04 julho, 2018

Síntese da primeira etapa da "Escola de Formação de Formadores e Articuladores para as CEBs


Primeira etapa da "Escola de Formação de Formadores e Articuladores para as CEBs"
Realizada no dia trinta de junho e primeiro de julho deste ano de 2018

Assessor o Teólogo Celso Pinto Carias, assessor das CEBs Nacional.

Projeto Pastoral Papa Francisco


Síntese da primeira etapa da "Escola de Formação de Formadores e Articuladores para as CEBs


Projeto Pastoral Papa Francisco

Com relação ao contexto atual, Carias afirmou: “O mundo mudou e está em crise, é fato, é um grande equívoco propor caminhos sem a verificação do chão em que se está pisando. Este erro tem sido frequente nas indicações dos caminhos pastorais. Costumo dizer que muitos têm dado respostas velhas para perguntas novas.”

A reação que configura a crise atual pode ser sintetizada em três atitudes básicas fundamentais: o fundamentalismo, a indiferença, e o diálogo. Carias colocou que é interessante lembrar que a fé cristã deu passos significativos de fidelidade ao Caminho de Jesus Cristo, ao longo da história, quando foi capaz de ir ao encontro dos desafios com uma postural dialogal.
Precisamos identificar a cidade a partir de um olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças. A presença de Deus acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida. (EG 71)

Com relação a Igreja, vimos que a ela custou assimilar a cultura moderna. Para Carias, “é porque se trata de um modelo cultural muito diferente daquele que se vivia até então. Sabemos bem que o caráter teocêntrico, isto é, Deus no centro de tudo como explicação da realidade de todas as coisas, foi sendo substituído pela capacidade humana de entender os acontecimentos sem que houvesse uma ação direta de Deus.

O Concílio Vaticano II (1962-65) foi a porta definitiva do diálogo na Igreja Católica, más não tem sido um diálogo fácil, um desafio superar quase dois mil anos de um modelo em pouco mais de cinquenta. Não há outra alternativa para a Igreja ser fiel a Jesus Cristo, é necessário ser sempre uma “Igreja em Saída” como diz o Papa Francisco.

A Paróquia - logo após o Concílio Vaticano começaram os questionamentos ao modelo paroquial tradicional. O Código Canônico privilegiou o caráter territorial. Mas recentemente a CNBB aprovou o Documento 100 (Comunidade de comunidades: uma nova paróquia, 2014), que por si só demonstra que a situação não é tão tranquila assim.
José Comblin, que foi um dos teólogos mais profundos na crítica a realidade da paróquia depois do Concílio, fez em 1989 um balanço, bastante provocativo, de como a realidade urbana influencia a paróquia. Nele podemos identificar algumas questões chaves que permanecem extremamente atuais: burocracia, competição clerical, não percepção de mobilidade urbana, diversificação na identidade dos indivíduos, fraqueza no caminho espiritual diante de ofertas consistentes no mundo moderno, pouca capacidade de lidar da com dimensão da liberdade tão inerente a nossa época, e por fim, entre outras questões o que ele chama de cativeiro paroquial, isto é, o enredamento da paróquia em si mesma. É o que Papa Francisco tem afirmado, repetidas vezes, com o conceito de autorreferencialidade. Carias acrescentou que se Comblin estivesse vivo talvez ele acrescentaria um outro: invencionismo litúrgico.

A Constituição dogmática sobre a Igreja do Concílio ecumênico Vaticano II, mais conhecida por Lumen Gentium, apresenta a Igreja como o novo Povo de Deus.
A carta do Papa Francisco enviada ao Cardeal Marc Ouellet, Presidente da Pontíficia Comissão para a América Latina, em 16 de março de 2016, é uma bela síntese de como  ele retoma a centralidade eclesiológica da Igreja como Povo de Deus, embora ele faça isso em vários outros textos, sobretudo na Evangelli Gaudium. Segue alguns pontos:
O pastor não se compreende sem um rebanho, que está chamado a servir. O pastor é pastor de um povo, e o povo deve ser servido a partir de dentro. (p.12)
Ninguém foi batizado sacerdote nem bispo. Batizaram-nos leigos e é o sinal indelével que jamais poderá ser cancelado. (p.12)
Confiemos no nosso Povo, na sua memória e no seu “olfato”, confiemos que o Espírito Santo aja em e com ele, e que este Espírito não é só “propriedade” da hierarquia eclesial. (p.14).
Não é o pastor que deve dizer ao leigo o que fazer e dizer, ele sabe tanto e melhor que nós. (p.15)
É óbvio e até impossível, pensar que como pastores deveríamos ter um monopólio das soluções para os múltiplos desafios que a vida contemporânea nos apresenta. (p.16)

