Escrito em 1963, faz uma crítica direta às condições de vida da população, enquanto viviam as inquietações do período da ditadura militar. Uma produção que nos ajuda a refletir sobre o cenário social brasileiro, passado e presente.
Segue o poema
Não há vagas
O preço do feijão não cabe no poema.
O preço do arroz não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação do leite, da carne, do açúcar, do pão
O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome
sua vida fechada em arquivos.
Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão
nas oficinas escuras
— porque o poema, senhores, está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema o homem sem estômago, a mulher de nuvens , a fruta sem preço
O poema, senhores, não fede, nem cheira.
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