19 dezembro, 2025

Direita raiz, esquerda nutella

Direita raiz, esquerda nutella

Olá, a direita segue a ofensiva no Congresso de olho nas urnas, enquanto o governo negocia.

.A banca sempre vence. A aprovação do PL da Anistia no Senado encerra o ano ilustrando bem o que foi o Congresso em 2025. Com exceção da PEC da Blindagem, o centrão levou tudo o que quis, principalmente emendas. Para aprovar a taxação de bets e fintechs, o governo ressuscitou o pagamento de emendas parlamentares de 2023, que já estavam canceladas, num valor estimado de R$3 bilhões. Mas o episódio também ilustra as dificuldades internas do próprio governo. Jaques Wagner causou um mal estar generalizado ao negociar o PL com os senadores, supostamente por iniciativa própria, sendo repreendido publicamente por Gleisi Hoffmann e, na prática, pelo PT e por Lula. Na melhor das hipóteses, a atitude confirma a crítica interna do próprio PT de que o partido tem o seu “centrãozinho”. E, mais uma vez, se comprovou que não é possível confiar na base governista. O PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin deu quatro dos seus cinco votos para a anistia dos golpistas. Há poucos indícios de que o próximo ano possa ser diferente. É verdade que o ano eleitoral pode favorecer o governo, já que até aqui as pesquisas de opinião são francamente favoráveis à reeleição de Lula e esse é um fator poderoso de atração, além da sensação de que a inflação diminuiu. Como já se percebe pelo União Brasil, que derrubou um ministro porque tinha permanecido fiel a Lula, mas definiu o substituto, ficando com o Ministério do mesmo jeito. No mínimo, o Planalto espera neutralidade dos partidos do centrão na disputa eleitoral, em especial do MDB e do PSD. Além disso, o governo, queira ou não, vai ter que continuar convivendo com a fragilidade que é ter um Hugo Motta à frente da Câmara. A incapacidade e a inabilidade do presidente da Câmara tem sido tanto um problema para os governistas, quanto uma oportunidade para o centrão. Mas sem ter o que fazer até que seu mandato termine, o jeito é achar uma coexistência com o playboy trapalhão. O que poderia mudar radicalmente a relação desfavorável com o Congresso é uma ofensiva bem sucedida do STF - e por que não da PF - sobre as emendas. O fato de que as investigações já tenham chegado ao gabinete de Arthur Lira é um bom sinal.

.Hora de aventura. Ninguém gostou da indicação de Flávio Bolsonaro como candidato da oposição, nem o centrão, nem o mercado, nem Silas Malafaia. A bolsa despencou e o dólar subiu. Além da Faria Lima não estar disposta a embarcar de novo nas aventuras da família Bolsonaro, o mercado considera que a candidatura de Flávio facilitaria uma vitória folgada de Lula, considerado por eles o pior dos mundos. Mesmo assim, segundo alguns analistas, Lula teria preferência por uma disputa contra Tarcísio porque isso abriria a corrida eleitoral ao governo de São Paulo e daria maior consistência ideológica às eleições presidenciais, já que Tarcísio é mais identificado como um candidato do mercado e dos bancos. Outros, porém, avaliam que o petista estaria satisfeito em enfrentar um opositor fraco como Flávio. Seja como for, o eleitorado tem sua própria maneira de ver as coisas. A última pesquisa Genial/Quaest indica que a população absorveu rapidamente a candidatura de Flávio Bolsonaro. Apesar de perder por uma diferença de 10% dos votos num hipotético segundo turno contra Lula, ele se sairia melhor do que o governador de São Paulo. Isso só mostra que, mesmo depois da prisão, Bolsonaro continua sendo um elemento simbólico decisivo para 2026, confirmando que o bolsonarismo deve ter mesmo vida longa. Para variar, a direita e o centrão foram incapazes de produzir uma “terceira via” e já começam a desmobilizar a candidatura de Tarcísio, assim como faz o mercado, mais por pragmatismo que por convicção. Mesmo com dúvidas, o PL sente-se confortável em levar adiante a aventura porque ela deve impulsionar as candidaturas do partido à Câmara e ao Senado. Mas o dilema deve adentrar 2026 e tudo dependerá das próximas pesquisas de opinião para saber o ânimo do eleitorado e a capacidade do filho do ex-capitão reduzir sua taxa de rejeição, que chega a 60%. Além disso, se Flávio quiser realmente seguir adiante, terá que conquistar o coração da Faria Lima e, assim como fez seu pai em 2018, encontrar seu próprio Paulo Guedes. Sem chances de vencer Lula e vendo suas oportunidades minguarem fora do bolsonarismo, o centrão já sonha com um milagre ou um outsider, ao estilo Pablo Marçal, que possa bagunçar o cenário eleitoral do ano que vem.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.A América Latina diante da ameaça Trump. A nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos coloca o controle do continente como prioridade. Por Jeffrey Sachs, no Outras Palavras.

.Fim da escala 6x1: o que muda e quem ganha se PEC for aprovada no Congresso. A Pública mapeia a proposta legislativa e seus impactos.

.Netflix compra Warner: o que vai mudar no Brasil? Maura Martins analisa os riscos trazidos pelo monopólio no setor audiovisual. Na Escotilha.

.Conexões de milhões. O Intercept revela que a produtora de filme sobre Bolsonaro é financiada com dinheiro público da prefeitura de São Paulo.

.Ken Loach: o cinema como espelho da devastação neoliberal. Ricardo Antunes analisa a obra de um dos maiores cineastas de nosso tempo. Na Terra é Redonda.

.Terceiro Reich and Roll. A Jacobina explora a obsessão das bandas de Rock pela estética nazi, revelada no recente livro do historiador Daniel Rachel.

.As melhores leituras de 2025. Quinze jornalistas da Piauí sugerem os melhores livros do ano.

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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

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