30 setembro, 2021

Estado de saúde de Dom Anuar Battisti


Exames feitos nas últimas 24 horas identificaram que o Arcebispo Emérito de Maringá, Dom Anuar Battisti (68), está com Covid-19. Ele está internado no Hospital Paraná desde ontem, 29, quando foi transferido de Toledo.

Segundo parecer médico divulgado hoje, Dom Anuar está com a capacidade pulmonar comprometida, respira com ajuda de oxigênio e está sem febre.

Ele foi hospitalizado quinta-feira, 23, no Hospital Geral Unimed (HGU) em Toledo, diagnosticado com pneumonia e recebeu alta domingo, 26. No entanto, terça-feira, 28, ele teve que ser internado novamente.

Peçamos a Deus pela breve recuperação de Dom Anuar e pelo fim da pandemia.


Maringá, quinta-feira, 30 de setembro de 2021.

Ser Teu Discípulo - Edward Guimarães

 


Ser Teu Discípulo


Ser teu discípulo, Jesus
é chamado que me encanta
desafio que me amedronta:
por que me envias a tua frente
se sabes que a missão me ultrapassa?

Ser teu discípulo, Mestre de Nazaré
é causa de profunda alegria
fonte de temor que desassossega:
quando olho o tamanho da messe
confesso, minha pequenez aparece

Ser teu discípulo, Profeta da Galiléia
descortina vastos horizontes novos
destrói certezas e seguranças lógicas:
passamos a acreditar na fraqueza dos lobos
e apostar apaixonadamente na força dos cordeiros

No entanto, oh Mestre do caminho
por saber que me conheces por inteiro
teu jeito confiante de me enviar para a messe
é fonte que encoraja a enfrentar meus receios
e o contemplar tua alegria ante o Reino já presente
me dá a certeza de um Deus estradeiro sempre com a gente

Dai-me, então, estimado Irmão do caminho
o dom precioso de tua paz sempre inquieta
que me faz acreditar na força dos mais fracos
irmanar nas lutas dos pobres e dos oprimidos
discernir caminhos que nos levam ao bem viver
ser criativo na partilha da vida, no amar e no servir


Belo Horizonte, 30 de setembro de 2021
Poema oração provocado pelo Evangelho (Lucas 10, 1-12)

Debate sobre ordenação de mulheres cresce na Alemanha

O debate sobre a ordenação de mulheres ao sacerdócio na Igreja Católica está se intensificando na Alemanha. Em uma cerimônia de premiação promovida pela Conferência dos Bispos da Alemanha, o chefe da emissora internacional alemã Deutsche Welle pediu que as mulheres tenham acesso aos ministérios ordenados na Igreja.

A reportagem é de Katholische Nachrichten-Agentur, 29-09-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Estou profundamente convencido: uma organização que não é diversa fracassará hoje em dia”, disse Peter Limbourg, em Solingen, no dia 28 de setembro.

O novo presidente da Comissão Episcopal para a Fé, Dom Franz-Josef Overbeck, também defendeu a ordenação de mulheres sacerdotisas católicas. “Para as pessoas com profunda convicção da igualdade de todos os seres humanos, a abordagem atual aos ministérios da Igreja e ao acesso a eles não é mais compreensível”, disse Overbeck ao jornal Rheinische Post, no dia 28 de setembro.

Ele acrescentou que não há muitas pessoas que ainda acreditem que a prática atual é correta. “A grande maioria já não concorda que o ministério ordenado seja reservado exclusivamente aos homens”, disse o bispo.

Limbourg, que mencionou expressamente a sua filiação à Igreja Católica, também disse que a Igreja está sob pressão em todo o mundo. Mesmo no hemisfério Sul, os ritos religiosos são pouco participados, e “movimentos e seitas evangélicos duvidosos” estão crescendo na região, disse ele. Esse é um fenômeno deprimente “porque a mensagem de Jesus Cristo é mais relevante do que nunca em um mundo cheio de injustiça social, pobreza e isolamento”.

Limbourg estava hospedando uma cerimônia para a dançarina brasileira Lia Rodrigues, que recebeu o Prêmio de Arte e Cultura da Igreja Católica na Alemanha. O jornalista elogiou o trabalho artístico dela e também o seu compromisso sociopolítico. “Lia Rodrigues segue uma tradição que é também uma tradição do cristianismo: a resistência não violenta à opressão, à discriminação e à exclusão”, disse ele.

Overbeck, que lidera a Diocese de Essen, é copresidente do fórum sobre o poder e a divisão do poder no projeto de reforma do Caminho Sinodal da Igreja Católica na Alemanha. A segunda Assembleia Sinodal começa em Frankfurt no dia 30 de setembro.

Overbeck pediu mais voz aos leigos e leigas em questões como a eleição de um novo bispo. Ele disse que seu fórum quer encorajar a participação de todos os que pertencem ao povo de Deus. Ele acrescentou: “Teremos que dar respostas muito diferentes a questões semelhantes na Igreja universal no futuro, até porque o contexto é diferente”.

Overbeck disse que o Caminho Sinodal pode levar à decepção, por exemplo, se os padrões democráticos aos quais as pessoas estão acostumadas na Alemanha não puderem ser introduzidos na Igreja. No entanto, quem está ciente de pertencer a uma comunidade de fiéis de 2.000 anos “se alegraria” com sabedoria e serenidade a cada passo dado, disse ele.

O Caminho Sinodal lançado em 2019 na Alemanha é um projeto dos bispos e de representantes leigos e leigas para discutir o futuro da Igreja Católica no país. O ponto de partida é uma crise eclesial que já dura anos e foi exacerbada pelo escândalo dos abusos. O debate é principalmente sobre o poder, o sacerdócio e a moral sexual, assim como sobre o papel das mulheres na Igreja.

Fonte: IHU

“Catequese Permanente” – Parte 4/4 "E a Palavra habitou entre nós" - Est...

