25 julho, 2018

Não há paz para os ímpios


Não há paz para os ímpios

"Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5, 9).
Santo Agostinho define a paz como sendo a tranquilidade da ordem.Não se trata, portanto, de qualquer tranquilidade - como a que poderia existir num cemitério -, mas a da ordem.

Promover a paz significa primordialmente rezar e agir para que haja ordem em cada pessoa. E a ordem só será conseguida se ela evitar o pecado, obedecendo aos Mandamentos.

Plinio Corrêa de Oliveira assim define o pecado: "... um ato de revolta contra Deus, que o homem praticou violando a ordem por Ele instituída".

O pecado provoca a desordem não só no indivíduo, mas também na sociedade; e até mesmo no universo, conforme afirmou Paulo VI:
"Todo pecado, efetivamente, acarreta uma perturbação da ordem universal, por Deus estabelecida com indizível sabedoria e caridade infinita, e uma destruição de bens imensos, quer se considere o pecador como tal, quer a comunidade humana."

Diz a Escritura: "Grande paz têm aqueles que amam vossa Lei" (Sl 118, 165). Portanto, não há paz para os ímpios, pois desprezam a Lei de Deus.

E Jesus continuou: "... serão chamados filhos de Deus": Ensina o Apóstolo: "Se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, se, de fato, sofremos com Ele, para sermos também glorificados com Ele" (Rm 8, 17). Ou seja, o Criador os receberá no Reino dos Céus.

As perseguições morais são mais perniciosas

"Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus" (Mt 5, 10-12).

"Justiça", nesse caso, significa santidade, a qual consiste não apenas na perfeição moral de si mesmo, mas na luta "pelos interesses e a glória de Deus, de Cristo, da Igreja".

As hagiografias demonstram como os santos sofreram perseguições físicas, que às vezes chegaram até ao martírio. Mas existem também as perseguições morais, que são mais perniciosas.

"No mundo de hoje, quantos perdem a Fé, por não aguentarem a pressão do ambiente de ateísmo prático que os envolve? E por isso, em nossos dias, talvez seja mais meritório proclamar a Fé diante do riso irônico de um círculo de pseudoamigos, do que o era ante o rugido das feras no Coliseu, nos primeiros tempos do Cristianismo.

"Por vezes, pior ainda do que a perseguição dos maus, é a incompreensão dos bons."

Os verdadeiramente bons sofrem não apenas devido às perseguições movidas contra suas pessoas, mas sobretudo por aquelas desferidas contra a Igreja Católica por inimigos externos ou internos. Estes últimos são "muito mais perigosos certamente e mais funestos do que os inimigos declarados, não só porque lhes secundam os esforços [...], como também porque, mantendo opiniões condenadas, mas dentro de certos limites, tomam uma aparência de integridade e de doutrina irrepreensível, aliciando os imprudentes amigos de conciliações e enganando as pessoas honestas, que se revoltariam contra um erro declarado."

Os que sofrerem essas perseguições com espírito altaneiro, pleno de Fé, de amor a Deus e ao próximo, receberão um prêmio eterno: o Reino dos Céus, infinitamente superior à felicidade que se pode conseguir neste mundo.

Antegozo, já nesta Terra, da felicidade eterna

"Com essas oito sentenças, Jesus indicou a via para alcançar o Céu, onde veremos a Deus face a face e participaremos da própria vida divina, possuindo a mesma felicidade da qual Ele goza. E quem rege sua conduta de acordo com elas começa por antegozar espiritualmente, já nesta Terra, a felicidade eterna.

"As Bem-aventuranças não são, portanto, frases para serem estudadas apenas com a inteligência, de modo frio, mas sim princípios de vida a serem lidos e meditados com o coração, com o calor de alma de quem quer se pôr a caminho, seguindo os passos de Nosso Senhor.

"Com uma suavidade toda divina, elas nos convidam à radicalidade na prática do bem, pois o padrão de virtude que nelas Cristo nos propõe não é outro senão Ele mesmo, o próprio Deus!"

O Sermão da Montanha é atualíssimo, pois "as raízes dos males atuais são idênticas às dos horrores da época de Jesus, que sinteticamente assim se poderiam enunciar: ‘a finalidade última do homem se cumpre nesta Terra; por isso ele deve fruir todos os prazeres que a vida e este mundo lhe oferecem'. Embora muitas pessoas afirmem que creem em Deus, vivem como se Ele não existisse.

"Falta à humanidade uma graça eficaz que a faça, como o filho pródigo, ter saudades da casa paterna e querer retornar às delícias das consolações de quem ama verdadeiramente a Deus, seus Mandamentos, e ao próximo como a si mesmo."

Peçamos a Nossa Senhora essa graça, a fim de que seja implantado logo e com todo esplendor o Reino de seu Imaculado e Sapiencial Coração.

Por Paulo Francisco Martos
(in "Noções de História Sagrada" 157)

Fonte:  Gaudium Press

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1 - Cf. A Cidade de Deus. Livro XIX, capítulo 13, n.1.
2 - CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A ordem natural e os Dez Mandamentos. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIII, n. 144 (março 2010), p. 21. 
3 - PAULO VI. Indulgentiarum doctrina, n. 2. 
4 -FILLION, Louis-Claude. La sainte bible avec commentaires - Évangile selon S. Matthieu. Paris: Lethielleux. 1895, p. 105-106. 
5 - CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. VI, p. 87.
6 - PIO IX. Carta ao Presidente e membros do Círculo Santo Ambrósio, de Milão, de 6-3-1873, apud CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei.2002, p. 54-55. 
7 - CLÁ DIAS, op. cit., 2013, v. II, p. 55. 
8 - CLÁ DIAS, op. cit., 2012, v. VI, p. 88.

 

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