Primeira etapa da "Escola de Formação de
Formadores e Articuladores para as CEBs"
Realizada no dia trinta de junho e primeiro
de julho deste ano de 2018
Assessor o Teólogo Celso Pinto Carias,
assessor das CEBs Nacional.
Projeto Pastoral Papa Francisco
Síntese da primeira etapa da "Escola de
Formação de Formadores e Articuladores para as CEBs
Projeto Pastoral Papa Francisco
Com relação ao contexto atual, Carias
afirmou: “O mundo mudou e está em crise,
é fato, é um grande equívoco propor caminhos sem a verificação do chão em
que se está pisando. Este erro tem sido frequente nas indicações dos caminhos
pastorais. Costumo dizer que muitos têm
dado respostas velhas para perguntas novas.”
A reação que configura a crise atual pode ser
sintetizada em três atitudes básicas fundamentais: o fundamentalismo, a indiferença, e o diálogo. Carias colocou que é
interessante lembrar que a fé cristã deu passos significativos de fidelidade ao
Caminho de Jesus Cristo, ao longo da história, quando foi capaz de ir ao
encontro dos desafios com uma postural dialogal.
Precisamos identificar a cidade
a partir de um olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus
que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças. A presença de Deus
acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio
e sentido para a sua vida. (EG 71)
Com relação a Igreja, vimos que a ela custou assimilar a cultura moderna. Para
Carias, “é porque se trata de um modelo cultural muito diferente daquele que se
vivia até então. Sabemos bem que o caráter teocêntrico, isto é, Deus no centro
de tudo como explicação da realidade de todas as coisas, foi sendo substituído
pela capacidade humana de entender os acontecimentos sem que houvesse uma ação
direta de Deus.
O Concílio Vaticano II (1962-65) foi a porta
definitiva do diálogo na Igreja Católica, más não tem sido um diálogo fácil, um
desafio superar quase dois mil anos de um modelo em pouco mais de cinquenta. Não
há outra alternativa para a Igreja ser fiel a Jesus Cristo, é necessário ser
sempre uma “Igreja em Saída” como diz o Papa Francisco.
A Paróquia - logo após o Concílio Vaticano começaram
os questionamentos ao modelo paroquial tradicional. O Código Canônico
privilegiou o caráter territorial. Mas
recentemente a CNBB aprovou o Documento 100 (Comunidade de comunidades: uma
nova paróquia, 2014), que por si só demonstra que a situação não é tão
tranquila assim.
José Comblin, que foi um dos teólogos mais
profundos na crítica a realidade da paróquia depois do Concílio, fez em 1989 um
balanço, bastante provocativo, de como a realidade urbana influencia a
paróquia. Nele podemos identificar algumas questões chaves que permanecem
extremamente atuais: burocracia,
competição clerical, não percepção de mobilidade urbana, diversificação na
identidade dos indivíduos, fraqueza no caminho espiritual diante de ofertas
consistentes no mundo moderno, pouca capacidade de lidar da com dimensão da
liberdade tão inerente a nossa época, e por fim, entre outras questões o que
ele chama de cativeiro paroquial,
isto é, o enredamento da paróquia em si mesma. É o que Papa Francisco tem
afirmado, repetidas vezes, com o conceito de autorreferencialidade. Carias acrescentou que se Comblin estivesse
vivo talvez ele acrescentaria um outro: invencionismo
litúrgico.
A Constituição dogmática sobre a Igreja do
Concílio ecumênico Vaticano II, mais conhecida por Lumen Gentium, apresenta a
Igreja como o novo Povo de Deus.
A carta do Papa Francisco enviada ao Cardeal
Marc Ouellet, Presidente da Pontíficia Comissão para a América Latina, em 16 de
março de 2016, é uma bela síntese de como
ele retoma a centralidade eclesiológica da Igreja como Povo de Deus,
embora ele faça isso em vários outros textos, sobretudo na Evangelli Gaudium.
Segue alguns pontos:
O pastor não se compreende sem um rebanho,
que está chamado a servir. O pastor é pastor de um povo, e o povo deve ser
servido a partir de dentro. (p.12)
Ninguém foi batizado sacerdote nem bispo.
Batizaram-nos leigos e é o sinal indelével que jamais poderá ser cancelado.
(p.12)
Confiemos no nosso Povo, na sua memória e no
seu “olfato”, confiemos que o Espírito Santo aja em e com ele, e que este Espírito
não é só “propriedade” da hierarquia eclesial. (p.14).
