24 março, 2023

Santo Oscar Romero, um convite à reflexão.

Nesta sexta-feira, 24 de março, memória de Santo Oscar Romero

Para um pastor, nada conta mais do que o "povo" e os "pobres", as últimas homilias de Oscar Romero ele as proferiu na catedral junto com o seu povo e no pequeno hospital junto com as e os doentes incuráveis.


No dia 24 de março de 1980, Dom Romero proferiu a sua última homilia na capela do Hospital da Divina Providência para doentes de câncer.

Perto de seu quarto, as pessoas mais próximas eram mulheres doentes de câncer incurável, pobres todas elas que além do sofrimento pela doença havia nelas angustias, tristezas e preocupações com suas filhas e filhos de como seria após sua morte. Essas mulheres eram retrato de tantas mães de filhas e filhos desaparecidos, torturados, mortos e de todo um povo sofredor.

No dia 24 de março, às 17 horas, ele celebrou uma missa de aniversário pela Dona Sarita. A imprensa havia anunciado a missa, o que podia ser um aviso para aqueles que queriam assassiná-lo, más Dom Oscar Romero celebrou e a sua homilia terminou com estas palavras:

"Que este corpo imolado e está carne sacrificada pelos homens nos alimente também para dar o nosso corpo e o nosso sangue ao sofrimento e à dor, como Cristo, não para si, mas para dar conceitos de justiça e de paz ao nosso povo. Unamo-nos, pois, intimamente, na fé e na esperança a este momento de oração pela Dona Sarita e por nós."

Nesse momento, ecoou o tiro que se deu pelas mãos de um atirador de elite. Sua identificação com Cristo, sua entrega ao seu Deus e sua entrega ao seu povo tinham se consumado.

Dom Oscar Romero, Fez uso do magistério da Igreja e fez um uso ainda maior do evangelho de Jesus, em suas homilias na catedral trouxe os clamores do povo que subiam até o céu e suas homilias expressava a denúncia e o anúncio, a exigência de conversão e a necessidade de não perder à esperança.

Oscar Romero, em sua última homilia contou como ele as preparava. "Peço ao Senhor, durante toda a semana, enquanto vou recolhendo o clamor do povo e a dor de tantos crimes, a ignomínia de tanta violência, que me dê a palavra oportuna para consolar, para denunciar, para chamar ao arrependimento, e, embora eu continue sendo uma voz que clama no deserto, sei que a Igreja está fazendo o esforço para cumprir a sua missão."

Em relação a acusação de envolvimento na política, na homilia de 23 de março, disse: "Eu já sei que há muitos que se escandalizam com esta palavra e querem acusá-la de ter deixado a pregação do evangelho para se meter na política. Mas eu não aceito essa acusação e faço um esforço para que tudo o que o Concílio Vaticano II, a reunião de Medellín e de Puebla quiseram nos impulsionar, não só o tenhamos nas páginas e o estudemos teoricamente, mas também que o vivamos e o traduzamos nesta conflitiva realidade de pregar o evangelho para o nosso povo como se deve."

A verdade sempre dita por Oscar Romero ressoou expressivamente na denúncia e no abrir-se para acolher a denúncia. Em sua homilia no dia 17 de fevereiro de 1980 disse: "Todo aquele que denuncia deve estar disposto a ser denunciado, e se a Igreja denuncia as injustiças ela está disposta também a escutar que é denunciada e é obrigada a se converter... Os pobres são o grito constante que denuncia não só a injustiça social, mas também a pouca generosidade da nossa própria Igreja"

Trazemos presentes algumas de suas denúncias.

"Faço um chamado à oligarquia: não idolatrem as suas riquezas, não as salvem deixando morrer de fome os demais" (Homilia de 6 de janeiro de 1980 ).

"A Junta de Governo deve ordenar, de forma eficaz, o cessar imediato de tanta repressão indiscriminada, porque a Junta também é responsável pelo sangue, pela dor de tantas pessoas. As Forças Armadas, sobretudo os corpos de segurança, devem depor essa fúria e ódio quando perseguem o povo, devem demonstrar, com fatos, que estão a favor das maiorias e que o processo que se iniciou é de caráter popular. Vocês, ou muitos de vocês, são de extração popular, razão pela qual a instituição do Exército deveria estar a serviço do povo. Não destruam o povo. Não sejam vocês os promotores de maiores e mais dolorosas explosões de violência com que um povo reprimido poderia reagir, e com justiça" (Homilia de 20 de janeiro de 1980).

"A essas organizações populares e, sobretudo, as de caráter militar e guerrilheiro, do sinal que forem, digo-lhes também que cessem já esses atos de violência e terrorismo" (Homilia de 20 de janeiro de 1980).

"Queridos irmãos, as reivindicações do povo são muito justas e é preciso continuar defendendo a justiça social e o amor aos pobres. Mas, para isso, se de verdade amamos o povo e tentamos defendê-lo, não lhe tiremos o mais valioso: sua fé em Deus, seu amor a Jesus Cristo, seus sentimentos cristãos" (Homilia de 10 de fevereiro de 1980).

"Urge que as organizações populares vão amadurecendo para que cumpram a sua missão de chegar a ser intérpretes da vontade do povo" (Homilia de 24 de fevereiro de 1980).

"Não calemos os pecados, mesmo os da esquerda, mas estes são desproporcionalmente menores diante da violência repressiva" (Homilia de 9 de março de 1980).

Uma nova Igreja de pobres e perseguidos

"Alegro-me, irmãos, pelo fato de a nossa Igreja ser perseguida, precisamente pela sua opção preferencial pelos pobres" (Homilia de 15 de julho de 1979).

"Seria triste que, em uma pátria onde se está assassinando tão horrorosamente, não contássemos os sacerdotes também entre as vítimas. Eles são o testemunho de uma Igreja encarnada nos problemas do povo" (Homilia de 24 de junho de 1979).

Santo Oscar Romero, rogai por nós!

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