A arquidiocese de Maringá viverá nesse final de semana (24 e 25) momento marcante de sua história, a realização da assembléia, que já vem acontecendo a algum tempo, de forma participativa envolvendo a base. Um processo longo que vem proporcionando novas expectativas, novos sonhos, um novo encanto. Precisamos nos deixar levar pela ação do Espírito Santo, para que a igreja que se encontra na arquidiocese de Maringá seja expressão da vontade de Deus.
Fazendo parte desse processo o Arcebispo Dom Anuar Battisti convidou Pe Angenor Brighenti, que esteve segunda feira (19) falando para o clero e as lideranças. Segue uma pequena síntese da riqueza que foi esse encontro.
Síntese
Pe Angenor Brighenti disse que a forma como esta sendo realizada o processo da assembléia vem ao encontro com a Conferência de Aparecida, uma renovação eclesial e uma ação pastoral repensada. Discernimento da realidade para poder evangelizar. O conhecimento da realidade é fundamental.
A ação da Igreja evangelizadora é uma ação contingente. A ação pastoral tem que potencializar o ser humano. Não há uma conversão para Jesus se não houver uma conversão da realidade. Colocar os pés no chão é o primeiro ato da evangelização. A esperança nos faz olhar para a realidade, com base em alguém que venceu todas as barreira. Olhar a realidade com esperança, sem perder a utopia.
A igreja é um povo peregrino. Povo convidado a caminhar.
Primeiro colocar os pés no chão e depois frisar o olhar no horizonte. Aonde quer chegar.
Estamos vivendo desencantamento, promessas não realizadas, crise da utopia, certa ditadura do contexto atual que leva a não ver um horizonte. Mas nós cristãos somos morada do Reino de Deus. Temos que antecipar o mais que possível na história esse Reino.
O presente é importante, mas precisamos olhar o realizado e levantar os olhos e traçar o horizonte, tendo como fonte a Palavra de Deus, o Documento de Aparecida e as novas diretrizes da CNBB.
Pés no chão, olho no horizonte e sujar as mãos, ir à luta. Trilhar o caminho desde o ponto de partida para se aproximar no ponto de chegada (itinerário). O documento de Aparecida traz o itinerário, mas precisa trazer para a realidade da arquidiocese.
O horizonte de chegada tem que almejar uma sociedade justa que requer estruturas justas. Aí esta do desafio, uma Igreja mais presente fora da Igreja.
É preciso aprender a trabalhar com os outros, com o diferente. Se preocupar com a transformação das estruturas.
Horizonte e ponto de chegada para nós. Estamos vivendo em profundas transformações, Crises. Estamos em uma encruzilhada, fizemos um determinado caminho e hoje tem novos desafios, precisa-se repensar o que estávamos fazendo para responder as novas perguntas.
Na incerteza do amanhã tem pessoas que estão perdidas, depressivas, com medo. Estamos atentados a ficar agarrados ao presente e a coisas palpáveis. A religião precisa deixar possuir-se por Deus e não possuir Deus.
A visão retrospectiva busca resposta no passado, trazer o ontem para hoje, não podemos usar essa visão para nos refugiarmos.
O nosso tempo é para criar o novo, aí temos uma outra visão a visão prospectiva, assumir o presente e diante dos desafios, com experiência passada projetar o futuro, voltado na esperança.
Com Aparecida estamos vivendo o novo, precisamos mudar para virar a pagina para frente. Não significa ignorar o presente e desprezar o passado. É preciso saber de onde a gente veio para traçar para onde vamos.
Aparecida no primeiro momento vê o que do passado é luz e o que não podemos perder de vista:
VATICANO II
- o primário da Palavra
- a base laical da Igreja
- a Igreja toda na Igreja local
- o reino de Deus na eclesiologia
- a presença de diálogo e serviço
Igreja toda ministerial, de total igualdade. Cada diocese pode encarnar sua realidade, ter o rosto de seu povo.
Existe salvação fora da Igreja, a igreja não é o fim e sim o meio. Existem obras feitas fora da Igreja e a Igreja precisa trabalhar junto. Requisitar e trabalhar junto com pessoas de boa vontade. Uma Igreja que se coloca em diálogo e serviço.
