O exercício da cidadania não depende de gosto pessoal, é um dever de todos. Principalmente neste tempo que nos é dado para exercer o dever e o direito de escolha, por isso você e eu temos na mão e no coração um poder chamado “voto”.
Cidadania não se exerce dizendo coisas do tipo “não vou votar”, “não gosto de política”, “política é coisa suja”..., pensando assim os políticos malandros agradecem.
Para esta reflexão cito Platão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.
Se vamos só pelo gosto pessoal, corremos o risco de manter no poder os “profissionais” da política. Passa ano e sai ano e são sempre os mesmos. Por isso temos que defender o voto limpo, consciente. Limpo da corrupção, das artimanhas, das promessas ou ameaças. Voto limpo sai de uma mão limpa e de uma consciência limpa.
Todos somos obrigados por lei a ir às urnas no próximo dia sete de outubro. É uma obrigação que nos leva ao compromisso democrático, definindo os rumos das nossas cidades e de nosso país. Omitir-se significa deixar os incompetentes, os homens e mulheres afeitos à vida pública, determinar os destinos de todos nós. “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem” (Bertold Brecht).
Neste sentido o voto em branco é um grave ato de omissão, com consequências graves para toda a sociedade. Essa reação do voto em branco ou nulo, uma das razões, vem do grande número de candidatos sem nenhum preparo que nos programas de rádio e TV, se apresentam como os maiores e melhores salvadores da pátria. “Talvez a política seja a única profissão para a qual pensem que não é necessário preparo” (Robert Louis Stevenson).
Ir às urnas é sinal de que queremos mudanças e vida plena para todos. A forma mais concreta de protestar em favor do bem comum está nas urnas e na sua consciência de cidadão. Por isso fica descartado o voto nulo. Anular o voto significa anular a sua cidadania. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que não usar as capacidades para transformar a realidade para melhor é homicídio. “Todo aquele que se der em práticas desonestas e mercantis que provoquem a fome e a morte de seus irmãos de humanidade comete indiretamente um homicídio que é de sua responsabilidade” (CIC 22690). Buscar caminhos, entrar na dinâmica da vida, somar com a coletividade em vista do bem maior de todos, faz a diferença.
A mudança de mentalidade em ralação à política e seu valor necessário para a sociedade, não se faz com discursos e sim com a mudança da prática. “É a mudança de prática e não apenas de discurso que vai criar uma nova confiança no agente político. Uma prática que se mostra na transparência de seus atos e de suas relações. Só uma prática firme e condizente com seus princípios vai lhe trazer a confiança perdida”(Doc. 91 CNBB, nº. 39).
Política não é cabide de emprego e muito menos lugar para se viver comodamente. “Não se pode ir para o mundo da política com quem quer resolver os seus próprios problemas, mas como quem coloca como objetivo máximo o fazer com que um rosto humano se revele em cada homem e mulher”(Doc. 91, CNBB nº 40).
Votar é participar, participar é construir um mundo cada vez melhor. Vote limpo e teremos uma cidade limpa, ordeira, promissora, e digna pra todos.
Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá-PR.
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