Com Papa Francisco a imagem de uma Igreja como POLIEDRO. Sei que entre vós há pessoas de diversas religiões, profissões, ideais, culturas, países e continentes. Hoje estais a praticar aqui a cultura do encontro, tão diversa da xenofobia, da discriminação e da intolerância que vemos com muita frequência. Produz-se entre os excluídos este encontro de culturas no qual o todo não anula a particularidade, o todo não anula o particular. Por isso me agrada a imagem do poliedro, uma figura geométrica com muitos lados diversos. O poliedro reflete a confluência de todas as parcialidades que nele conservam a originalidade. Nada se dissolve, nada se destrói, nada se domina, tudo se integra, tudo se integra. Hoje estais a procurar a síntese entre o local e o global. Sei que estais comprometidos todos os dias em coisas próximas, concretas, no vosso território, no vosso bairro, no vosso lugar de trabalho: convido-vos também a continuar a procurar esta perspectiva mais ampla; que os vossos sonhos voem alto e abracem o todo! (28 de outubro de 2014, primeiro encontro com os movimentos populares).

Sobre a imagem do poliedro, Carias acrescentou, mas quais poderiam ser as consequências práticas desta imagem? De novo, aqui está a questão. Pode-se até aceitar a imagem, mas não agir conforme a imagem. As palavras chaves que o Papa Bergoglio usa frequentemente, misericórdia, diálogo e discernimento, são fundamentais para um agir pastoral poliédrico. Cada face tem sua riqueza própria. Parece, nos dias de hoje, que não aprendemos com os Padres da Igreja, como São Justino, com a sua teologia das sementes do Verbo. O Verbo de Deus se encontra em todo lugar, até mesmo onde imaginamos que ele não se encontra. Como é grande a tentação de nos colocarmos no lugar de Deus no trabalho pastoral.
(“Padres da Igreja” é uma expressão que denota grandes pensadores cristãos, e ao mesmo tempo sensíveis pastoralistas, que foram responsáveis pela base dogmática e doutrinária dos primeiros seis séculos de existência do cristianismo, como Santo Inácio de Antioquia, São Justino, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, entre outros. )

A organização fundamental das paróquias, compreendida na Sinodalidade, Administração, Planejamento Pastoral e Acolhimento.

Sinodalidade - a palavra sínodo é de origem grega e etimologicamente significa fazer juntos, caminhar juntos. Na Igreja Católica existe uma longa tradição sinodal que foi retomada pelo Concílio Vaticano II.
Pode-se opor, equivocamente, à dimensão sinodal da Igreja a sua estrutura hierárquica. Fala-se de caráter consultivo, recorrendo ao Código Canônico, mudando a intenção fundamental do Concílio, pois consultivo não é igual a informativo. O caráter consultivo supõe abertura ao diálogo, disposição para mudança de opinião, discernimento a fim de encontrar o melhor caminho.
Levando em consideração a realidade histórica, o espírito do Vaticano II, e em conformidade com o que o Papa Francisco tem orientado, o caminho para a Igreja é se organizar de forma SINODAL, nas dioceses, paróquias e comunidades.
A sinodalidade deve estar refletida também na própria estrutura territorial das paróquias. Como a norma canônica ainda amarra a paróquia a um determinado território é necessária uma criatividade pastoral para não deixar que a lei abafe o espírito. Neste sentido, o documento 100 da CNBB tenta superar os limites. Mas ainda há espaço, sem um confronto direto com a lei, para buscar saídas mais participativas. Para funcionar como comunidade de comunidades a figura da MATRIZ precisar sair de cena.
Todas as igrejas de um determinado território precisam estar articuladas em uma rede de comunidades. Se houver apenas uma igreja, esta deve procurar setorizar  para atender a relações humanas mais próximas. E se a paróquia é muito grande, pode-se setorizar a própria paróquia como o documento 100 prevê. É preciso crescer na compreensão que a paróquia não é uma sede e sim um espaço de atuação pastoral. Não cabe alguém de uma comunidade afirmar: “vou lá na paróquia”. A paróquia é a rede de comunidades. Bem como a diocese não é uma sede. Alguém de uma paróquia não deveria dizer: “vou lá na diocese”, pois ele está na diocese.