29 setembro, 2021

“Jovens, levantem o mundo”

Mensagem do Papa para a Jornada Mundial da Juventude de 2021

A XXXVI Jornada Mundial da Juventude deste ano será celebrada em nível diocesano, pela primeira vez na solenidade de Cristo Rei, no próximo dia 21 de novembro.


“Jovens, levantem o mundo”

Caríssimos jovens! Queria mais uma vez tomar-vos pela mão para prosseguirmos juntos na peregrinação espiritual que nos leva à Jornada Mundial da Juventude em Lisboa em 2023.

No ano passado, pouco antes da pandemia se alastrar, assinei a mensagem cujo tema era “Jovem, a ti te digo, levanta-te!" (cf Lc 7,14). Em sua providência, o Senhor já nos queria preparar para o árduo desafio que estávamos prestes a enfrentar.

Em todo o mundo, teve que ser enfrentado o sofrimento pela perda de tantos entes queridos e pelo isolamento social. A emergência sanitária também impediu que vocês jovens - por natureza projetada para o exterior - saíssem para ir à escola, à universidade, ao trabalho, para se encontrar ... Vocês se depararam com situações difíceis, às quais não estavam acostumados. Aqueles que estavam menos preparados e desprovidos de apoio sentiram-se desorientados. Em muitos casos surgiram problemas familiares, como como desocupação, depressão, solidão e dependências. Sem falar no estresse acumulado, nas tensões e explosões de raiva, no aumento da violência.

Mas, graças a Deus, esse não é o único lado da moeda. Se o teste nos mostrou nossas fragilidades, também revelou nossas virtudes, entre as quais a predisposição à solidariedade. Em todas as partes do mundo, vimos muitas pessoas, incluindo muitos jovens, lutar pela vida, semear esperança, defender a liberdade e a justiça, serem artífices da paz e construtores de pontes.

Quando um jovem cai, a humanidade em certo sentido cai. Mas também é verdade que, quando um Jovem se levanta, é como se o mundo inteiro se levantasse. Caros jovens, que imensa potencialidade existe em suas mãos! Quanta força vocês carregam em seus corações!

Por isso, hoje, mais uma vez, Deus diz a cada um de vocês: "Levanta-te!". Espero de coração que essa mensagem nos ajude a nos prepararmos para tempos novos, para uma nova página na história da humanidade.

Mas não há possibilidade de recomeçar sem vocês, caros jovens. Para se levantar, o mundo precisa de sua força, de seu entusiasmo, de sua paixão. É neste sentido que, juntamente convosco, gostaria de meditar sobre a passagem dos Atos dos Apóstolos em que Jesus diz a Paulo: “levanta-te e testemunha tanto das coisas que tens visto” (cf. At 26,16).

Paulo testemunha perante o rei

O versículo a que se inspira o tema da Jornada Mundial da Juventude de 2021 foi tirado do testemunho de Paulo perante o rei Agripa, enquanto ele estava na prisão. Ele, antes inimigo e perseguidor dos cristãos, agora é julgado precisamente por sua fé em Cristo. Após cerca de vinte e cinco anos, o Apóstolo conta a sua história e o episódio fundamental do seu encontro com Cristo.

Paulo confessa que no passado havia perseguido os cristãos, até que um dia, enquanto ia para Damasco para prender alguns deles, uma luz "que excedia o esplendor do sol" envolveu-o e aos seus companheiros de viagem (cf. At 26,13), mas apenas ele ouviu "uma voz”: Jesus falou-lhe e chamou-o pelo nome.

"Saulo, Saulo!"

Vamos aprofundar esse evento juntos. Chamando-o pelo nome, o Senhor deixa claro para Saulo que ele o conhece pessoalmente. É como se lhe dissesse: "Eu sei quem você é, sei o que você está tramando, mas mesmo assim estou falando com você". Ele o chama duas vezes, em sinal de uma vocação especial e muito importante, como havia feito com Moisés (cf. Ex 3,4) e com Samuel (cf. 1Sm 3,10). Caindo ao chão, Saulo reconhece que é testemunha de uma manifestação divina, uma revelação poderosa, que o confunde, mas não o anula, pelo contrário, o chama pelo nome.

De fato, apenas um encontro pessoal e não anônimo com Cristo muda a vida. Jesus mostra que conhece bem Saulo, que "o conhece por dentro". Mesmo que Saulo seja um perseguidor, mesmo que em seu coração haja ódio pelos cristãos, Jesus sabe que isso se deve à ignorância e quer mostrar a ele a sua misericórdia. Será precisamente essa graça, esse amor imerecido e incondicional, a luz que transformará radicalmente a vida de Saulo.

"Quem és, Senhor?"

Diante dessa presença misteriosa que o chama pelo nome, Saulo pergunta: "Quem és, ó Senhor?" (Atos 26,15). Esta pergunta é extremamente importante e todos na vida, mais cedo ou mais tarde, devem fazê-la. Não basta ter ouvido falar de Cristo por outros, é necessário falar com ele pessoalmente.

Afinal, isso é orar. É falar diretamente com Jesus, mesmo que nossos corações ainda estejam desordenados, nossas mentes cheias de dúvidas ou até desprezo por Cristo e pelos cristãos. Almejo que todo jovem, do fundo do coração, venha a fazer esta pergunta: "Quem és, Senhor?".

Não podemos presumir que todos conhecem Jesus, mesmo na era da internet. A pergunta que muitas pessoas dirigem a Jesus e à Igreja é precisamente esta: "Quem és?". Em toda a história da vocação de São Paulo, é a única vez que ele fala. E à sua pergunta, o Senhor prontamente responde: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (ibid.).

"Eu sou Jesus, a quem tu persegues!"

Com essa resposta, o Senhor Jesus revela a Saulo um grande mistério: que ele se identifica com a Igreja, com os cristãos. Até então, Saulo não tinha visto nada de Cristo, exceto os fiéis que ele tinha encarcerado (cf. Atos 26,10), para cuja condenação à morte ele próprio havia votado (ibid.). E tinha visto como os cristãos respondem ao mal com o bem, ao ódio com o amor, aceitando as injustiças, as violências, as calúnias e as perseguições sofridas em nome de Cristo.

