Já faz algum tempo que flexibilização virou a palavra queridinha do mundo do trabalho. A promessa é de horários menos rígidos, ambiente de trabalho descolado, home office e coisas do tipo. Tudo muito legal, se junto não viesse a redução de direitos trabalhistas. Há pouco mais de uma década, a cilada aumentou com a chegada de aplicativos como a Uber. Quem não quer escolher os próprios horários, não ter chefe, ficar mais tempo com a família?
Só que, 12 anos depois, as notícias agora são de motoristas cancelando corrida o tempo todo e largando o app. O que aconteceu nesse meio tempo?
Bom, acontece que o processo de uberização altera a forma, mas não ameaça o modelo de acumulação capitalista. Pelo contrário, a flexibilização sem limites aprofunda a submissão do trabalhador e amplia as possibilidades de lucro dos capitalistas.
Quem define o percentual que o trabalhador ganha e quais corridas ele pode fazer é o algoritmo. Então, na prática, aquela história de não ter chefe não é bem verdade. A diferença é que o chefe não tem rosto nem nome – mas tem um poder gigante.
Se na chegada os ganhos pareciam altos, depois de um tempo a situação foi mudando. A liberdade de não ter chefe e trabalhar quando quiser virou ter que trabalhar quase o tempo todo para conseguir sobreviver. Ou seja, o trabalhador tem a "liberdade" de trabalhar 12 horas por dia. Quer dizer, com o preço da gasolina nas alturas, muitos chegam a fazer jornadas de até 16 horas para pagar as contas.
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