Pastoral Popular Luterana envia carta de apoio ao ex-presidente Lula
A Pastoral Popular Luterana (PPL) enviou, nesta segunda-feira, 23 de julho, uma carta de apoio ao ex-presidente Lula. O documento, entregue a Lula pelo pastor luterano Inácio Lemke, 1º vice-presidente do CONIC e 2º vice-presidente da IECLB, foi assinada por mais de 200 pessoas.
A seguir, confira o esclarecimento dado pela PPL sobre o assunto:
O momento que vivemos no Brasil é grave. Talvez nem tenhamos hoje a dimensão do que se passa na estrutura da nossa sociedade, que está sendo literalmente destruída. Nesse momento o canto dos ilusionistas pode estar convencendo muita gente de que o caminho para nossa redenção passa pela força, pelo autoritarismo mais deslavado, pelo simplismo travestido de firmeza militar. Será mesmo? O que estamos vivendo é, até onde nos é possível discernir com responsabilidade, uma encruzilhada. E numa hora dessas, temos de ter a coragem de ir pelo caminho estreito, como nos ensina o evangelho (Mateus 7.13s). O caminho largo (pois infelizmente, nesse caso, não existe caminho do meio) fatalmente nos levará ao absurdo, ao “todos contra todos e salve-se quem puder”.
Depois de muito refletir, nós resolvemos nos posicionar publicamente em relação à prisão do ex-presidente Lula. Fazemos isto por entender que vivemos um momento fundamental na história do nosso país. Quisemos nos posicionar, não como uma opção política partidária, mas como pessoas de fé que se sentem interpeladas pelas circunstâncias históricas em que nos encontramos. A tão necessária investigação da corrupção em nosso país corre o risco de se transformar num mecanismo de luta e favorecimento político, o que irá solapar ainda mais a já acentuada perda de credibilidade nas instituições operadoras do direito em nosso país, com consequências, talvez, irreversíveis a longo prazo. Em uma formulação sintética, entendemos que a democracia brasileira, já enfraquecida faz tempo, está em jogo. Ou queremos um país democrático e então lutamos por ele. Ou então cairemos no fascismo aberto e isto nos levará a uma situação sem volta (pelo menos não de modo pacífico e com enormes perdas humanas).
Tomamos a liberdade de compartilhar nossa iniciativa com algumas pessoas amigas e solidárias com o resgate da cidadania e da democracia. Foi para nós grande satisfação que mais de 200 irmãs e irmãos prontamente apoiaram nossa proposta de Carta a Lula com suas assinaturas. Elas vieram de diversas regiões do Brasil e dos sínodos da IECLB. Por iniciativa de um colega que vive na Alemanha, até de lá veio apoio com mais de 20 assinaturas, entre elas inclusive de um irmão que fez questão de colocar ao lado do seu nome a palavra “operário”. A carta dirigida ao ex-Presidente Lula, com as assinaturas, foi entregue pessoalmente a ele, no dia 23 de julho, pelo Pastor Inácio Lemke, Vice-presidente do CONIC e 2º Vice-Presidente da IECLB, juntamente com o livro Radicalizando a Reforma, publicado pela Editora Sinodal (São Leopoldo, 2017). Conforme relato do Pastor Inácio – que esteve sozinho com Lula durante uma hora em sua cela na Polícia Federal em Curitiba – ele recebeu a carta que leu na hora com muita alegria e emoção. Disse depois o seguinte: “Vocês são a minha voz lá fora. Transmitam muita esperança ao povo e especialmente aos jovens desse sofrido país”. Ao término da visita, a pedido de Lula, o Pastor Inácio proferiu com ele uma oração em que rogou a Deus por forças ao ex-presidente, por paz, democracia e justiça para o país.