Então, olhando bem, Saulo de alguma forma - sem saber - encontrou Cristo: ele o havia encontrado nos cristãos! Quantas vezes já ouvimos dizer: "Jesus sim, a Igreja não", como se um pudesse ser a alternativa à outra. Não se pode conhecer Jesus se não se conhece a Igreja. Não se pode conhecer Jesus exceto pelos irmãos e irmãs de sua comunidade. Não podemos nos dizer plenamente cristãos se não vivermos a dimensão eclesial da fé.

“Resistir ao aguilhão só lhe trará dor”

Essas são as palavras que o Senhor dirige a Saulo depois que ele caiu ao chão. Mas é como se já há tempo ele falasse com ele de forma misteriosa, tentando atraí-lo para si, e Saulo estivesse resistindo.

Nosso Senhor dirige aquela mesma doce "repreensão" a cada jovem que se afasta: "Por quanto tempo você vai fugir de mim? Por que você não ouve que estou lhe chamando? Estou esperando o seu retorno”.

Como o profeta Jeremias, às vezes dizemos: "Não pensarei mais nele" (Jr 20, 9). Mas no coração de cada um há como um fogo ardente: mesmo que tentemos contê-lo, não podemos, porque é mais forte do que nós. O Senhor escolhe aquele que até o persegue, completamente hostil a ele e aos seus. Mas não existe pessoa que para Deus seja irrecuperável. Através do encontro pessoal com ele é sempre possível recomeçar. Nenhum jovem está fora do alcance da graça e da misericórdia de Deus. Para ninguém se pode dizer: é muito distante ... é tarde demais... Quantos jovens têm a paixão de se opor e ir contra a maré, mas carregam escondida em seus corações a necessidade de se empenhar, de amar com todas as suas forças, de se identificar com uma missão! Jesus, no jovem Saulo, vê exatamente isso.

Reconhecer a própria cegueira

Podemos imaginar que, antes do encontro com Cristo, Saulo estivesse em certo sentido "cheio de si", considerando-se "grande" pela sua integridade moral, pelo seu zelo, pelas suas origens, pela sua cultura. Ele certamente estava convicto de que estava certo. Mas, quando o Senhor se revela a ele, ele é "aterrado" e fica cego. De repente, ele descobre que não consegue ver, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente. Suas certezas vacilam. Em seu espírito, sente que o que o animava com tanta paixão - o zelo para eliminar os cristãos - estava completamente errado. Ele percebe que não é o detentor absoluto da verdade, aliás, que está bem longe dela. E, junto com suas certezas, também cai sua "grandeza". De repente, ele se descobre perdido, frágil, "pequeno".

Essa humildade - consciência da própria limitação - é fundamental! Aquele que pensa que sabe tudo sobre si mesmo, sobre os outros e até sobre as verdades religiosas terá dificuldade para encontrar Cristo. Saulo, tendo ficado cego, perdeu seus pontos de referência. Estando sozinho no escuro, as únicas coisas claras para ele são a luz que viu e a voz que ouviu. Que paradoxo: justamente quando alguém reconhece que está cego, começa a ver! Depois da fulguração na estrada para Damasco, Saulo preferirá ser chamado de Paulo, que significa “pequeno”. Não é um apelido ou um "nome artístico" - hoje em dia muito usado também entre as pessoas comuns: o encontro com Cristo fez com que ele se sentisse realmente assim, derrubando o muro que o impedia de se conhecer em verdade. Afirma de si mesmo: “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus” (1Cor 15, 9).

Santa Teresinha de Lisieux, como outras santas, gostava de repetir que a humildade é a verdade. Hoje em dia muitas "histórias" temperam os nossos dias, principalmente nas redes sociais, muitas vezes artisticamente construídas com set, câmeras, vários cenários. Procura-se cada vez mais o centro das atenções, orientados com competência, para mostrar aos “amigos” e seguidores uma imagem de si mesmos que por vezes não reflete a própria verdade. Cristo, luz do meio-dia, vem para nos iluminar e restaurar a nossa autenticidade, libertando-nos de toda máscara. Ele nos mostra claramente o que somos, porque nos ama como somos.

Mudar de perspectiva

A conversão de Paulo não é um voltar para trás, mas uma abrir-se para uma perspectiva totalmente nova.

De fato, continua o seu caminho para Damasco, mas não é mais o mesmo de antes, é uma pessoa diferente (cf. At 22,10). Podemos nos converter e renovar na vida cotidiana, fazendo as coisas que costumamos fazer, mas com um coração transformado e motivações diferentes. Nesse caso, Jesus pede expressamente a Paulo para ir até Damasco, para onde ele estava indo. Paulo obedece, mas agora a finalidade e a perspectiva de sua jornada mudaram radicalmente. A partir de agora, ele verá a realidade com novos olhos. Primeiro eram aqueles do perseguidor justiceiro, a partir de agora serão os olhos do discípulo testemunha. Em Damasco, Ananias o batiza e o apresenta à comunidade cristã. No silêncio e na oração, Paulo aprofundará a própria experiência e a nova identidade que o Senhor Jesus lhe deu.

Não dispersar a força e a paixão dos jovens

A atitude de Paulo diante do encontro com Jesus ressuscitado não nos é tão estranha. Quanta força e quanta paixão também vivem nos vossos corações, caros jovens! Mas se a escuridão ao seu redor e dentro de vocês, vos impede de ver corretamente, correm o risco de se perder em batalhas sem sentido, até mesmo se tornarem violentos. E, infelizmente, as primeiras vítimas serão vocês mesmos e as pessoas mais próximas de vocês. Há também o perigo de lutar por causas que na origem defendiam valores justos, mas que, levadas à exasperação, se transformam em ideologias destrutivas. Quantos jovens hoje, talvez movidos por suas próprias convicções políticas ou religiosas, acabam se tornando instrumentos de violência e destruição na vida de muitos! Alguns, nativos digitais, encontram o novo campo de batalha no ambiente virtual e nas redes sociais, recorrendo sem escrúpulos à arma das fake news para espalhar venenos e demolir seus adversários.