Não é o pastor que deve dizer ao leigo o que
fazer e dizer, ele sabe tanto e melhor que nós. (p.15)
É óbvio e até impossível, pensar que como
pastores deveríamos ter um monopólio das soluções para os múltiplos desafios
que a vida contemporânea nos apresenta. (p.16)
Com Papa Francisco a imagem de uma Igreja como
POLIEDRO. Sei que entre vós há pessoas de diversas religiões, profissões,
ideais, culturas, países e continentes. Hoje estais a praticar aqui a cultura
do encontro, tão diversa da xenofobia, da discriminação e da intolerância que
vemos com muita frequência. Produz-se entre os excluídos este encontro de
culturas no qual o todo não anula a particularidade, o todo não anula o
particular. Por isso me agrada a imagem do
poliedro, uma figura geométrica com muitos lados diversos. O poliedro
reflete a confluência de todas as parcialidades que nele conservam a
originalidade. Nada se dissolve, nada se destrói, nada se domina, tudo se
integra, tudo se integra. Hoje estais a procurar a síntese entre o local e o
global. Sei que estais comprometidos todos os dias em coisas próximas,
concretas, no vosso território, no vosso bairro, no vosso lugar de trabalho:
convido-vos também a continuar a procurar esta perspectiva mais ampla; que os
vossos sonhos voem alto e abracem o todo! (28 de outubro de 2014, primeiro
encontro com os movimentos populares).
Sobre a imagem do poliedro, Carias
acrescentou, mas quais poderiam ser as consequências práticas desta imagem? De
novo, aqui está a questão. Pode-se até aceitar a imagem, mas não agir conforme
a imagem. As palavras chaves que o Papa Bergoglio usa frequentemente, misericórdia, diálogo e discernimento,
são fundamentais para um agir pastoral poliédrico. Cada face tem sua riqueza
própria. Parece, nos dias de hoje, que não aprendemos com os Padres da Igreja,
como São Justino, com a sua teologia das sementes do Verbo. O Verbo de Deus se
encontra em todo lugar, até mesmo onde imaginamos que ele não se encontra. Como
é grande a tentação de nos colocarmos no lugar de Deus no trabalho pastoral.
(“Padres da Igreja” é uma expressão que
denota grandes pensadores cristãos, e ao mesmo tempo sensíveis pastoralistas,
que foram responsáveis pela base dogmática e doutrinária dos primeiros seis
séculos de existência do cristianismo, como Santo Inácio de Antioquia, São
Justino, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, entre outros. )
A organização fundamental das paróquias, compreendida
na Sinodalidade, Administração, Planejamento Pastoral e Acolhimento.
Sinodalidade - a palavra sínodo é de origem
grega e etimologicamente significa fazer
juntos, caminhar juntos. Na Igreja Católica existe uma longa tradição
sinodal que foi retomada pelo Concílio Vaticano II.
Pode-se opor, equivocamente, à dimensão
sinodal da Igreja a sua estrutura hierárquica. Fala-se de caráter consultivo,
recorrendo ao Código Canônico, mudando a intenção fundamental do Concílio, pois
consultivo não é igual a informativo. O caráter consultivo supõe abertura ao
diálogo, disposição para mudança de opinião, discernimento a fim de encontrar o
melhor caminho.
Levando em consideração a realidade histórica,
o espírito do Vaticano II, e em conformidade com o que o Papa Francisco tem
orientado, o caminho para a Igreja é se organizar de forma SINODAL, nas dioceses, paróquias e comunidades.
A sinodalidade deve estar refletida também na
própria estrutura territorial das paróquias. Como a norma canônica ainda amarra
a paróquia a um determinado território é necessária uma criatividade pastoral
para não deixar que a lei abafe o espírito. Neste sentido, o documento 100 da
CNBB tenta superar os limites. Mas ainda há espaço, sem um confronto direto com
a lei, para buscar saídas mais participativas. Para funcionar como comunidade
de comunidades a figura da MATRIZ precisar sair de cena.
Todas as igrejas de um determinado território
precisam estar articuladas em uma rede de comunidades. Se houver apenas uma
igreja, esta deve procurar setorizar
para atender a relações humanas mais próximas. E se a paróquia é muito
grande, pode-se setorizar a própria paróquia como o documento 100 prevê. É preciso crescer na compreensão que a
paróquia não é uma sede e sim um espaço de atuação pastoral. Não cabe
alguém de uma comunidade afirmar: “vou lá na paróquia”. A paróquia é a rede de
comunidades. Bem como a diocese não é uma sede. Alguém de uma paróquia não
deveria dizer: “vou lá na diocese”, pois ele está na diocese.
