02 setembro, 2019

Terra, trabalho e teto. Nota da Ampliada das CEBs Regional Sul 2


"O meu desejo é a vida do meu povo.” (Est 7,3)Enquanto

Enquanto Ampliada das CEBs Regional Sul 2, estivemos reunidos em São José dos Pinhais, nos dias 31 de agosto e 01 de setembro. O encontro contou com a presença de representantes de 16 Arqui/dioceses do Paraná.

As CEBs da Arquidiocese de Maringá, estava representada por Pe. Genivaldo Ubinge e eu Lucimar Moreira Bueno, somos assessores das CEBs e por Celso Ninno, Coordenador das CEBs na Arquidiocese de Maringá.

Diante da injustiça, da dor e sofrimento causado por interesses de um grupo domante às "famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais despejadas e ameaçadas pela força opressora, que travestida de justiça ameaça com despejo da terra e abandono às margens das estradas", emitimos uma nota exigindo providências das autoridades.


Segue a nota.


Construirão casas e nelas habitarão, plantarão vinhas e comerão seus frutos (Isaías 65, 21).

As Comunidades Eclesiais de Base do Paraná, reunidas em Ampliada nos dias 31 de agosto e 01 de setembro, na cidade de São José do Pinhais, levantam sua voz em defesa das famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais despejadas e ameaçadas pela força opressora, que travestida de justiça ameaça com despejo da terra e abandono às margens das estradas. No Paraná, de maio até agora, já aconteceram despejos em 04 áreas: Fazenda Gasparetto e Trento em Lindoeste; Nardo em Mangueirinha e Quilombo em Londrina, atingindo mais de 400 famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais acampadas, muitas das quais já estavam na área há mais de 15 anos plantando a terra, cuidando da vida e organizando comunidades. Fomos informados que outras 20 áreas já têm autorização do Estado para serem despejadas a partir de 02 de setembro, e outras 50 áreas sendo ameaçadas de despejo, que somaria mais de 40.000 pessoas atingidas por esse sistema “que não vale” e contra o qual gritamos.

Condenamos esse modo de governar que oprime o pobre e coloca fardos pesados sobre os ombros dos trabalhadores e trabalhadoras cansados da luta diária e nos somamos aos que resistem bravamente nas trincheiras contra a retirada de direitos.

Compreendemos a política como nobre exercício da caridade e cumprimento do Evangelho de Jesus de Nazaré. Repudiamos a ausência de diálogo e a imposição da força contra a vida. Repudiamos também a sobreposição do lucro e acúmulo de bens e de terra.

Denunciamos a forma perversa, cruel, ameaçadora e truculenta com que são tratadas as famílias acampadas, a falta de escuta, as violências psicológicas e o desrespeito com o modo de agricultura familiar e de subsistência.
Acreditamos no diálogo e na justiça como instrumentos eficazes na busca pela paz no campo e promoção da vida plena. Em sintonia com toda Igreja do Paraná, reafirmamos o lema da 32º Romaria da Terra, realizada recentemente na cidade de Lindoeste: Nenhum: camponês sem-terra, mulher sem direito, jovem sem educação e criança sem saúde.

As CEBs em comunhão com a Doutrina Social da Igreja – DSI – fruto da Palavra de Deus, reconhecem a Terra-Mãe como herança de Deus para todos seus filhos e filhas, e acreditam na sua função social salvífica da terra, na Justiça como exigência fundante e existencial do Reino de Deus como base, alicerce à garantia dos direitos humanos fundamentais, entre eles a primazia do direito à Terra. A Palavra de Deus se realiza na vida de seu povo através de politicas publicas que transformem as relações de opressão em relações de cuidado.

As Comunidades Eclesiais de Base do Paraná ousam acreditar que a esperança se faz na unidade dos pequenos e que lutar é um verbo a ser conjugado em todas as pessoas e em todos os tempos. “Felizes os mansos porque herdarão a terra!” (Mt 5, 5). Conclamamos a todos e todas a exigirem das autoridades posição e encaminhamentos em favor dessas famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais. Basta de descaso, sofrimento e desolação. Somos a Igreja do Pão, do Pão partilhado, do abraço e da Paz.

Ampliada das CEBs Regional Sul 2

São José dos Pinhais, às margens da nascente do rio Iguaçu, 01 de setembro de 2019.

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