Quando o Senhor irrompe na vida de Paulo, não anula a sua personalidade, ele não cancela o seu zelo e sua paixão, mas coloca em ato essas suas qualidades para torná-lo o grande evangelizador até os confins da terra.

Apóstolo dos gentios

Paulo será mais tarde conhecido como "o apóstolo dos gentios": ele, que tinha sido um fariseu escrupuloso observante da Lei! Aqui está outro paradoxo: o Senhor deposita sua confiança justamente naquele o perseguia. Como Paulo, cada um de nós pode sentir no fundo do coração, esta voz que lhe diz: “Eu confio em você. Conheço sua história e a tomo em minhas mãos, junto com você. Mesmo que muitas vezes tenha estado contra mim, eu o escolho e o torno minha testemunha”. A lógica divina pode fazer do pior perseguidor uma grande testemunha.

O discípulo de Cristo é chamado a ser "a luz do mundo" (Mt 5,14). Paulo deve testemunhar o que viu, mas agora ele está cego. Estamos de volta ao paradoxo! Mas, justamente por meio dessa experiência pessoal, Paulo poderá se identificar com aqueles a quem o Senhor o envia. De fato, ele se torna testemunha "para abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz” (At 26,18).

"Levanta-te e testemunha!"

Ao abraçar a nova vida que nos é dada no Batismo, recebemos também uma missão do Senhor: “Serás minha testemunha!”. É uma missão à qual se dedicar, que muda a vida.

Hoje o convite de Cristo a Paulo dirige-se a cada um e cada uma de vocês, jovens: Levanta-te! Não podes ficar no chão e "sentir pena de ti mesmo", há uma missão que te espera! Também podes ser testemunha das obras que Jesus começou a realizar em ti. Por isso, em nome de Cristo, digo-te:

– Levanta-te e testemunha a tua experiência de cego que encontrou a luz, viu o bem e a beleza de Deus em si mesmo, nos outros e na comunhão da Igreja que vence toda a solidão.

– Levanta-te e testemunha o amor e o respeito que se pode instaurar nas relações humanas, na vida familiar, no diálogo entre pais e filhos, entre jovens e idosos.

– Levanta-te e defende a justiça social, a verdade e a retidão, os direitos humanos, os perseguidos, os pobres e os vulneráveis, aqueles que não têm voz na sociedade, os imigrantes.

– Levante-se e testemunha o novo olhar que te faz ver a criação com olhos maravilhados, te faz reconhecer a Terra como a nossa casa comum e te dá a coragem para defender a ecologia integral.

– Levanta-te e testemunha que vidas fracassadas podem ser reconstruídas, que pessoas já mortas no espírito podem ressuscitar, que pessoas escravizadas podem se tornar livres novamente, que os corações oprimidos pela tristeza podem encontrar a esperança.

– Levante-se e testemunha com alegria que Cristo vive! Divulga a sua mensagem de amor e salvação entre teus colegas, na escola, na faculdade, no trabalho, no mundo digital, em qualquer lugar. O Senhor, a Igreja, o Papa confiam em vocês e os tornam testemunhas em relação a tantos outros jovens que encontram nas “estradas para Damasco” do nosso tempo. Não se esqueçam: “se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar que lhe deem muitas lições ou longas instruções. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus (Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 120).

Levantem-se e celebrem a JMJ nas Igrejas particulares!

Renovo a todos vocês, jovens do mundo, o convite a participar nesta peregrinação espiritual que nos levará a celebrar a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa em 2023. O próximo encontro, porém, é nas vossas Igrejas particulares, nas diversas dioceses e eparquias do mundo, onde, na solenidade de Cristo Rei, se celebrará – em nível local - a Jornada Mundial da Juventude de 2021. Espero que todos nós possamos viver estas etapas como verdadeiros peregrinos e não como "turistas da fé"! Abramo-nos às surpresas de Deus, que quer deixar a sua luz resplendecer no nosso caminho. Abramo-nos para escutar sua voz, também através de nossos irmãos e nossas irmãs.

Assim nos ajudaremos uns aos outros a nos levantarmos juntos, e neste momento histórico difícil nos tornaremos profetas de novos tempos, cheios de esperança! A Beata Virgem Maria interceda por nós.


Francisco.


____________________________

A mensagem do Papa Francisco para a Jornada Mundial da Juventude de 2021 foi publicada por Avvenire, 28-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Fonte: IHU

28 setembro, 2021

Contemplar… Amar… Cuidar…

O artigo é de Irmã Tea Frigerio, publicado no Porta das CEBs


Contemplar… Amar… Cuidar…

Amigas e Amigos, setembro … primavera … ABYA ALA … Casa Comum … dia da Amazônia … do Cerrado … da Árvore … dia … isso tudo me leva a convidar-vos a um tempo de silêncio e no silêncio colocar-nos à escuta. No silêncio escutar a Amazônia falar ao nosso coração e quem sabe na escuta nosso coração se converta aos verbos:

Contemplar…

Peço-te uns minutos para meditar comigo sobre o estado da nossa casa.

Fecha os olhos e traz à tua mente a imagem do nosso planeta, a imagem que temos do espaço deste ser tão frágil, tão belo, tão azul, flutuando numa escuridão imensa…

Deixa teu corpo responder à sua beleza, a seu imenso tecido de montanhas e oceanos, à sua dança contínua: vento e calor, chuvas e novos amanheceres.

Deixa que tua respiração se conecte com as dinâmicas mais profundas da Terra; respiramos juntas, tu, eu, nós, ela.

“Aprendendo com os povos nativos, podemos contemplar a Amazônia, e não apenas analisá-la, para reconhecer esse precioso mistério que nos supera; podemos amá-la, e não apenas usá-la, para que o amor desperte um interesse profundo e sincero; mais ainda, podemos sentir-nos intimamente unidos a ela, e não só defendê-la: e então a Amazônia tornar-se-á nossa, como uma mãe” (QAm 55).

