05 abril, 2019

A Teologia da Libertação está mais atual do que nunca

'A Teologia da Libertação trouxe para a Igreja um sopro novo de esperança, aproximando-a dos mais pobres e desprezados pelos regimes de governos, impostos pela força e total desrespeito aos homens e mulheres que gritavam por justiça e liberdade.'


O povo de Deus nasceu para ser livre e feliz. Vivamos esta verdade com fé e coragem

Em parceria com o Professor Waldir*

“A história humana foi escrita por uma mão branca, uma mão masculina, da classe social dominante. A perspectiva dos vencidos da história é diferente. Tentou-se apagar de sua memória a recordação de seus combates. Isto os priva de uma vontade histórica de rebelião” JJ Tamayo Acosta

A América Latina do período pós Concílio Vaticano II (1962-1965) e da Conferência Episcopal Latina Americana realizada em Medellín-Colômbia em 1968 assistiu ao nascimento de uma teologia essencialmente libertadora que trazia em sua essência, como condição sine qua non, para viver o Evangelho de Cristo, a opção preferencial pelos pobres e a defesa de seus direitos. Estamos nos referindo à Teologia da Libertação.

Incompreendida – e por esta razão condenada por muitos -, a Teologia da Libertação engloba vária correntes de pensamento, que interpretam os ensinamentos de Jesus Cristo em termos de uma libertação das injustiças impostas aos mais pobres pelas condições econômicas, políticas e sociais determinadas pelo poder dominador.

Conquanto o movimento possua raízes anteriores, admite-se o ano de 1971 como seu marco inicial, dado por meio do livro “A Teologia da Libertação”, escrito pelo teólogo peruano Gustavo Gutierrez.

Não tardou para que os escritos do padre peruano se tornassem conhecidos em toda América Latina e reunisse em torno de si teólogos de renome: Jon Sobrino, Leônida Proaño, Juan Luís Segundo, Leonardo Boff, Frei Betto, além de bispos e cardeais como Dom Pedro Casaldáliga, Dom Waldir Calheiros, Dom Paulo Evaristo Arns e Dom Aloísio Lorscheider, entre outros.

A Teologia da Libertação trouxe para a Igreja um sopro novo de esperança, aproximando-a dos mais pobres e desprezados pelos regimes de governos, impostos pela força e total desrespeito aos homens e mulheres que gritavam por justiça e liberdade.

As opressões sofridas pelo povo pobre remontam aos primórdios da história humana. Na esfera da fé e dos registros bíblicos, tais como descritos no livro do Êxodo, observa-se, facilmente, as ações de Deus em prol da libertação de seu povo, das opressões impostas pelos poderosos faraós.

O Evangelho de Lucas em seu quarto capítulo apresenta o programa de toda atividade de Jesus quando ele aplica a si mesmo, a texto de Isaías 61, 1-2 que acabara de ler na Sinagoga de Nazaré, o qual anuncia a missão libertadora a ser realizada pelo Messias em favor dos pobres, assumindo-a no hoje concreto em que se encontra.

No Evangelho de Mateus, capítulo 23, Jesus critica os intelectuais e os líderes da classe dominante, que transformam o saber em poder, agindo hipocritamente e oprimindo o povo.

Condena também os líderes religiosos que sustentam um sistema formalista e hipócrita que não respeita a liberdade dos filhos de Deus.

Nos dias atuais, nos deparamos com novas opressões impostas aos mais pobres e desvalidos por meio de reformas trabalhista e previdenciária, dentre outras. O povo já oprimido e prisioneiro de um sistema cruel e desumano está em vias de ser condenado à prisão imposta pela miséria a qual será submetido, caso nenhuma ação contrária e libertadora seja impetrada.

A Teologia da Libertação, que nos ensinou a caminhar de mãos dadas na defesa dos direitos de cada um e de todos sob a luz do Evangelho – assim como tantos outros movimentos surgidos com o mesmo objetivo -, sofreu e continua a sofrer, ataques pejorativos violentos e disseminadores do ódio.

Com qual objetivo esses ataques são praticados? O que esperam alcançar com isso? Quem são os responsáveis? Estas são questões que devemos responder com propriedade e sabedoria ante as afirmações dos “hipócritas e fariseus”.

O povo de Deus nasceu para ser livre e feliz. Vivamos esta verdade com fé e coragem.

* *Professor Waldir é licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia. Agente pastoral, escritor e assessor de movimentos sociais.

Fonte: CartaCapital

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