“uma boa fundamentação para a CF 2024 seja recuperarmos a voz do mundo urbano da cidade do Rio de Janeiro, expressa nas contribuições do Profeta Gentileza (1917-1996), cujos Dez Mandamentos para a amizade social estão escritos nas pilastras que sustentam a antiga Perimetral” escreve Francisco Orofino, em artigo publicado por Portal das CEBs, 26-01-2024
Eis o artigo.
A Campanha da Fraternidade deste ano de 2024 tem como Tema “A Fraternidade e a Amizade Social”. O Lema, tirado do Evangelho de Mateus (Mt 23,8), diz “Vós sois todos irmãos e irmãs”. Segundo o Texto-Base, a CF 2024 quer “despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos”. Ou seja, a CF 2024 aponta para uma possível pacificação política no Brasil e o desejo de que os vários conflitos espalhados pela Terra sejam solucionados com diálogo, amizade e paz. Objetivos bem ambiciosos, sem dúvida.
Como a Campanha da Fraternidade virou uma máquina pastoral onde, antes de acabar uma já se pensa na próxima sem uma devida avaliação, fica sempre meio difícil saber exatamente o que teria levado a coordenação das CFs a escolher um determinado Tema. Podemos pensar em dois motivos. Um primeiro seria a polarização sócio-política que se instalou aqui no Brasil desde as jornadas de 2013, polarização esta que deixou clara a divisão política do Brasil, constatada nas últimas eleições presidenciais. Mas um outro motivo também é importante. A CF 2024 é uma boa ocasião para acolher e aprofundar a Carta Encíclica Fratelli Tutti do papa Francisco, “sobre a Fraternidade e a Amizade Social”. Neste artigo vou valorizar este segundo motivo.
O papa Francisco lançou sua Carta Encíclica Fratelli Tutti no túmulo de São Francisco de Assis no dia da festa do santo no ano de 2020. Em plena pandemia na Covid 19. O título desta Encíclica é tirado das Admoestações escritas por Francisco de Assis, uma pessoa que tinha plena consciência de ser portador de um projeto de evangelização em que ele “semeou a paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, enfim, dos últimos” (FT 2).
Depois de uma profunda análise da atual conjuntura no capítulo I de sua Carta, com o título “As sombras de um Mundo Fechado”, o papa Francisco faz a fundamentação bíblica de seu escrito no segundo capítulo (Um estranho no caminho – FT 56 a 86) com um belo comentário à parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37). Fica claro que Francisco se vale do método da Leitura Popular da Bíblia, bem desenvolvido aqui na América Latina. Creio ser esta também a fundamentação bíblica da CF 2024.
Ao fazer a análise das diferentes atitudes dos personagens da parábola (FT 72-76), Francisco ressalta que também hoje as pessoas religiosas, dedicadas a prestar seu culto a Deus, passam distantes dos caídos, ressaltando que “o fato de crer em Deus e adorá-lo não é garantia de viver como agrada a Deus” (FT 74). Esses que passam pelo caminho olhando para o outro lado e ignorando o caído, são tão violentos quanto os salteadores que atacaram e roubaram aquele infeliz.
Ressaltando as atitudes do samaritano, o papa convoca a todos e todas a serem irmãos e irmãs tendo consciência de sermos seres sociais capazes de iniciar e gerar novos processos e transformações. Ter amizade social significa empenhar-se em reabilitar os caídos e sanar sociedades feridas (FT 77). Lembrando que o samaritano fez o que lhe pedia a compaixão e a misericórdia, “partindo sem esperar reconhecimento nem agradecimentos” (FT 79).
O capítulo 6 da FT tem como título “Diálogo e Amizade Social”. Aqui, o papa aponta atitudes concretas de quem busca ter consciência de ser uma pessoa aberta aos outros e outras. “Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isso se resume no verbo ‘dialogar’” (FT 198). A amizade social exige uma abertura para o diálogo social tendo em vista a construção de uma nova cultura do encontro (FT 215). Aqui, o papa se fundamenta nas atitudes ressaltadas por Paulo na carta aos Gálatas: “o fruto do espírito é amor, alegria, paz, generosidade, benevolência, bondade, fé, gentileza e autodomínio” (Gl 5,22-23). Francisco ressalta aqui o termo “benevolência” (em grego késtótês) uma palavra que no seu sentido original significa “prestabilidade ou vontade de ser útil a outrem” como uma boa atitude de quem busca construir amizades sociais (cf. FT 223).
Acredito que uma boa fundamentação para a CF 2024 seja recuperarmos a voz do mundo urbano da cidade do Rio de Janeiro, expressa nas contribuições do Profeta Gentileza (1917-1996), cujos Dez Mandamentos para a amizade social estão escritos nas pilastras que sustentam a antiga Perimetral. São eles:
1. Gentileza gera gentileza.
2. Nunca é tarde demais para a bondade, porque você nunca sabe quando será tarde demais.
3. Quem não veio para servir não serve para viver, deve desaparecer.
4. O dinheiro é a raiz de todo mal, a planta de toda infelicidade.
5. O diabo é o capital, que vende tudo e destrói tudo.
6. A gentileza é como a criança dentro de nós, basta deixar que ela exista.
7. Um amigo verdadeiro é capaz de ouvir sem críticas; é capaz de dar sem que ninguém perceba; A amizade não cobra, não impõe, não exige, simplesmente existe.
8. Todas as pessoas têm algum talento que pode ser explorado de alguma forma. Basta olhar para o que essas pessoas são boas.
9. Gentileza começa a ser praticada em casa, permitindo que nossos filhos pulem e sejam inocentes. A criança tem que ser criança!
10. Como ser feliz no trabalho? Amando. Como ser uma pessoa completa? Trabalhando. Como alcançar a plenitude? Sendo gentil.
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