Administração - cremos não ser tão complicado realizar uma boa administração se há uma estrutura participativa e transparente. Se existe um compartilhamento das necessidades no espírito que encontramos nos Atos dos Apóstolos: os cristãos tinham tudo em comum. É extremamente contraditório, por mais que cada diocese tenha autonomia, que não exista uma maneira de repartir os bens de forma mais paritária. Dioceses ricas do lado de dioceses pobres, paróquias ricas do lado de paróquias pobres. Isto não é evangélico.

Planejamento pastoral - As indicações anteriores não podem ser colocadas em praticada sem planejamento, mas nem sempre realizado. Existe um público cativo, e em um cenário de milhões de habitantes, onde apesar das baixas, o catolicismo ainda é maioria. E evidentemente muitas igrejas estão cheias. Mas não é assim que funciona. Muitas vezes, se tem um comportamento no qual se acredita que a população católica disposta a frequentar as paróquias irá, nos dias de hoje, facilmente atender a uma programação estabelecida rotineiramente todos os anos. Com os católicos eventuais ainda é mais difícil, e com os não católicos nem se fala.
E “As tentações dos agentes pastorais” (EG 76-109) é grande. O Papa Francisco usa imagens fortes: acedia egoísta, roubar a esperança, psicologia do túmulo, múmias de museu, pessimismo estéril, roubar a comunidade, mundanismo espiritual, neopelagianismo autorreferencial, roubar o Evangelho, caça às bruxas, e muitas outras. Não é demais citar inteiramente o número 96:
Neste contexto, alimenta-se a vanglória de quanto se contentam com ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados antes que simples soldados de um batalhão que continua a lutar. Quantas vezes sonhamos planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos de generais derrotados! Assim, negamos nossa história de Igreja, que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso, porque todo trabalho é “suor do nosso rosto”. Em vez disso, entretemo-nos vaidosos a falar sobre “o que se deveria fazer” – o pecado do “deveriaqueismo” – como mestres espirituais e peritos de pastoral que dão instruções ficando de fora. Cultivamos nossa imaginação sem limites e perdemos o contato com a dolorosa realidade do nosso povo fiel.

Acolhimento - Diz o Papa Francisco na EG 127: Ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus; e isso sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, num caminho.
A forma como as lideranças e os presbíteros tratam as pessoas pode alterar profundamente a recepção de algum valor positivo. Sim, somos humanos, podemos não ser capazes de estar sempre atentas/os aos mecanismos psíquicos que norteiam a nossa vida, mas podemos sim, pedir perdão, reconhecer que erramos, e abraçar as irmãs e os irmãos. Que coisa tremendamente humana, e por isso, tremendamente divina, as atitudes do Papa Francisco no que diz respeito ao reconhecimento dos limites humano, como pedir perdão às vítimas dos casos de abuso no Chile. Isto não o diminui, ao contrário, só faz com o admirem cada vez mais.

A primeira etapa da "Escola de Formação de Formadores e Articuladores para as CEBs", foi realizada no dia trinta de junho e primeiro de julho deste ano de 2018, em outubro teremos a segunda etapa e as demais no ano de 2019. O assessor o Teólogo Celso Pinto Carias, assessor das CEBs Nacional.

A "Escola de Formação de Formadores e Articuladores para as CEBs" foi projeto apresentado pelas CEBs e aprovado em Assembleia arquidiocesana dentro da prioridade “missão” do 24° Plano de Ação Evangelizadora (2017-2021) da Arquidiocese de Maringá.

No 7° Intereclesial das CEBs do Paraná, realizado em abril de 2016, a Província Eclesiástica de Maringá, quando no momento por província, sentiu também essa necessidade, a Arquidiocese de Maringá, abriu a escola á província, que é composta além da Arquidiocese de Maringá pelas dioceses de Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama.

Lucimar Moreira Bueno (Lúcia)
Assessora Leiga das CEBs na Arquidiocese de Maringá

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