Amar…

Permite-te ver e sentir o estado diminuído de nosso torrão. O que está vivendo agora é realmente angustiante; um de seus brotos – nós, os humanos – estamos mudando sua química, estamos alterando seus grandes ciclos hidrológicos; estamos debilitando a capa de ozônio que nos protege das radiações solares; estamos contaminando o ar, a água e a terra com substâncias tóxicas. Enfim, a espécie humana está debilitando o tecido terrestre que foi urdido durante milhões de anos desde que produziu este imenso desenvolvimento de formas de vida que continuam evoluindo.

Somos um planeta que está secando, “desertificando”, perdendo seu esplendor, sua diversidade.

Pensa: cada vez que extinguimos uma espécie, perdemos uma voz única de nosso planeta, e nada pode ressuscitá-la; nem Deus nem a ciência. Resta somente a memória de que “havia uma vez a águia, o condor…”.

“… há que apreciar esta espiritualidade indígena da interconexão e interdependência de todo o criado, espiritualidade de gratuidade que ama a vida como dom, espiritualidade de sacra admiração perante a natureza que nos cumula com tanta vida…“ (QAm 73).

Cuidar…

Deixa que venham os sentimentos de angústia, de tristeza, de raiva. Sabemos, muito bem, esta destruição vem de uma mentalidade de “poder sobre”. Por mais de 5.000 anos temos recusado crer que somos parte da comunidade da terra. Que somos e fazemos parte do mesmo tecido: terra, água, céu, plantas, cada expressão de vida invisível ou visível aos olhos, inúmeros fios que tecem esta imensa rede universal. Somos terrestres, não extraterrestres.

O que te dizem tuas instituições para iniciar um processo de re-enraizarmos na comunidade da terra? As minhas dizem-me que qualquer ética humana deriva da ética da mesma terra.

O que nos diz a ética da terra? Que a norma básica é o bem-estar da comunidade inteira, e dentro disso, o bem-estar da espécie humana.

Os ecossistemas da terra devem manter-se coerentes entre si para poder seguir o processo evolutivo programado no mesmo planeta. Nós humanos devemos escutar nossos próprios códigos genéticos que nos vinculam ao contexto mais amplo dos códigos da mesma terra.

“… A sabedoria dos povos nativos da Amazônia «inspira o cuidado e o respeito pela criação, com clara consciência dos seus limites, proibindo o seu abuso. Abusar da natureza significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador, hipotecando o futuro». Os indígenas, «quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuidam»… A terra tem sangue e está sangrando, as multinacionais cortaram as veias da nossa “Mãe Terra”».” (QAm 42).

A terra é a primeira progenitora, a primeira economista, sanadora e educadora e, às vezes, a razão de ser de todas as criaturas. A terra sempre está ressuscitando.

Pensa, a cada instante, outros milhões de ‘caras’ novas aparecem, debaixo das folhas molhadas, em cima das árvores, dentro de um pau podre, no fundo do mar, nas clínicas e hospitais: todas estas caras novas, de onde vem? Da fecundidade misteriosa da mesma terra! Porém cada cara, cada espécie, está interligada e limitada pelas outras espécies, o por seu mesmo ecossistema.

Quantos seres humanos o planeta pode sustentar? A resposta vem da mesma terra: os números que um ecossistema pode sustentar e, às vezes, seguir enriquecendo a aventura da comunidade inteira deste ecossistema.

Esta resposta nos dá pistas, ou é uma resposta demais simplista num assunto muito mais complexo?

Possas escutar tuas próprias intuições, tuas reflexões, mulher, homem, fruto do ventre da terra.

Amigo, Amiga, teu coração escuta, contempla, ama, quer cuidar? Se sim, ore comigo, como um compromisso que da Amazônia se espraia a cada canto do Planeta, da Casa que nos acolheu e nos hospeda:

“Sonho … que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida.

Sonho … que reserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana.

Sonho … que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.

Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar, que deem à Igreja rostos novos” (QAm).

[QAm = Querida Amazônia, exortação apostólica pós-sinodal de 2020 do Papa Francisco, escrita em resposta ao Sínodo dos Bispos da região da Pan-Amazônia, realizada em Roma em outubro de 2019].

27 setembro, 2021

“Não há vagas” - Poema de Ferreira Gullar

Escrito em 1963, faz uma crítica direta às condições de vida da população, enquanto viviam as inquietações do período da ditadura militar. Uma produção que nos ajuda a refletir sobre o cenário social brasileiro, passado e presente.

Segue o poema

Não há vagas

O preço do feijão não cabe no poema.
O preço do arroz não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação do leite, da carne, do açúcar, do pão

O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome 
sua vida fechada em arquivos.

Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão 
nas oficinas escuras

— porque o poema, senhores, está fechado: “não há vagas”

Só cabe no poema o homem sem estômago, a mulher de nuvens , a fruta sem preço

O poema, senhores, não fede, nem cheira.

25 setembro, 2021

Seminário “CEBs: Igreja Sinodal”

Nossa...que conteúdo. Muito bom.
Seminário “CEBs: Igreja Sinodal”
Iser Assessoria e Setor CEBs da CNBB
O seminário iniciou ontem e vai até amanhã.



24 setembro, 2021

Seminário “CEBs: Igreja Sinodal” - Iser Assessoria e Setor CEBs da CNBB

Seminário “CEBs: Igreja Sinodal”
Iser Assessoria e Setor CEBs da CNBB

Com alegria e honra, participarei desse seminário que inicia hoje e vai até domingo, três dias.


- Hoje primeiro dia, João Décio nos falará sobre “O tradicionalismo como pano de fundo do contexto eclesial no qual as CEBs se encontram”.

- Amanhã sábado, parte da manhã “Reação de Aquino Junior à fala de João Décio na perspectiva da sinodalidade. Qual poderia ser a contribuição das CEBs neste contexto?”

- Na parte da tarde de sábado “Análise de Conjuntura “- Provocação de Ivo Lesbaupin.

