autonomia pedagógica das instituições de ensino. Nossa preocupação é com a interferência de interesses privados na gestão pública educacional. Isso deve ser cuidadosamente considerado para evitar que a educação se torne um meio de lucro ao invés de um direito fundamental e constitucional.

Recomendamos que o projeto seja respaldado por uma lei Ad Experimentum, por um período de, no mínimo, dois anos. Dessa forma, o projeto “Parceiro da Escola” pode ser implantado, avaliado e melhorado, a fim de que ele seja benéfico para todos os envolvidos e não comprometa a qualidade e os princípios da educação pública.

Que Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Estado do Paraná, interceda por bênçãos e graças sobre todos!


Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina e Presidente da CNBB Regional Sul 2

Dom Amilton Manoel da Silva, CP
Bispo de Guarapuava e Vice-Presidente da CNBB Regional Sul 2

Dom Mário Spaki
Bispo de Paranavaí e Secretário da CNBB Regional Sul 2

Padre Valdecir Badzinski
Secretário Executivo da CNBB Regional Sul 2

08 novembro, 2024

Que leigo eu quero

Que leigo eu quero

A está pergunta eu repondo sem titubear; eu quero um leigo que seja leigo! Não “leigo na matéria” como ouvimos por aí mas homens e mulheres ensopados em Cristo. Que não queiram ser padres nem freiras mas apenas leigos!!

Não quero alguém que fale em meu nome nem me represente por aí em eventos onde eu não poderia estar e onde não é para estar, como padre! Quero que ele vá por si mesmo. Que seja sujeito e não apenas objeto de atenção. Quer vê-los nas periferias existenciais enlameados, sujos, rasgados, feridos, mas se mostrando como seguidores dos mestres.

Quero um leigo que saiba ao que veio como igreja! Igreja que é ele mas que não é um fim em si mesmos para ele!

Não quero tropeçar com ele na sacristia nem o ver apenas na fila da comunhão e muito menos apenas na lista dos dizimistas. Quero vê-los na tv como protagonistas do bem e da justiça e dando um show de Evangelho na festa da vida! Onde ninguém fala em padre - graças a Deus - eu quero engravatados, mecânicos, diarista, professores, homens e mulheres reais mostrando o rosto de Jesus.

Que leigo eu quero?

Que me olhe de frente como irmão, me corrija e me motive a lutar. Um companheiro ou companheira de jornada que domine os instrumentos da vida eclesial , com uma fé madura e esclarecida.

Um leigo bem formado que tenha intimidade com a palavra e Deus e espírito de corpo se sabendo membro de uma família chamada igreja. Que perdoe e seja perdoado. Que critique e aceite críticas! Que ame e seja amado. Que entenda processos e seja paciente mas que provoque mudanças. Que prefira ceder para preservar a comunhão do que avançar sozinho.

A igreja e de leigos! Não numericamente - o que seria óbvio! Mas a igreja como missionária por natureza, aponta para o mundo e não para dentro! Isso nos diz Francisco com perspicácia...

Porque não quero leigos semi padres? Porque seriam uma aberracao! Algo tão híbrido que perderia o sentido!

Quem sempre foi olhado não entende a beleza do poder olhar! Como diria Anthony de Melo, são águias vivendo como frangos! Um parto difícil mas que retirará as amarras dos que nunca souberam o poder que o batismo lhe conferiu!

E da minha parte como padre?

Resistir a encrustada tentação de dar palestra cada vez que encontro um leigo! De tratá-lo com puerilidade, como incapaz ou reduzido a sua insignificância! Nasci no Vaticano II mas confesso que Trento me persegue ainda...

Com 27 anos de padre, ainda tenho a tentação de ser perito em política, economia, casamento, ou acender e apagar as velas do altar!

Ano do laicato! Momento de mea culpa!

Depois do século IV roubamos deles o protagonismo! Os tornamos figurantes de tragédias e comédias ou assessorios de lindas celebrações! Reduzimo-los a leigos na matéria. Hoje, faz-se mister chacoalha-los e trazê-los ao palco onde seu papel jamais será secundário!

Formação! Formação! Formação!

Se não souberem ao que vieram; se não tomarem consciência de si e do “eu cristão” que neles habita, sempre terão o sotaque incomodo de quem parece de fora! Leigos são de dentro! Se apresentarem sotaque, que seja a riqueza e a beleza da diversidade, numa igreja que não pretende ser monocromática!

Minha avó era cristã católica. Tão santa como eu jamais conseguirei ser! Mulher, mãe e analfabeta nas “coisas da Igreja”! Mas minha avó morreu sem saber porque era batizada! Sem saber dos seus direitos como tal! Minha avó sempre foi um apêndice do clericalismo que vigorava na sua época! Fazia ótimos jantares para o vigário, contribuía com o vinho e o azeite, aceitava as orientações sobre ter ou não ter filhos e como educa-los.

Padre manuel Longa

05 novembro, 2024

"Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino"

"Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino" (Lc 23,42). 
Recordar significa "levar ainda no coração". 
Aquele homem, crucificado com Jesus, transforma uma dor extrema em oração:
 "Leva-me no teu coração, Jesus". 
(Papa Francisco)


02 novembro, 2024

Viver a santidade ou a bem-aventurança é um desafio para almas fortes e generosas!

"Viver a santidade ou a bem-aventurança é um desafio para almas fortes e generosas. Afinal não é fácil ser pobre em espírito e no coração em um mundo que glorifica o poder, o ter e o domínio sobre os outros. Ser manso em um mundo agressivo e violento; ter e manter o coração puro diante da corrupção e da ganância, buscar alcançar a paz enquanto tanto no mundo declaram a guerra."  (Pe. Paulo Sérgio Silva, Diocese de Crato)

01 novembro, 2024

Oração fiéis defuntos

Oração fiéis defuntos:

Deus de infinita misericórdia, confiamos à tua imensa bondade (aquelas e) aqueles que deixaram este mundo para a eternidade, onde Tu aguardas toda a humanidade redimida pelo sangue precioso de Cristo, morto para nos libertar dos nossos pecados.

Não olhes, Senhor, para as tantas pobrezas, misérias e fraquezas humanas quando nos apresentarmos diante do Teu tribunal, para sermos julgados, para a felicidade ou a condenação.

Dirige para nós o teu olhar misericordioso que nasce da ternura do teu coração, e ajuda-nos a caminhar na estrada de uma completa purificação. Que (nenhuma das tuas filhas e) nenhum dos teus filhos se perca no fogo eterno do inferno onde já não poderá haver arrependimento.

Te confiamos, Senhor, as almas dos nossos entes queridos, das pessoas que morreram sem o conforto sacramental, ou não tiveram ocasião de se arrepender nem mesmo no fim da sua vida. Que ninguém tenha receio de te encontrar depois da peregrinação terrena, na esperança de sermos recebidos nos braços da tua infinita misericórdia.

Que a irmã morte corporal nos encontre vigilantes na oração e carregados de todo o bem realizado ao longo da nossa breve ou longa existência. Senhor, nada nos afaste de Ti nesta terra, mas em tudo nos dês o apoio no ardente desejo de repousar serena e eternamente em Ti. Amém.

Mãe, saudades da sua simples presença!