11 dezembro, 2019

Por que a esquerda não está conquistando novos corações



JOCA, UM MENINO NEGRO E PERIFÉRICO, tinha 16 anos quando tentou participar de uma mobilização estudantil de sua escola. Ele se sentia atraído pela política porque se indignava com a precariedade da vida cotidiana de Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre, um dos municípios mais violentos do Brasil. Durante mobilização para um protesto, ele discordou dos cartazes contra a polícia militar por ser sobrinho de um policial. Um colega o chamou de fascista, e eles brigaram a socos.

Hoje, com 23 anos, Joca já é pai e dirige 16 horas por dia para um aplicativo. Já foi assaltado e perdeu seu carro, o que ajudou a torná-lo um punitivista convicto, dando seu primeiro voto a Bolsonaro.

Eu não presenciei a briga para saber o que aconteceu de fato. O que tenho é apenas uma narrativa construída sobre uma indignação que não achou o seu lugar na esquerda. A resolução do conflito foi soco e virada reacionária.

O objetivo desta minha coluna não é conjecturar sobre a verdade do que se passou, mas refletir sobre um possível novo futuro. Desde que ouvi essa história no ano passado, tenho me perguntado: como poderia ter sido diferente? Joca continua sendo um jovem negro, vítima da violência estrutural de um sistema racista e classista, e quem o abraçou foi o bolsonarismo. Ainda não tenho as respostas, mas penso que, nas redes e fora delas, uma grande parte da esquerda está mais fechada do que aberta. Repele mais do que acolhe. Cancela mais do que dialoga.

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