- No domingo seremos provocadas e provocados por Celso Pinto Carias quanto à “Articulação das CEBs”.

Para refletir

"Reflitamos! Quantas pessoas deixaram de ter fome e sede de Deus! Não porque sejam más, mas porque falta quem lhes abra o apetite da fé e reacenda a sede que há no coração do homem: aquela que a ditadura do consumismo – leve, mas sufocante – tenta extinguir. Muitos são levados a sentir apenas necessidades materiais, não a falta de Deus". (Papa Francisco)

23 setembro, 2021

“A liberdade nos assusta”. Íntegra da conversa do Papa Francisco com os jesuítas eslovacos

 Bratislava, domingo, 12 de setembro de 2021, 17h30. O Papa Francisco acaba de concluir seu encontro com os representantes do Conselho Ecumênico das Igrejas na Nunciatura. O tempo de arrumar as cadeiras depois do encontro anterior terminar, e eis que 53 jesuítas eslovacos tomam seus lugares no salão. Francisco entra e cumprimenta: “Boa noite e sejam bem-vindos! Obrigado por esta visita. Não sabia que havia tantos jesuítas aqui na Eslováquia. Dá para ver que ‘a peste’ se espalha por toda parte”. O grupo cai na gargalhada. Francisco pede perguntas porque, afirma ele, novamente provocando uma risada: "Realmente não me sinto com vontade de fazer um discurso aos jesuítas".

 O Provincial da Província eslovaca dirigiu algumas palavras de saudação ao Papa: “Padre, quero agradecer-lhe de todo o coração por este convite que foi uma surpresa para nós. É um incentivo para a nossa vida comunitária e pastoral. Existem muitos jesuítas na Eslováquia. Queria confirmar que a Companhia quer estar à sua disposição e para as necessidades da Igreja”.

Papa responde com uma brincadeira: “Obrigado. A ideia de convidar os jesuítas nas minhas viagens apostólicas é do pe. Spadaro porque assim ele tem material para fazer um artigo para ‘La Civiltà Cattolica’ que publica sempre essas conversas!" E continua: “Vamos lá, espero as perguntas. Joguem a bola para o goleiro. Vamos!".

 A reportagem é de Antonio Spadaro, jesuíta, diretor da revista Civiltà Cattolica, publicada na mesma, no dia 21-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 Eis a conversa.

 Um jesuíta pergunta: "Como está?"

Ainda vivo. Embora alguns me quisessem morto. Sei que houve até encontros entre prelados que achavam que o Papa estava pior do que era divulgado. Eles estavam preparando o conclave. Paciência! Graças a Deus, estou bem. Fazer aquela cirurgia foi uma decisão que eu não queria tomar: foi um enfermeiro que me convenceu. Os enfermeiros às vezes entendem a situação mais do que os médicos, porque estão em contato direto com os pacientes.

Um jesuíta que trabalhou por quase 15 anos na Rádio Vaticano pergunta com o que os jesuítas devem se preocupar para o trabalho pastoral na Eslováquia.

Uma palavra sempre me vem à mente: "proximidade".

"Onde há encruzilhada de caminhos, de ideias, ali estão os jesuítas" – Paulo VI citado pelo Papa Francisco

Proximidade de Deus, em primeiro lugar: não deixar a oração! A oração verdadeira, do coração, não aquela formal que não toca o coração. A oração que luta com Deus, e que conhece o deserto onde nada se ouve. Proximidade de Deus: ele está sempre esperando por nós. Poderíamos ter a tentação de dizer: não posso orar porque estou ocupado. Mas ele também está ocupado. Está ocupado ficando ao seu lado, esperando por você.

 Segundo: a proximidade entre vocês, o amor entre os irmãos, o amor austero dos jesuítas que é muito fino, caritativo, mas também austero: amor de homens. Dói-me quando vocês ou outros sacerdotes se ‘descascam’ entre si. E isso bloqueia, não permite avançar. Mas esses problemas existiam desde o início da Companhia. Vamos pensar, por exemplo, na paciência que Ignácio teve com Simon Rodriguez. É difícil ser uma comunidade, mas a proximidade entre vocês é muito importante.

 Terceiro: a proximidade com o bispo. É verdade que há bispos que não nos querem, é uma verdade, sim. Mas não deve existir um jesuíta que fale mal do bispo! Se um jesuíta pensa diferente do bispo e tem coragem, deve ir até o bispo e dizer a ele o que pensa. E, quando digo bispo, também me refiro ao Papa.

 Quarto: proximidade com o povo de Deus. Vocês devem ser como nos disse Paulo VI em 3 de dezembro de 1974: onde há encruzilhada de caminhos, de ideias, ali estão os jesuítas. Leiam bem e meditem sobre aquele discurso de Paulo VI à Congregação Geral XXXII: é a coisa mais bela que um Papa já disse aos jesuítas. É verdade que se nós formos realmente homens que vão às encruzilhadas e aos limites, criaremos problemas. Mas o que nos salvará de cair em ideologias estúpidas é a proximidade com o povo de Deus, e assim poderemos seguir em frente e com o coração aberto.

Claro, pode ser que alguns de vocês fiquem entusiasmados e depois o Provincial chegue para segurá-los dizendo: "Não, isso não está certo." E então devemos continuar em frente com a disposição de ser obedientes. A proximidade com o povo de Deus é tão importante porque nos "enquadra". Nunca se esqueçam de onde fomos tirados, de onde viemos: o nosso povo. Mas se nos separarmos e formos em direção a uma ... universalidade etérea, então perderemos as raízes. As nossas raízes estão na Igreja, que é o povo de Deus.

É verdade que se nós formos realmente homens que vão às encruzilhadas e aos limites, criaremos problemas. Mas o que nos salvará de cair em ideologias estúpidas é a proximidade com o povo de Deus, e assim poderemos seguir em frente e com o coração aberto – Papa Francisco

Por isso, aqui vos peço quatro proximidades: com Deus, entre vocês, com os bispos e o Papa, e com o povo de Deus, que é a mais importante.