Administração - cremos não ser tão complicado
realizar uma boa administração se há uma estrutura participativa e
transparente. Se existe um compartilhamento das necessidades no espírito que
encontramos nos Atos dos Apóstolos: os cristãos tinham tudo em comum. É
extremamente contraditório, por mais que cada diocese tenha autonomia, que não
exista uma maneira de repartir os bens de forma mais paritária. Dioceses ricas
do lado de dioceses pobres, paróquias ricas do lado de paróquias pobres. Isto
não é evangélico.
Planejamento pastoral - As indicações
anteriores não podem ser colocadas em praticada sem planejamento, mas nem
sempre realizado. Existe um público cativo, e em um cenário de milhões de
habitantes, onde apesar das baixas, o catolicismo ainda é maioria. E
evidentemente muitas igrejas estão cheias. Mas não é assim que funciona. Muitas
vezes, se tem um comportamento no qual se acredita que a população católica
disposta a frequentar as paróquias irá, nos dias de hoje, facilmente atender a
uma programação estabelecida rotineiramente todos os anos. Com os católicos
eventuais ainda é mais difícil, e com os não católicos nem se fala.
E “As tentações dos agentes pastorais” (EG
76-109) é grande. O Papa Francisco usa imagens fortes: acedia egoísta, roubar a
esperança, psicologia do túmulo, múmias de museu, pessimismo estéril, roubar a
comunidade, mundanismo espiritual, neopelagianismo autorreferencial, roubar o
Evangelho, caça às bruxas, e muitas outras. Não é demais citar inteiramente o
número 96:
Neste contexto, alimenta-se a
vanglória de quanto se contentam com ter algum poder e preferem ser generais de
exércitos derrotados antes que simples soldados de um batalhão que continua a
lutar. Quantas vezes sonhamos planos apostólicos expansionistas, meticulosos e
bem traçados, típicos de generais derrotados! Assim, negamos nossa história de
Igreja, que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta
diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso, porque
todo trabalho é “suor do nosso rosto”. Em vez disso, entretemo-nos vaidosos a
falar sobre “o que se deveria fazer” – o pecado do “deveriaqueismo” – como
mestres espirituais e peritos de pastoral que dão instruções ficando de fora.
Cultivamos nossa imaginação sem limites e perdemos o contato com a dolorosa
realidade do nosso povo fiel.
Acolhimento - Diz o Papa Francisco na EG 127:
Ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor
de Jesus; e isso sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no
trabalho, num caminho.
A forma como as lideranças e os presbíteros
tratam as pessoas pode alterar profundamente a recepção de algum valor
positivo. Sim, somos humanos, podemos não ser capazes de estar sempre atentas/os
aos mecanismos psíquicos que norteiam a nossa vida, mas podemos sim, pedir
perdão, reconhecer que erramos, e abraçar as irmãs e os irmãos. Que coisa
tremendamente humana, e por isso, tremendamente divina, as atitudes do Papa
Francisco no que diz respeito ao reconhecimento dos limites humano, como pedir
perdão às vítimas dos casos de abuso no Chile. Isto não o diminui, ao
contrário, só faz com o admirem cada vez mais.
A primeira etapa da "Escola de Formação
de Formadores e Articuladores para as CEBs", foi realizada no dia trinta
de junho e primeiro de julho deste ano de 2018, em outubro teremos a segunda
etapa e as demais no ano de 2019. O assessor o Teólogo Celso Pinto Carias, assessor
das CEBs Nacional.
A "Escola de Formação de Formadores e
Articuladores para as CEBs" foi projeto apresentado pelas CEBs e aprovado
em Assembleia arquidiocesana dentro da prioridade “missão” do 24° Plano de Ação
Evangelizadora (2017-2021) da Arquidiocese de Maringá.
No 7° Intereclesial das CEBs do Paraná,
realizado em abril de 2016, a Província Eclesiástica de Maringá, quando no
momento por província, sentiu também essa necessidade, a Arquidiocese de
Maringá, abriu a escola á província, que é composta além da Arquidiocese de
Maringá pelas dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama.
Lucimar Moreira Bueno (Lúcia)
Assessora Leiga das CEBs na Arquidiocese de
Maringá
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