Com chavões do tipo “acredito em Deus”, “Deus abençoe nossa
pátria querida”, além do conhecido mote de campanha “Brasil acima de tudo, Deus
acima de todos”, Bolsonaro se dirige frequentemente à nação com discursos que,
mesmo recheados de boas e piedosas intenções, são absurdamente equivocados,
revelando uma radical ausência de saudável discernimento e de qualquer
razoabilidade.
Neste momento da nossa história, mais do que em qualquer
outro período, ouvir a ciência e as autoridades competentes é a melhor maneira
de viver a genuína fé cristã, fé que não nega a razão, antes dialoga e interage
com ela.
Além disso, as falas do presidente são verdadeira apologia
ao ódio, à ignorância e ao fanatismo, realidades que não só não encontram
nenhum respaldo na experiência cristã, como são rechaçadas como contrárias ao
projeto de vida dos filhos de Deus.
Infelizmente, alguns dos chamados “apoiadores” de Bolsonaro
têm protagonizado verdadeiras cenas farisaicas de orações públicas, de
flagrante falsa veneração às imagens sacras de Nossa Senhora de Fátima e do
Jesus da Divina Misericórdia no intento de dar legitimidade aos seus
pensamentos. Ao seu tempo, Jesus foi vítima de todas estas coisas desprezíveis
defendidas por Bolsonaro e por muitos dos seus discípulos. O que mais o
presidente tem feito é disseminar divisão e confusão, tarefas que nunca foram
atribuídas ao Deus Único, mas sim ao seu adversário, o “pai da mentira”. Como,
de sã consciência, e em nome do Deus de Jesus Cristo, alguém seria capaz de
defender o retorno da sanguinária ditadura militar no Brasil?
Num tempo em que os próprios teólogos cristãos são
desafiados a repensar a questão de Deus em meio a uma espécie de politeísmo
prático que vivemos, creio que eu não seja o único a me perguntar: a que “deus”
Bolsonaro se dirige? E embora eu já tenha um pensamento formado sobre a
identidade da divindade evocada pelo presidente, por enquanto o que me é mais
claro é que não se trata do Deus de Jesus Cristo, o Deus que eu conheci na
minha juventude, o Deus do êxodo, o Deus dos profetas, enfim o Deus que convoca
para a paz e para a fraternidade, que indica o caminho do diálogo e da
compaixão.
Se o “deus” evocado pelo presidente, um “deus” que está
sempre a procura de um inimigo para eliminar, fosse o único possível, eu
pediria imediatamente para ser acolhido na fileira dos ateus. Cada vez fica
mais fácil compreender os ateus e mais difícil compreender os que se dizem
cristãos e não cessam de usar o “Nome de Deus em vão”.
Mas nem tudo está perdido. A Boa Notícia é a de que esse
“deus”, o do presidente, não é o único. Felizmente temos a liberdade de
escolher Outro. Que o Espírito Santo nos dê o discernimento correto neste tempo
em que todos deveríamos ter um único foco, o cuidado da vida, no combate ao
inimigo comum, o coronavirus!
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