 Um jesuíta toma a palavra e lembra que ali há cerca de vinte religiosos ordenados padres clandestinamente, como ele mesmo. Afirma que foi uma experiência maravilhosa para eles terem crescido no mundo do trabalho ...

 O trabalho para ganhar o pão ... o trabalho manual ou intelectual é trabalho, é saúde. E o povo de Deus, se não trabalha, não come ...

 Um dos presentes começa dizendo: “Sou dois anos mais novo que o senhor” e o Papa responde: “... mas não parece! Você usa maquiagem!”. E os outros riem. Ele continua: “Em 1968 entrei na Companhia de Jesus como refugiado. Fui membro da Província Suíça por 48 anos e estou aqui há 5 anos. Tenho vivido em Igrejas muito diferentes. Hoje vejo que muitos querem voltar ou buscar certezas no passado. Sob o comunismo, experimentei a criatividade pastoral. Alguns até diziam que não se poderia formar um jesuíta durante o comunismo, mas outros o fizeram e nós estamos aqui. Que visão de Igreja podemos seguir?”.

 Você disse uma palavra muito importante, que identifica o sofrimento da Igreja neste momento: a tentação de voltar atrás. Sofremos isso hoje na Igreja: a ideologia do voltar atrás. É uma ideologia que coloniza as mentes. É uma forma de colonização ideológica. Não é um problema realmente universal, mas bastante específico das Igrejas de alguns países. A vida nos assusta. Repito algo que já disse ao grupo ecumênico que encontrei aqui antes de vocês: a liberdade nos assusta. Em um mundo que está assim condicionado pelas dependências e pela virtualidade, nos causa medo ser livres.

No encontro anterior, usei como exemplo O Grande Inquisidor de Dostoiévski: ele encontra Jesus e lhe diz: “Por que você deu a liberdade? É perigosa!". O inquisidor censura Jesus por nos ter dado a liberdade: teria bastado um pouco de pão e nada mais. É por isso que hoje voltamos ao passado: para buscar seguranças. Assusta-nos celebrar perante o povo de Deus que nos olha na cara e nos diz a verdade. Assusta-nos ir em frente nas experiências pastorais. 

Um problema que identifica o sofrimento da Igreja neste momento: a tentação de voltar atrás. Sofremos isso hoje na Igreja: a ideologia do voltar atrás. É uma ideologia que coloniza as mentes. É uma forma de colonização ideológica – Papa Francisco

Penso no trabalho que foi feito - o Padre Spadaro estava presente - no Sínodo sobre a família para entender que os casais em segunda união ainda não estão condenados ao inferno. Assusta-nos acompanhar pessoas com diversidade sexual. Assusta-nos as encruzilhadas dos caminhos de que falava Paulo VI. Este é o mal deste momento. Buscar o caminho na rigidez e no clericalismo, que são duas perversões. Hoje acredito que o Senhor está pedindo à Companhia para ser livre, com oração e discernimento. É uma época fascinante, de um encanto belo, mesmo que fosse o da cruz: belo para levar adiante a liberdade do Evangelho. A liberdade! Esse voltar atrás, vocês o podem viver em sua comunidade, em sua Província, na Companhia. É preciso estar atentos e vigilantes. O meu não é um elogio à imprudência, mas quero sinalizar que voltar atrás não é o caminho certo. Certo é ir em frente no discernimento e na obediência.

 Um jesuíta pergunta como ele vê a Companha hoje. Fala de uma certa falta de fervor, de uma vontade de buscar seguranças em vez de ir às encruzilhadas, como pedia Paulo VI, porque não é fácil.

 Não, certamente não é fácil. Mas quando se sente que falta fervor, deve-se fazer discernimento para entender o porquê. Você tem que falar sobre isso com seus irmãos. A oração ajuda a entender se e quando há falta de fervor. É preciso falar disso com os irmãos, os superiores e depois fazer um discernimento para verificar se é uma desolação só sua ou uma desolação mais comunitária. Os Exercícios nos dão a oportunidade de encontrar respostas para perguntas como esta. Estou convencido de que nós não conhecemos bem os Exercícios. As anotações e as regras do discernimento são um verdadeiro tesouro. Precisamos conhecê-las melhor.

 Um dos presentes recordou que o Papa fala muitas vezes das colonizações ideológicas que são diabólicas. Faz referência, entre outras, àquela do "gênero".

 A ideologia sempre tem o fascínio diabólico, como você diz, porque não é encarnada. Neste momento vivemos uma civilização de ideologias, isso é verdade. Temos que desmascará-las na raiz. A ideologia do "gênero" de que você fala é perigosa, sim. Pelo que entendi, é perigosa porque é abstrata no que diz respeito à vida concreta de uma pessoa, como se uma pessoa pudesse decidir abstratamente ao seu gosto se e quando ser homem ou mulher. A abstração, para mim, é sempre um problema. Isso não tem nada a ver com a questão homossexual, veja bem. Se existe um casal homossexual, podemos fazer pastoral com eles, avançar no encontro com Cristo. Quando falo da ideologia, falo da ideia, da abstração para a qual tudo é possível, não da vida concreta das pessoas e da sua situação real.

 Um jesuíta agradece ao Papa por suas palavras dedicadas ao diálogo judaico-cristão.

 O diálogo continua. Devemos absolutamente evitar que haja interrupções, que o diálogo seja rompido, seja interrompido por mal-entendidos, como às vezes acontece.

 Um dos participantes fala ao Papa sobre a situação da Igreja eslovaca e as tensões internas. Alguns até veem o senhor como heterodoxo, outros o idealizam. Nós jesuítas - afirma ele - tentamos superar essa divisão. E pergunta: "Como o senhor lida com pessoas que o veem com suspeita?"

 Por exemplo, há uma grande rede de televisão católica que constantemente fala mal do Papa sem ter problemas. Eu, pessoalmente, posso merecer ataques e insultos porque sou um pecador, mas a Igreja não merece isso: é obra do diabo. Eu também o disse a alguns deles.

