03 agosto, 2011

Tentando entender Maringá

Da professora Ana Lúcia Rodrigues, do Observatório das Metrópoles

Estou tentando entender essa cidade. Aqui tem 4 das 1000 maiores empresas do Brasil mas, a maior fatia de imposto é produzida pelo IPVA e não pelo ICMS; aqui é o lugar onde existe a sociedade civil dita mais atuante e a democracia mais avançada (como o prefeito divulgou no Fórum Social Mundial) mas essa mesma louvada sociedade democrática faz campanha para que o seu Legislativo não tenha peso representativo, como se não fosse um importante pólo regional; a Dallas brasileira é aqui mas 33% dos chefes de família não conseguem comprar a casa própria e moram de aluguel; aqui tem sempre um braço de todas as operações da Polícia Federal; o preço não é critério de concorrência em licitação; aqui Estado e Igreja ainda não se separaram; aqui empreendedor supermercadista vira banqueiro e deputado vira loteador; não há favela aqui mas a cidade ganha R$ 25 milhões para projeto de desfavelização. Aqui o trânsito não flui, mas mata; o contorno não contorna, o Horto não se abre, o teatro não se freqüenta, o público não se permite e o governo não governa para todos. Aqui é um lugar em que as pessoas só acreditam porque não sabem que os que dominam, como dizia La Boétie “…só tem dois olhos, só tem duas mãos, só tem um corpo, e não tem outra coisa que o que tem o menor homem do grande e infinito número de vossas cidades, senão a vantagem que lhe dais para destruir-vos. De onde tirou tantos olhos com os quais vos espia, se não os colocais a serviço dele? Como tem tantas mãos para golpear-vos, se não as toma de vós? Os pés com que espezinha vossas cidades, de onde lhe vêm senão dos vossos? (…). Decidi não mais servir e sereis livres.”

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