Medellím
- a opção pelos pobres
- a evangelização ligada à promoção humana
- a simultaneidade entre conversão pessoal e estrutural
- as CEBs
- a intuições de teologia latino-americana
O pobre está por todo lado, a Igreja precisa estar inserida. Hoje 80% passa fome e 20% dorme com medo de quem tem fome.
Se a salvação é do corpo e da alma então a evangelização tem que levar a promoção humana, preocupar-se com a pessoa inteira e com todas as pessoas.
Promover a sociedade solidária. Conversão das pessoas e das estruturas.
A Igreja tem que valorizar as pequenas comunidades (CEBs). Temos que ter clareza do que queremos. Queremos uma Igreja de massa que em todo momento esta na mídia ou queremos uma Igreja que tem vivencia e a experiência de comunhão, partilha, com espaço de iniciação cristã, educação e celebração da fé aberta aos serviços e ministérios a exemplo das CEBs. A Igreja precisa ser comunidades de interação.
Puebla
- Igreja comunhão e participação
- a inculturação
- os jovens como prioridade
Comunhão não para ficar só em nós mesmo, mas uma comunhão partilhada na Igreja e fora da Igreja. Uma Igreja presente na sociedade. Atualizar a Palavra de Deus e nossa fé na realidade em que vivemos. Não podemos evangelizar sem levar a serio a cultura, as diversidade das realidades.
A Igreja precisa valorizar e abrir espaço para a juventude.
Santos Domingo
- O protagonismo de leigos na evangelização
Todos os batizados, leigas e leigos precisam participar com poder de decisão. Aparecida traz a perspectiva do futuro o protagonismo das mulheres, sua participação em toda a instancia da Igreja e da sociedade.
A Conferência de Aparecida apresenta eixos temáticos que ajudam olhar o futuro.
- Vida em abundância, em um mundo bom, mas globalizado e excludente.
vida em sentido amplo, aparecida ver o mundo hoje como bom, apesar de ser excludente. Coração do mundo no coração da Igreja e o coração da Igreja no coração do mundo. A vida é abordada em sentido amplo. A vida plena de Deus. ‘para o homem todo e todos os homens”(399) no respeito e no cuidado da biodiversidade do planeta (66).
Depredar a natureza é colocar em risco a nossa vida. A natureza é morada de Deus. Cada ano seis espécie desaparece.
- o Dom da vida na obra da criação, dentro dela, o dom da vida dos seres humanos, criado a sua imagem e semelhança (104) é uma dádiva a ser partilhado, a tornar-se missão (106). Jesus ao mesmo tempo em que nos faz discípulos seus, nos envia a defender e promover a vida de todos, expressão do Reino de Deus (131).
A vocação de discipulado é “con-vocação” à missão (156).
- Nossa missão é cuidar e promover a vida, vida humana e da natureza
A vocação de discipulado é cuidar e promover a vida, vida humana e da natureza.
O discipulado missionário é uma tarefa a ser levada a cabo no seio de uma comunidade concreta, a sua Igreja.
O núcleo da mensagem do Documento é uma Igreja em estado permanente de missão, composta de discípulos que, na alegria do chamado, se fazem defensores e promotores da “vida em abundância”, que Jesus veio trazer pela inauguração do Reino de Deus (145).
- Uma Igreja comunidade de pequenas comunidades
A vivencia e a experiência de comunhão na Igreja exige comunidades de tamanho humano, a exemplo das CEBs (179).
Para isso, é urgente a renovação da paróquia, através de sua “setorização em unidades menores”(372) e a constituição, dentro dos setores de “comunidades de famílias” (372). A paróquia precisa ser espaço de iniciação cristã, educação e celebração da fé, aberta à diversidade dos carismas, serviços e ministérios.
- Discípulos e missionários inserido no mundo
A missão leva ao “coração do mundo”, pois “não é fuga ao intimismo ou ao individualismo religioso, tom pouco abandono da realidade urgente dos grandes problemas econômicos, sociais e político da América Latina e do mundo e, muito menos uma fuga da realidade (384)”.
- Em um mundo predominantemente urbano
Hoje 80% da população do continente vivem nas cidades “grandes laboratórios da cultura contemporânea” (509), com nova linguagem, que se estende também ao mundo rural (510).
