15 agosto, 2009

A Igreja precisa encantar novamente


Em abril de 2008 eu escrevi o que segue abaixo, hoje o apresento novamente a vocês. Por que:
- talvez porque hoje, embora por motivos de saúde não pude participar, mas acompanhando pela TV 3º Milênio emocionei ao ver a devoção do povo de Deus a Nossa Senhora, na celebração da Padroeira de Maringá.
- talvez pela luta do povo que manifestou pelas ruas de nosso Brasil o sonho de ver a justiça acontecer.
- talvez pela força e coragem das 50 mil pessoas que manifestaram pelas ruas de Honduras .
- talvez pela dor e medo do povo de Deus do mundo inteiro causada pela gripe suína.
- talvez seja por saber que muitos preferem se calar em vez de denunciar.
- talvez por ver meus companheiros e companheiras do GEAP dando continuidade ao “sonho” que juntos construimos e este ano por diversos motivos não estou contribuindo.
- talvez porque mesmo diante de inúmeras ações de “minha” Igreja acredito que é preciso ir além.
- talvez porque ...

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A Igreja precisa encantar novamente

A nossa Igreja precisa encantar novamente, fazer arder o coração como ardeu o coração dos discípulos de Emaús, conforme o Evangelho de Lucas, 24,32.

Então um disse ao outro: «Não Estavao o nosso coração ardendo quando ele nos favala pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?»

A Igreja precisa ser o lugar fundamental onde se manifesta o Ressuscitado, seguindo o caminho que Jesus fez com os discípulos de Emaús, assim sendo a Igreja precisa:

Primeiro: caminhar com o povo, solidarizando-se com seus sonhos, suas dores, suas alegrias, seus problemas e participando de suas lutas. Uma Igreja próxima, acolhedora que se deixa entrar na conversa, seguindo o mesmo caminho. Ser presença do Cristo Ressuscitado que quer liberdade e vida para todos e todas.

Segundo: ser o anúncio da Palavra, à Bíblia anunciada por Jesus. Não haverá entendimento da pessoa e atividade de Jesus a não ser pela leitura da Bíblia, que mostra o sentido da sua vida e ação. Jesus realizou o Projeto de Deus até o fim, por isso foi condenado e morto. Os responsáveis por ela foram os realizadores de uma ordem social fundada na injustiça, na opressão, na busca do poder e do ter e por isso não aceitaram o Projeto de Deus anunciado e praticado por Jesus de liberdade e vida para todos e todas, então o mataram.A Igreja precisa levar a leitura comunitária da Bíblia, para isso precisa se fazer comunitária, inserida na realidade do povo e levar as pessoas a encontrar o Jesus que dá sentido à vida, principalmente na luta pela justiça.

Terceiro: Partilhar. É preciso estar atento para não ficar apenas na leitura da Bíblia, sem encontrar concretamente com o Cristo. Acolher e partilhar. Foi no acolhimento e no partilhar o pão que os discípulos reconhecem Jesus (Lc 24,28-31)

Qaundo chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de contaque ia
mais adiante. Eles, porém, insistiram com Jesus, deizendo: « Ficaconosco,
pois
já é tarde e a noite vem chegando.» Então Jesus entrou para ficarcom
eles.
Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão e abençoou, depois opartiu e
deu a
eles. Nisso os olhos dos discípulos se abriram, e elesreconheceram
Jesus.

A partilha é o centro do Projeto de Deus. É partilhando que todos poderão ter acesso à liberdade e à vida. Vejo que para nós cristãos da Igreja Católica a Eucaristia é o centro, é o sinal de um mundo novo, onde a busca incansável do poder, da riqueza e do ter é substituído pela busca incansável de partilha e fraternidade, capaz de gerar um mundo novo e uma linda história de paz, igualdade, fraternidade, de justiça porque o dom de Deus é feito para todos, e deve ser partilhado entre todos. Nossa Igreja precisa continuar celebrando, mas precisa recomeçar a viver o que celebra.

Nos anos 60 e 70 a Igreja encantou o povo. Fez arder o coração como ardeu o coração dos discípulos e Emaús. Inseriu na realidade do povo, ouviu seus clamores. Foi presença do Cristo Ressuscitado em todos os lugares e situações. Na simplicidade do povo a Igreja se fez do povo, com o povo e para o povo. Organizada em Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) se encontravam em suas próprias casas, estudavam a Bíblia, partilhavam suas reflexões trazendo para a realidade. O olhar na Bíblia e o olhar na realidade. Celebravam com simplicidade a vida, os sonhos, a alegria, a presença do Ressuscitado. Partilhavam bens, esperanças e lutas. Rezavam o terço, confraternizavam com as festas dos santos. Todos se sentiam acolhidos e valorizados. A Igreja levou o povo a ter experiência do Ressuscitado, a assumir a missão cristã. A Igreja conseguiu interpretar a Bíblia para o tempo em que ela vivia e as experiências foram lindas, a Igreja foi Profética. A Igreja tornou-se ministerial. O povo acolhido e valorizado tornou-se protagonista da história e foram atuantes nas situações gritantes em que viviam, foram sujeitos de um mundo novo, presente em movimentos sociais, sindicato, partido político. A Igreja chamou para o compromisso, a ser fermento transformador na Igreja e na sociedade e o povo se encantou e foi protagonista de uma linda história que precisa ser recomeçada. A Igreja Estava onde sua presença fazia necessária. Jesus quer que a Igreja construa uma nova sociedade e uma nova história. A Igreja precisa encantar novamente.

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