Carta ao Povo de Deus da Arquidiocese de Maringá
Maringá, 20 de novembro de 2019
Depois de 15 anos como Arcebispo desta Arquidiocese de
Maringá, o Santo Padre, o Papa Francisco, aceitou o meu pedido de renúncia, por
motivos de saúde.
Aos 10 anos de idade entrei para o seminário e minha vida
sempre foi dedicada à Igreja. Sou muito feliz em ter feito esta escolha. Nunca
me queixei do cansaço que as atividades inerentes ao episcopado provocam.
Sempre procurei fazer o melhor, mesmo em meio às
adversidades. Além de pastorear por seis anos a Igreja de Toledo e 15 em
Maringá, servi por oito anos a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na
Comissão de Ministérios Ordenados e Vida Consagrada, como também por oito anos,
não consecutivos, servi a Igreja na América latina, através do Departamento de
Ministérios e Vocações do Conselho Episcopal latino-americano, com sede em
Bogotá.
Como Arcebispo de Maringá tive a graça de ordenar 45
diáconos permanentes, 37 padres e três bispos do clero de Maringá. Tudo isso
fruto de uma Igreja organizada que herdei dos meus antecessores, Dom Jaime Luiz
Coelho, Dom Murilo Krieger e Dom João Braz de Aviz.
Pela primeira vez na história desta Igreja, neste ano e no
próximo serão ordenados oito novos padres. Um número expressivo que mostra a
força da oração pelas vocações na nossa Igreja.
Esta Igreja particular tem características especiais. O
Censo de 2010, divulgado em 2011, nos revelou que Maringá teve um aumento de
14% no número de católicos.
Tenho inúmeros motivos para dizer que a Arquidiocese de
Maringá é especial. As nossas pastorais, movimentos e organismos são de uma
organização exemplar.
Trabalhamos muito.
Nestes 15 anos crismei mais de cinquenta e duas mil pessoas.
Criamos sete paróquias:
Paróquia Nossa Senhora do Rosário; paróquia Santo Expedito;
paróquia Imaculada Conceição em Uniflor; paróquia Santa Paulina; paróquia Santa
Teresa de Jesus, em Marialva; paróquia Santa Clara e paróquia Santa Terezinha
do Menino Jesus, em Mandaguaçu.
Diversas obras foram feitas, como a reforma do centro de
Formação Bom Pastor; reforma do auditório São João Paulo II; reforma da capela
do Seminário Arquidiocesano; criação da casa do padre idoso, que tem acolhido
os nossos queridos sacerdotes. Retomamos a administração do Albergue Santa
Luiza de Marillac. Enfim, muitas obras físicas e espirituais, todas feitas sob
a ação e força do Espírito de Deus.
Chiara Lubich disse certa vez que “a caneta não sabe o que
deverá escrever, o pincel não sabe o que deverá pintar e o cinzel não sabe o
que deverá esculpir. Quando Deus toma em suas mãos uma criatura, para fazer
surgir uma obra Sua na Igreja, a pessoa escolhida não sabe o que deverá fazer.
É um instrumento”.
Foi isso que Deus fez comigo. Eu não tinha capacidade
nenhuma de ser padre, bispo. Mas Deus quis. Foi Ele que me fez o que eu sou. Só
tenho gratidão por tanta coisa realizada.
Olhando para o passado, pergunto: Como fiz tudo isso? Só
tenho resposta se eu projetar o meu olhar para Jesus.
Diante desta bela história, reconheço que chegou o momento
de deixar o governo da Arquidiocese de Maringá. Nos últimos meses meu corpo
físico já tem dado sinais de esgotamento, e a orientação médica é para diminuir
o ritmo de vida, por isso pedi ao Santo Padre a renúncia ao governo da
Arquidiocese, passando a ser Arcebispo Emérito. Deixo o lugar para outro com
mais disposição, capaz de governar esta Igreja particular com o vigor
necessário.
Talvez poucas pessoas saibam, mas antes de eu vir para
Maringá, ainda em Toledo, em 2002, sofri um derrame cerebral. As sequelas foram
quase que imperceptíveis. Consegui me recuperar do processo cirúrgico, mas a
recomendação médica era que eu deveria evitar sobrecarga de trabalho e
estresse. O que não aconteceu, porque em 2004 fui nomeado Arcebispo nessa bela
e querida Maringá.
No ano passado, fui submetido a uma angioplastia e também à
retirada da vesícula. Nas últimas semanas, comecei a ter vários apagões,
momentos em que chego a perder a consciência em alguns compromissos, inclusive
nas celebrações.
Não foi fácil tomar essa decisão, mas é o melhor para mim e
para a Igreja.
Lembro aqui o Papa Bento XVI que, ao renunciar o ministério
de Bispo de Roma, disse: “verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o
amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço
perdão por todos os meus defeitos”.
A partir de hoje, não respondo mais pelo governo desta
Arquidiocese. Tudo agora passa a ser de responsabilidade do Administrador
Apostólico, meu irmão no episcopado, Dom João Mamede, Bispo de Umuarama,
pertencente a nossa Província Eclesiástica. De agora em diante Maringá é “sede
vacante”, até que o Santo Padre nomeie o novo Arcebispo de Maringá.
Estarei sempre em oração para que este período de transição
seja iluminado pela força renovadora do Espírito Santo de Deus.
Nesta vida ninguém perde nada. Ou se ganha ou aprende.
Aprendi que o poder e o governo da Igreja não é tudo, pois a essência do
episcopado é amar e servir. Isso vai continuar sendo o meu único programa de
vida.
Continuarei servindo a Igreja, ministrando os sacramentos,
sendo presença de pai que ama, vive, sente e caminha com o Povo de Deus.
Ninguém pode impedir de amar.
Fica aqui meu carinho, amor, respeito, gratidão a todos
vocês.
Lembrem-se: Deus é misericórdia, Deus é amor. Somos chamados
a celebrar a misericórdia. Sem misericórdia não se constrói nada.
Como diz o Papa Francisco “não podemos esquecer que cada um
traz consigo a riqueza e o peso da sua própria história, que nos distingue de
qualquer outra pessoa. A nossa vida, com as suas alegrias e os seus
sofrimentos, é algo único e irrepetível que se desenrola sob o olhar
misericordioso de Deus” (Misericórdia et misera, 14).
Rezem por mim. Eu sempre rezarei por vocês.
Por intercessão de Nossa Senhora da Glória, padroeira da
Arquidiocese de Maringá, Deus Pai vos abençoe sempre!
Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário