01 abril, 2016

New Yorker' compara Dilma a Nixon e diz que será trágico se crise afetar Bolsa Família

'New Yorker' compara Dilma a Nixon e diz que será trágico se crise afetar Bolsa Família
"Os verdadeiros perdedores na reformulação política que deve acontecer no Brasil não serão os políticos corruptos. As dezenas de milhões de beneficiários dos programas sociais criados nos governos de Lula e Dilma, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, estão sob risco também. (…) Será uma tragédia se, na corrida louca para formar uma nova coalizão política, ela (coalizão) se torne mais favorável aos negócios e deixe para trás o eleitorado".
A revista semanal americana 'The New Yorker' comparou nesta quarta-feira (30) a presidente Dilma Rousseff ao ex-presidente americano Richard Nixon (1969-1974) --mandatário reeleito ao posto em 1972 que, menos de dois anos depois, acabou renunciando em meio a um processo de impeachment contra ele.
A reportagem foi publicada por BBC Brasil, 30-03-2016.
Assim como ocorre no Brasil com a Operação Lava Jato, nos Estados Unidos também houve um escândalo que levou a uma crise política sem precedentes à época.
O chamado escândalo do Watergate levou Nixon a deixar o cargo na Presidência mais cedo do que planejava. Watergate era o nome do prédio onde ficava a sede do Comitê Nacional Democrata, que foi grampeado durante a campanha eleitoral de 1972, e as investigações apontaram para Nixon.
"Richard Nixon foi reeleito de maneira esmagadora em novembro de 1972 e renunciou em agosto de 1974. Dilma Rousseff, presidente do Brasil, parece estar seguindo o mesmo caminho: reeleita (não de maneira esmagadora) em outubro de 2014, ela corre tanto perigo um ano e meio depois que não parece que vai conseguir finalizar seu mandato", afirma a revista.
A publicação opina que quem tem mais a perder com a crise e a instabilidade é a população carente.
"A revolta contra Rousseff é da classe média, em um país onde a classe média ainda não é maioria, como é nos Estados Unidos", diz.
"Os verdadeiros perdedores na reformulação política que deve acontecer no Brasil não serão os políticos corruptos. As dezenas de milhões de beneficiários dos programas sociais criados nos governos de Lula e Dilma, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, estão sob risco também. (…) Será uma tragédia se, na corrida louca para formar uma nova coalizão política, ela (coalizão) se torne mais favorável aos negócios e deixe para trás o eleitorado".
Corrupção constante
Na reportagem, a 'New Yorker' cita a operação Lava Jato, que traz "a cada dia mais notícias de mais autoridades envolvidas na investigação, mais delações premiadas, mais esquemas de corrupção".
"Escândalos de corrupção são uma característica constante da política no Brasil. O governo tem um papel bem maior na economia do que costuma ter no mundo desenvolvido: há muitos negócios controlados pelo Estado, outros subsidiados e outros protegidos legalmente de qualquer competição", diz a publicação.
Outra crítica da revista é ao sistema político "complexo" do Brasil, que permite a presença de inúmeros partidos no Congresso.
"Há um sistema parlamentar especialmente complexo e caótico –atualmente, mais de duas dezenas de partidos ocupam cadeiras no Congresso, o que significa que a única forma de conseguir um governo de coalizão é sob uma troca de favores, que muitas vezes é feita na distribuição de ministérios em troca de apoio."
'Golpe'
Nesta quarta-feira, no lançamento da terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff voltou a chamar de "golpe" o processo de impeachment contra ela.
"A Constituição de 1988 tem de ser honrada porque reflete nossas lutas. Não existe essa conversa: 'Não gosto do governo, então ele cai'. Impeachment está previsto na Constituição. Mas é absolutamente má-fé dizer que todo impeachment está correto. Para isso, precisa haver crime de responsabilidade. Impeachment sem crime de responsabilidade é o quê? É golpe."
Enquanto isso, os trabalhos para analisar o pedido de impeachment da presidente –baseado nas acusações sobre as pedaladas fiscais e omissão no escândalo da Petrobras– seguem na Câmara.

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