“O anuncio do evangelho não pode prescindir da cultura atual, que deve ser conhecida e, em certo sentido, assumida pela Igreja” (480). Faz-se necessário um etilo de ação adequada à realidade urbana em sua linguagem, estrutura, práticas e horários, um plano de pastoral, orgânico e articulado, que incida sobre a cidade, em seu conjunto (518).
Novidades de Aparecida
1ª)
O ser humano como caminho da Igreja (399):
- O ponto de chegada da ação evangelizadora é a vida em abundância para a pessoa inteira e todas as pessoas, descentrando a Igreja de suas questões internas.
2ª)
Uma Igreja em estado permanente de missão (144):
- Integrante de identidade cristã, todos são missionários; cada comunidade eclesial ser um poderoso centro irradiador de vida.
Infelizmente as bandeiras não são levantadas pela Igreja. A Igreja precisa estar junto, precisa interagir. A missão é irradiar e encarnar o Evangelho.
3ª)
Uma missão não exclusiva (384):
- Na perspectiva do Reino, esta a necessidade de trabalhar em colaboração, “com outros organismos ou instituições” empenhados em promover a vida.
4ª)
Uma missão em perspectiva mundial (384):
- A promoção da vida das pessoas e de nossos povos implica a necessidade de organizar estruturas mais justas, em nível nacional e internacional.
A Igreja precisa trabalhar leigos e leigas para entrarem nas esferas publicas, nas estruturas. Educar consciência política.
5ª)
Uma missão, na perspectiva da opção pelos pobres, que constituem o mundo da insignificância (65):
- “Os excluídos não são somente ‘explorados’, mas ‘sobrantes’e ‘descartáveis’”, dos quais o mercado prescinde.
6ª)
Em busca da vida, muitos deixam a Igreja:
- Os que vão para as seitas, não estão querendo sair da Igreja, mas estão buscando sinceramente Deus (255).
Falta experiência profunda de fé.
7ª)
O protagonismo da mulher. A eficácia de evangelização, hoje, passa pelo protagonismo da mulher (458b):
- Uma organização pastoral que garanta “a afetiva presença da mulher nos ministérios que a igreja confia aos leigos bem como nas esferas de planejamento e decisão”.
8ª)
Nossos mártires, nossos santos ainda não canonizados (98):
- na defesa, cuidado, restauração e promoção da vida temos muito que aprender de testemunho de nossos mártires, nossos santos ainda não canonizados. O empenho da Igreja em favor dos pobres, em muitos casos, redunda em perseguição e morte de muitos.
É preciso rever a caminhada, acolher, não impor, chegar até as pessoas, levar ao seu crescimento pessoal.
Quando acolhe Jesus a gente forma comunidade. Se a comunidade se fecha ela morre.
A comunidade tem que estar a serviço, dentro e fora da Igreja para uma sociedade justa e solidária.
A missão ao discipulado é viver o batismo, exercer o ministério da palavra, liturgia e caridade. Tem que levar para o amor, para a partilha, para a solidariedade.
Os discípulos precisam ser formados, na instrução cristã, catequese, formação teológica e a espiritualidade. O missionário precisa cuidar da espiritualidade.
Mecanização de todos as esferas e também da religião. A cultura do capitalismo atinge a todos mas apenas alguns tem acesso aos seus benefícios.
Uma coisa é o trabalho de massa e estar na mídia. Outra coisa é o trabalho da pequenas comunidades, de base, sem ser percebida, mas que atinge a evangelização e a transformação da sociedade e suas estruturas, a exemplo das CEBs.
Não podemos estar presos em quantidade, a Igreja precisa evangelizar mesmo, sem se preocupar em fazer sucesso.
Se renunciarmos as comunidades estamos destruindo o cristianismo. Precisamos de profetismo, se não entramos na aparência, na mídia.
É preciso além da preferência pelos pobres é preciso trabalhar na ótica dos pobres e também no lugar social dos pobres, inserir no mundo.
Será que o pobre olhando para a igreja ela vê motivo para ter esperança? Ou para desesperar?
Há lugares sociais que a Igreja precisa chegar. Ir ao local dos pobres é para tirar eles de lá, para isso é preciso partilhar sua vida.
A esperança nos faz olhar para a realidade, com base em alguém que venceu todas as barreira. Olhar a realidade com esperança, sem perder a utopia.
Lucimar Moreira Bueno (Lucia)
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