Devido à subnotificação, pesquisa utiliza casos notificados por se tratarem de dados mais compatíveis com a realidade / Divulgação Agência Brasil
Por Murillo Saldanha - publicado em Maringá Posti, 13 de maio 2020.
Levantamento do Grupo de Estudos e Pesquisa Ambiente, Sociedade e Geotecnologias (Gepag), com apoio da Universidade Estadual de Maringá (UEM), mostrou que a média diária de casos notificados de pessoas que apresentaram sintomas de coronavírus em Maringá aumentou 263% entre 31 de março e 30 de abril.
O aumento de notificações coincide com a publicação de decretos municipais que flexibilizaram o isolamento social e permitiram a retomada de algumas atividades do setor econômico.
No estudo, os pesquisadores levam em consideração o que epidemiologistas têm alertado: as medidas tomadas surtem efeito após duas semana, aproximadamente. Dessa forma, o levantamento não leva em conta a abertura do comércio de rua em 20 de abril ou o decreto que autorizou celebrações religiosas e o funcionamento de shoppings, bares e restaurantes nesta semana.
Segundo a pesquisa, entre os dias 31 de março e 9 de abril, a média diária de casos notificados era de 22. A partir do dia 7 de abril, a prefeitura permitiu funcionamento de oficinas mecânicas e atendimento presencial em clínicas e consultórios médicos. Em 13 de abril, o município liberou o funcionamento de lotéricas e indústrias.
O estudo mostra que, entre os dias 10 e 21 de abril, o incremento médio diário de notificações subiu para 36. Duas semanas após a retomada dos serviços, entre 22 e 30 de abril, a média diária de casos notificados subiu para 80.
Para o professor do departamento de Geografia da UEM e coordenador do estudo, Oseias da Silva Martinuci, o aumento no número de notificações, o que representa a dispersão do vírus, pode estar ligado à flexibilização do isolamento social.
“As medidas adotadas em Maringá tiveram impacto nas notificações de alguma maneira. Mesmo que a situação pareça estar sobre controle, devemos olhar com certa cautela para avaliar se não está chegando em uma situação delicada. Vamos ter que avaliar, daqui há duas semanas, a abertura desses locais fechados com muita circulação de pessoas e fluídos corporais e verificar se a capacidade de circulação do vírus aumenta”, afirma o professor.
Oseias Martinuci explica que a pesquisa utiliza casos notificados por se tratarem de dados mais compatíveis com a realidade. Como apenas os casos graves são testados e algumas pessoas não apresentam sintomas, os números reais da doença são maiores que os casos confirmados. No Brasil, cientistas estimam que o número pode ser 14 vezes maior do que o registro oficial do Ministério da Saúde.
Grupo de geógrafos avaliou a estrutura da rede hospitalar
Na pandemia do novo coronavírus, uma dos principais alertas das autoridades é sobre a taxa de ocupação dos hospitais. No entanto, a estrutura da rede de saúde também é um fator preocupante. Outro levantamento do Grupo de Estudos e Pesquisa Ambiente, Sociedade e Geotecnologias (Gepag), com apoio da UEM, mostrou que 91,7% dos 399 municípios do Paraná não têm UTI.
Segundo o mapeamento, mais da metade das cidades paranaenses, 57%, não têm ventilador mecânico e que 36% não têm leito de nenhuma espécie. Os dados analisados são do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS), do Ministério da Saúde.
Entre as 30 cidades que compõem a Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (Amusep), apenas Maringá e Sarandi têm leitos de UTI. A estimativa é que na Amusep existem 2,97 leitos para cada 10 mil habitantes.
Na macrorregião noroeste, que reúne 113 municípios, além de Maringá e Sarandi, apenas outras quatro cidades tem leitos de UTI: Paranavaí, Umuarama, Campo Mourão e Cianorte. O professor da UEM e coordenador da pesquisa, Oseias da Silva Martinuci, destaca que, de acordo com o IBGE, aproximadamente 50% dos municípios considerados remotos estão na macrorregião noroeste.
O professor alerta que podem existir dificuldades no atendimento de casos de coronavírus nas cidades remotas. Ele explica que não se trata apenas da distância em relação aos grandes centros onde se concentram os leitos de UTI, mas que os pacientes podem precisar de atendimento em um momento que a rede hospitalar estiver mais comprometida devido a pandemia.
Por meio do geoprocessamento e da cartografia, os pesquisadores do Gepag monitoram a expansão do coronavírus. Segundo Oseias da Silva Martinuci, os dados levantados no interior do Paraná causam preocupação.
“Comparando com o Estado de São Paulo, a velocidade de difusão do vírus pelos municípios do Paraná está sendo notadamente maior. Na quarta semana, contada a partir do primeiro caso confirmado, o Estado teve quatro vezes mais municípios infectados que o estado de São Paulo. Lá foram 21 casos, enquanto o Paraná teve 84”, afirma Martinuci.
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