12 fevereiro, 2015

Por que existe fome no mundo?

Segundo um relatório da Fundação das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura do ano de 2000, no estágio alcançado pela produção agrícola, a Terra pode alimentar 12 bilhões de pessoas.
Contudo, a cada dia no planeta, por volta de 100 mil pessoas morrem de fome, e 826 milhões estão em um estado grave de desnutrição.
Mas como pode acontecer que mesmo com nossa capacidade tecnológica, não atendamos nossa necessidade mais básica?
Por que, mesmo na era do consumo desenfreado e do supérfluo, a perspectiva de uma penúria alimentar mundial nunca esteve tão próxima?
E o que fazer para reconquistar nossa segurança alimentar?
Em resumo, a fome no mundo:
- não acontece em razão de uma fatalidade, localização geográfica ou fenômeno climatológico;
 - é resultado de uma escolha da economia;
 - é agravada pela concentração agrícola e privatização da vida;
 - pode ser combatida com eficácia através da soberania alimentar das populações sobre seus territórios, a fim de eliminar a fome e a desnutrição, através da agricultura natural, eficiente e respeitosa com os ecossistemas, para substituir o modelo da agricultura intensiva e química;
 - exige que os agricultores se posicionem como guardiões do equilíbrio da terra.
O liberalismo econômico e a concorrência internacional:
A fome não é resultado de uma fatalidade, da localização geográfica ou de um fenômeno climatológico. Ela é, antes de tudo, uma consequência das políticas econômicas impostas pelos países desenvolvidos e seu desejo de ampliar sua hegemonia.
Os subsídios à produção e às exportações que os países do Norte possuem, faz com que inundem os mercados dos países do Sul com produtos de baixo preço, concorrendo com os produtos locais.
Os países do Sul abandonam sua diversidade e soberania alimentar para se transformarem em exportadores mais competitivos.
O resultado faz com que nem os países do Sul nem os do Norte sejam capazes de responder suas próprias demandas alimentares.
A privatização da vida:
As commodities agrícolas são consideradas como meras mercadorias para aumentar os lucros das empresas e o PIB de uma nação. As sementes são modificadas a fim de responderem aos critérios de rentabilidade máxima, mas são feitas para se tornarem estéreis ou se degenerarem rapidamente, além de serem patenteadas, forçando os agricultores a comprá-las todos anos, quando antes eram um patrimônio passado de geração em geração. Atualmente, cinco multinacionais controlam por volta de 75% das sementes utilizadas na agricultura em todo o mundo. 96% dos tomates listados em seus catálogos oficiais são híbridos do tipo F1 (cuja semente não germina na segunda geração). 80% das variedades vegetais cultivadas há 50 anos já desapareceram.
A dependência do petróleo:
A agricultura intensiva é a mais cara que a humanidade já praticou. Completamente dependente dos fertilizantes químicos, isto é, feitos de derivados de petróleo, que necessitam de três toneladas de petróleo para produzir uma tonelada de fertilizante. A dependência do petróleo é reforçada pelo transporte incessante de mercadorias. O que será do futuro de nossa alimentação diante da previsível escassez do petróleo...?
A insalubridade alimentar:
Se é necessário comer para viver, é indispensável comer bem para manter uma boa saúde. Gripe aviária, vaca louca, frangos com hormônios, suínos com antibióticos, salmonela em produtos lácteos, etc... Com a agricultura intensiva, os alimentos, que sempre foram uma fonte de vida, tornaram-se uma fonte de morte. A absorção destes produtos nos alimentos (mesmo em dose baixa, mas repetidamente), pode causar vários distúrbios e doenças, como a baixa do sistema imunológico, fadiga crônica, perda de memória, gripe
s persistentes, perturbações no sistema endócrino, diminuição da fertilidade, câncer, etc.).
As multinacionais estranguladoras:
O mercado agrícola mundial está concentrado nas mãos de multinacionais privadas, mergulhando na dependência e na insegurança alimentar quase a totalidade dos povos do planeta.
O modelo alimentar encorajado pelos governos mais poderosos e agências internacionais é o modelo de agricultura intensiva, com produção em larga escala, considerada como a única viável e adaptada ao mundo moderno.
Os agricultores e as diferentes culturas alimentares são erradicadas, e com eles, mais de 10 mil anos de culturas e conhecimentos tradicionais.
Solos aráveis mal tratados e desertificados:
O desenvolvimento de biocombustíveis como nova política energética para o mundo pode ter riscos e severas consequências sobre o meio ambiente, e aumentar o flagelo da fome.
Estas culturas intensivas são implantadas promovendo o desmatamento de áreas de floresta, a exploração dos pequenos agricultores, com uso de organismos geneticamente modificados (OGM) e muitos pesticidas, colocando em risco a preservação das últimas áreas férteis do planeta. Parece absurdo que em um mundo em que milhares de pessoas não tem o que comer, que queiramos tirar o “alimento” para os nossos carros da terra.
Impulsionado pelo crescimento na demanda por biocombustíveis, os preços do milho estão em alta, tornando-o de difícil acesso para muitos. A produção de um litro de biocombustível requer entre mil e 3 mil litros de água, adicionando mais uma ameaça ao recurso da água, que já é raro.
E o que fazer? Reabilitar a soberania alimentar dos povos:
A soberania alimentar dos povos sobre seus territórios é o caminho a ser seguido para eliminar a fome e a desnutrição. A prioridade da agricultura deve ser a satisfação dos mercados locais e nacionais. Uma agricultura natural, eficiente e que respeite os diferentes ecossistemas deve substituir urgentemente a agricultura química e intensiva. O lugar dos agricultores na sociedade, como guardiões do equilíbrio da terra, deve ser valorizado. Deve-se preferir as múltiplas estruturas de pequeno porte que fornecem às pessoas uma alimentação diversificada e de qualidade. Cultivar a própria horta ou comprar alimentos locais, orgânicos e de época são as alternativas para o futuro.

Texto: Mouvement Colibris
Traduzido do francês por Leonardo Brockmann.
O Mouvement Colibris não permite a utilização do texto para fins comerciais.
Fonte: REJU 

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