Discurso (na íntegra) do Pe. Dirceu Alves do Nascimento pronunciado na Sessão Itinerante da Câmara Municipal de Maringá, realizada no dia 27 de maio de 2014 no salão paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Liberdade.
Excelentíssimos senhores vereadores e Excelentíssimas senhoras vereadoras, senhores e senhoras, boa noite.
Em nome da comunidade, agradeço o vereador Humberto Henrique que requereu para que esta Sessão itinerante acontecesse em nosso bairro, assim como agradeço ao senhor presidente e membros da mesa diretora, e demais vereadores que aprovaram e vieram, nos prestigiar com esta Sessão.
Inicio esta fala com alguns versículos da Sagrada Escritura, precisamente da primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 13, 1-7.
Se todo nosso falar e nossas ações não estiverem imbuídas de grande amor... é como um bronze que soa... mesmo que tivéssemos fé ao ponto de remover montanhas, mas se faltar o amor... nada seremos. Posso dar todos os meus bens aos pobres, me colocar como escravo... gestos bonitos não?... mas se fizer isso para me gloriar, para aparecer... tudo isso, sem amor... de nada me serviria. O amor é paciente e benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso, não se incha de orgulho e não faz nada de vergonhoso... não é interesseiro... projetos que visam interesse pessoal, que visam a própria glória... são vazios aos olhos de Deus. Não se encoleriza, não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade.
Senhores e Senhoras, a igreja nos ensina e nos pede insistentemente que, os cristãos leigos precisam santificar seu ambiente de trabalho. Em base no batismo recebido, a ação apostólica dos leigos se torna indispensável em situações e circunstâncias em que somente eles conseguem levar a Palavra de Deus. E o âmbito da política municipal é o espaço onde os senhores vereadores podem e devem ser os protagonistas da evangelização. Claro, mais do que fazer pregações, é agir conforme o valores evangélicos e procurar socorrer aqueles que mais precisam. Afinal, ser Vereador é uma nobre missão que Deus, por meio do povo, confiou aos senhores.
Acredito que proteger e defender os mais necessitados é dever de cada cidadão. Mas algumas pessoas se candidatam e “brigam” para serem eleitas e assim poderem desempenhar este papel de defensor e protetor dos mais frágeis, que é uma verdadeira missão. Gostaria de ser inocente ao ponto de pensar que todos são bem intencionados, mas a realidade nos mostra que não é bem assim, infelizmente. Muitos esquecem que são representantes do povo, que deveriam socorrer e proteger este povo, mas acabam por defender interesses políticos/partidários. Interesses que são, em sua grande maioria, contra o povo que o elegeu, e que favorecem uma minoria já abastada.
Na minha inocência, vejo como um absurdo vereadores que se declaram serem da “Situação”, ora, para mim todos deveriam ser “Oposição” ao executivo... claro, não no intuito de minar os trabalhos dele, mas de se colocarem verdadeiramente como defensores do povo e, de serem pontes entre o povo e o executivo. E fique bem claro aqui, digo isto independente de quem, ou de que partido, estiver no governo. Imagino também que todos os projetos do executivo visa atender o povo, mas podem ser melhorados e priorizados de acordo com a verdadeira necessidade dos menos favorecidos. Portanto, o vereador que, simplesmente, se alia ao prefeito, sem uma posição critica e sem defender, de fato, o povo, se torna infiel, se corrompe e não mais representa sua base, seu povo.
Quando será que veremos os interesses políticos/partidários em segundo plano e os da população e do bem comum em primeiro? Mostrando assim claramente a boa vontade daqueles que nos governam...? Mas quantas brigas inúteis, desnecessárias... quantos gestos que visam somente o interesse próprio e o povo tendo que mendigar favores, mendigar aquilo que é seu direito... Todos sabem, nunca teremos um executivo totalmente voltado aos mais necessitados, nunca teremos um povo bem atendido em seus direitos sem um legislativo forte e independente.
Senhores vereadores, longe de mim, querer denegrir vossa imagem ou desprezar projetos e passos importantes que se tem dado, mas digo tudo isto como prece, como oração, para que possamos realmente trabalhar pelo nosso querido e sofrido povo. Não sei se os senhores sabem, que no mundo todo, em cada missa nós rezamos pelos nossos governantes. Só em Maringá vocês recebem, vejam bem, em média 100 missas no final de semana, onde pedimos a Deus por vocês, para que governem com amor, com justiça e com sabedoria.
Em setembro de 2013 o Papa Francisco citou Davi como exemplo de soberano que “amava o seu povo”, a tal ponto que, após o pecado do censo, pede a Deus para puni-lo e para salvar o povo.
Diz o Papa, “não é possível governar sem amor pelo povo e sem humildade! – continua -. E cada homem, cada mulher que tem que tomar posse de um serviço de governo, deve fazer-se estas duas perguntas: eu amo o meu povo, para melhor servi-lo? Sou humilde e escuto os demais, os diferentes pontos de vista, para escolher o melhor caminho? “.
O Santo Padre também alertou para não ceder à falta de interesse pela política, na qual todos nós estamos envolvidos de muitas formas. De fato, cada um, é, de certa forma, responsável pela conduta dos governantes e deve “dar o melhor de si para que eles governem bem”.
A Doutrina Social da Igreja, recordou o Papa, destaca que “a política é uma das formas mais altas de caridade, porque é servir o bem comum”, portanto nenhum cidadão pode permitir-se “lavar-se as mãos” e cada um deve fazer algo segundo as suas possibilidades.
Quanto à atitude de “só falar mal dos governantes”, Papa Francisco notou que, por mais que muitas vezes, o governante seja um “pecador”, o cidadão deve “colaborar” com a própria “opinião”, com a própria “palavra” e também com a própria “correção”. Um católico que “não se mete na política” não está “no caminho certo”, acrescentou.
Com quais meios, porém, um bom católico deve estar disponível nesta área? Em primeiro lugar, deve fazê-lo na oração. Neste sentido, o Santo Padre citou São Paulo: “Orai por todos os homens e pelo rei e por todos aqueles que estão no poder” (1Tm 2, 1).
Sobre a oração o Papa diz: “Um cristão que não reza pelos governantes, não é um bom cristão!”. E recomendou: “Demos o melhor de nós, ideias, sugestões, o melhor, mas acima de tudo o melhor é a oração” para que os políticos “nos governem bem”.
Por isso, para terminar, mesmo quebrando o protocolo, convido a todos a rezarem pelos senhores vereadores a oração que o Senhor Jesus nos ensinou.
Pai nosso…