 Sim, também existem clérigos que fazem comentários maldosos sobre mim. Às vezes, falta-me paciência, especialmente quando proferem juízos sem entrar em um verdadeiro diálogo. Ali eu não posso fazer nada. No entanto, sigo em frente sem entrar em seu mundo de ideias e fantasias. Não quero entrar nisso e é por isso que prefiro pregar, pregar ... Alguns me acusaram de não falar da santidade. Dizem que sempre falo do social e que sou um comunista. Mesmo assim, escrevi uma Exortação Apostólica inteira sobre a santidade, a Gaudete et Exsultate.

Em um mundo que está assim condicionado pelas dependências e pela virtualidade, nos causa medo ser livres – Papa Francisco

Agora espero que, com a decisão de interromper o automatismo do rito antigo, possamos voltar às verdadeiras intenções de Bento XVI e de João Paulo II. Minha decisão é fruto de uma consulta a todos os bispos do mundo feita no ano passado. A partir de agora, quem quiser celebrar com o vetus ordo deve pedir permissão a Roma, como é feito com o biritualismo. Mas há jovens que depois de um mês de ordenação vão ao bispo para pedi-lo. Este é um fenômeno que indica que se vai para trás.

 Um cardeal me disse que dois padres recém-ordenados o procuraram pedindo para estudar latim para celebrar bem. Ele, que tem senso de humor, respondeu: “Mas há tantos hispânicos na diocese! Estudem espanhol para poder pregar. Então, quando vocês tiverem estudado espanhol, voltem a mim e eu lhes direi quantos vietnamitas há na diocese, e lhes pedirei para estudar vietnamita. Depois, quando vocês tiverem aprendido vietnamita, vou dar-lhes a permissão para estudar também o latim”. Assim ele os fez "aterrissar", os fez voltar para a terra. Eu vou em frente, não porque quero fazer uma revolução. Eu faço o que sinto que devo fazer. É preciso muita paciência, oração e muita caridade.

 Um jesuíta fala do medo generalizado dos refugiados.

 Acredito que os migrantes devem ser acolhidos, mas não só: é preciso acolher, proteger, promover e integrar. São necessários todos esses quatro passos para realmente acolher. Cada país deve saber até onde pode fazer isso. Deixar os migrantes sem integração é deixá-los na miséria, equivale a não os acolher. Mas precisamos estudar bem o fenômeno e entender suas causas, especialmente as geopolíticas. É preciso entender o que acontece no Mediterrâneo e quais são os jogos das potências que circundam aquele mar para o controle e o domínio. E entender o porquê e quais são as consequências.

 Mons Datonou, o responsável da organização da viagem, vem dizer ao Papa que é hora de ir embora. Francisco olha para o relógio e está se levantando para se despedir quando um jesuíta lhe diz: “Santo Padre, uma última coisa: Santo Inácio diz que devemos sentir e saborear as coisas internamente. O jantar o aguarda. Saboreie algo da cozinha eslovaca!”. O Papa ri e diz que verá o que prepararam para o jantar.

 Fotos são tiradas. O grupo é grande e por isso os jesuítas são divididos por comunidade e cada uma tira uma foto com Francisco. O encontro termina com um "Ave Maria" e a bênção final. 

Buscar o caminho na rigidez e no clericalismo, que são duas perversões. Hoje acredito que o Senhor está pedindo à Companhia para ser livre, com oração e discernimento – Papa Francisco

Em 14 de setembro, houve um segundo, breve encontro com os jesuítas em Prešov, logo após a celebração da Divina Liturgia. De fato, Francisco, a convite de um jesuíta que encontrou na Nunciatura de Bratislava, visitou o pessoal da casa de Exercícios espirituais que não podia participar da celebração porque estava ocupado na preparação da hospedagem para os bispos presentes. No final, Francisco cumprimentou de pé, no pórtico, também os jesuítas que compõem a comunidade local.

Fonte. IHU


“Catequese Permanente” – Parte 3/4 "E a Palavra habitou entre nós" - Est...

22 setembro, 2021

Dia da Contadora e do Contador 22 de setembro

Gosto da profissão que escolhi, engana quem pensa que ser Contad@r é só lidar com números.
Antes dos números vêm o relacionar com pessoas, suas dificuldades e seus sonhos, suas decepções e suas conquistas e encorajá-los para irem em frente.


Símbolos da Contabilidade

O caduceu é um bastão entrelaçado com duas serpentes, que na parte superior tem duas pequenas asas ou um elmo alado. Sua origem se explica racional e historicamente pela suposta intervenção de Mercúrio diante de duas serpentes que lutavam, as quais se enroscavam em seu bastão. Os romanos utilizavam o caduceu como símbolo do equilíbrio moral e da boa conduta: o bastão expressa o poder; as duas serpentes, a sabedoria; as asas,a diligência; o elmo é emblemático de pensamentos elevados.

22 de setembro começa a primavera


22 de setembro é o 265.º dia do ano no calendário gregoriano (266.º em anos bissextos). Faltam 100 para acabar o ano. É o dia do equinócio de setembro, quando começa a primavera no hemisfério sul e o outono no hemisfério norte.

‘Hoje é o primeiro dia de primavera. Boa primavera!’


‘Hoje é o primeiro dia de primavera. Boa primavera!’


O que acontece na primavera? As plantas e as árvores florescem?
Eu pergunto agora: uma árvore ou uma planta doente florescem bem?
Uma árvore ou uma planta que não são regadas pela chuva podem florescer bem?
E uma árvore e uma planta sem raízes podem florescer?
A vida cristã deve ser uma vida que deve florescer.
Quem é a raiz?
“É Jesus. Se não regarmos a nossa vida com os sacramentos e a oração não poderemos ter uma vida cristã.
Que esta primavera seja para vocês uma primavera florida, de virtudes, de fazer o bem aos outros.
Recordem que tudo o que floresceu na árvore nasceu do que ela tem no subsolo.

(Papa Francisco)