17 novembro, 2014

49 anos do Pacto das Catacumbas: um apelo aos bispos da Igreja Católica

No dia 16 de novembro de 1965, portanto, há 49 anos, poucos dias antes do encerramento do Concílio Vaticano II, cerca de 40 padres conciliares celebraram uma Eucaristia nas catacumbas de Domitila, em Roma. Após a celebração, assinaram o “Pacto das Catacumbas”. Trata-se de um documento histórico, que dispensa maiores comentários porque por si mesmo fala com clareza e objetividade de uma proposta original, evangélica, audaciosa e profética.  

Entre os signatários estava Dom Helder Câmara, um dos grandes profetas da história da Igreja no Brasil. O documento é dirigido aos bispos da Igreja Católica, um convite para que todos possam se colocar no caminho de Jesus: caminho de pobreza e de serviço ao povo de Deus. Os bispos que assinaram e que viveram este importante pacto entraram para a história da Igreja como homens despojados e livres, pastores zelosos do povo de Deus, que viveram na radicalidade evangélica a opção pelos pobres.

Todos os bispos da Igreja Católica, se quiserem, de fato, ser fieis ao evangelho de Jesus e ao espírito do Vaticano II, precisam observar as orientações deste pacto. Há, certamente, na Igreja de hoje bispos que praticam este pacto, com humildade, simplicidade, zelo e discrição; mas é verdade também que há inúmeros bispos que estão longe de praticá-lo, pois vivem apegados ao poder, ao prestígio e à riqueza; vivem salvando a própria vida em detrimento da vida do povo de Deus.

A estes bispos, o pacto abaixo transcrito e as veementes exortações do papa Francisco são um forte apelo à conversão episcopal. Os pobres do povo de Deus clamam por autênticos pastores, que a exemplo de Jesus, deem a vida pelas grandes causas do Reino de Deus. Muitos bispos precisam abraçar com humildade e perseverança a cruz de Cristo nas lutas por justiça, na solidariedade com os pobres. Precisam renunciar as amizades e alianças com os poderosos da sociedade e seus projetos de morte. Precisam anunciar a Boa Notícia do Reino e denunciar os crimes que ceifam a vida do povo.

Na América Latina, dom Oscar Romero e tantos outros são exemplos inspiradores de verdadeiros pastores, que assumem a promoção da justiça até as últimas consequências. Gente do povo continua sendo perseguida, explorada e morta, onde estão os pastores dessa gente? Como Jesus, é preciso que se busquem as “ovelhas perdidas da casa de Israel”. Para isto, a opção pelos pobres deve ser uma realidade na vida dos bispos. Sem ela não há conversão episcopal.

Por fim, é hora de renunciar a “psicologia de príncipes” (expressão do papa Francisco), assim como as manias de gente rica para se revestir do espírito de Cristo, o bom pastor. Estão fazendo falta à Igreja do Brasil homens como dom Helder Câmara, dom Luciano Mendes de Almeida, dom Aloísio Lorscheider, dom Antônio Fragoso, dom Waldyr Calheiros, dom Tomás Balduíno, entre outros grandes profetas do Senhor. Estes homens não viveram para si mesmos, mas viveram como Jesus: no anúncio do evangelho, servindo os pobres do povo de Deus.

Que nossa prece chegue a Deus neste dia feliz da memória deste pacto, a fim de que nossos bispos escutem a voz do Espírito do Senhor e se tornem, afetiva e efetivamente, pastores do povo santo e fiel, segundo o coração do nosso bom Deus. A necessária e urgente conversão das estruturas da Igreja está intimamente ligada à conversão dos bispos, sendo estes chamados a serem os primeiros a darem testemunho do Cristo ressuscitado no meio do povo.

Tiago de França

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