JOCA, UM MENINO NEGRO E PERIFÉRICO, tinha 16 anos quando
tentou participar de uma mobilização estudantil de sua escola. Ele se sentia
atraído pela política porque se indignava com a precariedade da vida cotidiana
de Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre, um dos municípios mais
violentos do Brasil. Durante mobilização para um protesto, ele discordou dos
cartazes contra a polícia militar por ser sobrinho de um policial. Um colega o
chamou de fascista, e eles brigaram a socos.
Hoje, com 23 anos, Joca já é pai e dirige 16 horas por dia
para um aplicativo. Já foi assaltado e perdeu seu carro, o que ajudou a
torná-lo um punitivista convicto, dando seu primeiro voto a Bolsonaro.
Eu não presenciei a briga para saber o que aconteceu de
fato. O que tenho é apenas uma narrativa construída sobre uma indignação que
não achou o seu lugar na esquerda. A resolução do conflito foi soco e virada
reacionária.
O objetivo desta minha coluna não é conjecturar sobre a
verdade do que se passou, mas refletir sobre um possível novo futuro. Desde que
ouvi essa história no ano passado, tenho me perguntado: como poderia ter sido
diferente? Joca continua sendo um jovem negro, vítima da violência estrutural
de um sistema racista e classista, e quem o abraçou foi o bolsonarismo. Ainda
não tenho as respostas, mas penso que, nas redes e fora delas, uma grande parte
da esquerda está mais fechada do que aberta. Repele mais do que acolhe. Cancela
mais do que dialoga.
Carteirinha de credenciamento
A maneira como a esquerda e a extrema-direita recrutam seus
membros tem sido muito...Para continuar a ler, clique AQUI.
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