É importante registrar que esta carta teve uma que a antecedeu. Um pequeno grupo de pastores eméritos da IECLB escreveu uma carta pastoral que igualmente foi enviada a Lula, assinada por eles e esposas. Inspirados naquela carta, redigimos esta que depois correu o país e recebeu o apoio que aqui divulgamos. Nossa opção não implica ausência de crítica aos governos Lula e Dilma. Pelo contrário, entendemos que a avaliação crítica de algumas políticas levadas a efeito é extremamente necessária, além da investigação séria e imparcial de eventuais malfeitos devidamente comprovados. Mas não podemos nos calar diante da condenação sem provas e da injustiça daí decorrente contra Lula e outras pessoas, principalmente pessoas mais pobres, vulneráveis e necessitados em nosso país. Como muitos juristas vem alertando a opinião pública brasileira, os regimes fascistas do passado usaram os temas da “corrupção” e da “criminalização da política” como motivo para justificarem suas medidas autoritárias que levaram à guerra e ao genocídio de milhões de pessoas. Não podemos permitir que esta história se repita em nosso país. Abaixo carta de apoio que enviamos ao Presidente Lula.
Roberto E. Zwetsch e Lauri Emilio Wirth
Agora, leia o conteúdo da carta entregue ao ex-presidente Lula:
Caríssimo Presidente Lula,
Saudações fraternas. Deixe-nos chamá-lo como o povo o conhece e gosta de falar de você: Presidente Lula! Sua prisão é o atestado de que existe, sim, um golpe neste país. Golpe parlamentar-midiático, mas que também interfere na prática da justiça formal. Sua decisão de acatar a condenação injusta, porque não há nenhuma prova contra você que pudesse justificar tamanho absurdo jurídico, ao contrário do que quiseram seus algozes, o fortaleceu. Você ficou ainda mais forte na mente e no coração do nosso povo. Não por acaso seu nome está em primeiro lugar na preferência do eleitorado brasileiro que se manifesta sobre as próximas eleições. E esta posição aparece em qualquer pesquisa feita com isenção por diferentes institutos de sondagens eleitorais.
Mas pesquisa não ganha eleição, como sabemos. Por isto nós nos somamos ao movimento nacional Lula Livre! Sua libertação vai acontecer, mais dia menos dia. E quando isto ocorrer nós iremos às ruas para cantar seu nome e continuar a luta por Democracia e Justiça. Porque é disso que se trata.
Um país democrático, justo e livre deve ter uma justiça isenta, uma imprensa livre e imparcial e o direito de ir e vir garantido a todas as pessoas, independente de sua posição social, política ou econômica. E o sagrado direito da presunção de inocência como garante a Constituição cidadã de 1988. Ao submeter-se à prisão, você afiança crédito à Justiça brasileira, apesar de ela o ter condenado injustamente. E o faz para provar sua inocência. Com esta atitude, incompreensível para quem não entende a profundidade do seu gesto, você pedagogicamente demonstra ao nosso povo que temos de recuperar a dignidade da justiça e fazê-la funcionar para o bem do direito e a segurança das pessoas. Seu gesto instiga em nós a esperança de que isto um dia acontecerá.
Desejamos que você renove suas forças a cada dia quando escuta do povo da vigília o grito em alto e bom som: - Bom dia, presidente! Que em suas muitas horas de meditação, estudo e acompanhamento cotidiano da situação brasileira, seu espírito se fortaleça na busca por um país mais justo, solidário e soberano. Desejamos-lhe saúde, serenidade e muita paciência, aquela que Nelson Mandela, seu amigo pessoal, aprendeu nos muitos anos de prisão injusta.
Como membros da IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, nos manifestamos pessoalmente. Estes são nossos votos e nossas orações por você e sua família. Porque apoiá-lo neste momento é para nós muito mais que uma opção. Nós o fazemos em fidelidade ao mandato que recebemos do próprio Cristo, de anunciar Boa Notícia aos pobres, libertação aos presos, recuperação da vista aos cegos, dar liberdade aos oprimidos e alimentar a esperança em um tempo no qual a justiça seja plena para todos e todas (Lucas 4.18-19). É por isto que apoiamos governantes que colocam as necessidades básicas da população na ordem do dia da gestão pública. Pois nossa fé nos ensina que facilitar a alimentação dos pobres, garantir vestimenta e moradia aos necessitados, acolher os estrangeiros e visitar os encarcerados é uma forma de prestar culto a Deus (Mateus 25.31-46).
Abraço solidário.
Fonte: PPL
Foto: Francisco Proner/Reuters
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