01 abril, 2015

Beato Oscar Romero, mártir da fé


Beato Oscar Romero, mártir da fé
Pe. Nelito Dornelas
A vida do arcebispo Dom Oscar Romero era pautada pelo Evangelho de Jesus Cristo, comprometida com o Reino de Deus. Por amar o seu povo, preocupou-se com a exclusão social, a discriminação e a violência. Era um homem de profunda oração e santidade, vivendo sua espiritualidade a partir da justiça, da liberdade e da paz. É certamente um modelo a imitar. A vida dele faz refletir profundamente sobre a radicalidade no seguimento a Jesus Cristo que molda todo nosso ser e nos torna testemunhas do Reino de Deus.
Ao presenciar o martírio do padre Rutilio Grande, dom Romero passou a defender com mais veemência os pobres, que eram constantemente atacados e agredidos pelo regime de El Salvador.

“Após dois anos como arcebispo de San Salvador, dom Oscar Romero contabilizou trinta padres a menos – mortos, expelidos ou forçados a fugir da morte”. Dom Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Família e postulador da causa para a beatificação de Romero, disse numa coletiva de imprensa no dia 4 de fevereiro no Vaticano: “Os esquadrões da morte mataram dezenas de catequistas das comunidades de base, e muitos fiéis desapareceram destas comunidades”.

Ao tomar conhecimento e presenciar tanta tragédia começou a fazer diferente, agindo com dedicação, comprometendo-se e com imenso amor, buscou construir a unidade e a paz, sem medo de agindo assim, perder a própria vida. E realmente incomodou.

"Fui frequentemente ameaçado de morte. Como cristão, não acredito na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhuma ostentação, com a maior humildade. Como pastor, sou obrigado, por mandato divino, a dar a vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, até por aqueles que me assassinarem. O martírio é uma graça de Deus, que não me sinto na situação de merecer, entretanto, se Deus aceitar o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade. Pode escrever: se chegarem a me matar, desde já eu perdoo e benzo aquele que o faça." (Dom Oscar Romero, ao Jornal Excelsior, do México, duas semanas antes de sua morte).
No dia 23 de março do corrente ano, a Igreja Católica celebrou na Catedral de San Salvador, em El Salvador, a cerimônia de beatificação do Arcebispo Oscar Arnufo Romero. Seu martírio já havia sido reconhecido oficialmente pela Igreja Anglicana na Inglaterra e pela Igreja Luterana na Alemanha. Dom Romero foi morto no dia 24 de março de 1980 por um franco-atirador do exército salvadorenho, enquanto celebrava uma missa no Hospital da Divina Providência, na capital, San Salvador. Às 6h da tarde, no momento da consagração, o arcebispo foi atingido no coração. O atirador estava escondido atrás da porta do fundo da capela. Dom Oscar morreu na hora.
“Foi certamente uma grandiosa testemunha da fé, um homem de grandes virtudes cristãs, que se comprometeu pela paz e contra a ditadura, e que foi assassinado durante a celebração da Missa. Portanto, uma morte verdadeiramente credível, de testemunho da fé”.
O processo de sua beatificação teve início por São João Paulo II em 1994. Em 2012 o Papa Bento XVI retomou a causa de sua canonização, e, agora, foi beatificado pelo Papa Francisco.
Desde o início, o processo contou com o apoio do Papa São João Paulo II, que, em 2000, manifestou o desejo de incluir dom Oscar Romero na celebração do Jubileu dos Mártires.
Quando visitou o Brasil, em 2007, o então Papa Bento XVI já havia afirmado crer no martírio de dom Oscar Romero.
Em 2010, o soldado responsável pela morte de dom Oscar Romero, capitão Álvaro Saravia, admitiu que o arcebispo foi assassinado “por ódio à fé”. O seu depoimento contribuiu para dar seguimento ao processo.
Por ter sido reconhecido como mártir, dom Oscar Romero não precisou da comprovação de um milagre para ser beatificado. Essa exigência só será necessária para que seja declarado santo. Os seus restos mortais estão na Catedral de San Salvador.
Beatificar dom Romero é atestar sua santidade, seu compromisso inquebrantável com o Deus de Jesus Cristo, com o evangelho anunciado aos pobres e com a Igreja dos pobres, que ele tanto amou e da qual foi um dos mais ilustres protagonistas.
"Romero é verdadeiramente um mártir da Igreja do Concílio Ecumênico Vaticano II, uma Igreja que é mãe de todos, particularmente dos mais pobres". Assim se referiu a dom Oscar Romero o cardeal dom Vincenzo Paglia.

SÃO ROMERO DE AMÉRICA PASTOR E MÁRTIR
O anjo do Senhor anunciou na véspera...
O coração de El Salvador marcava
24 de março e de agonia
Tu ofertavas o Pão, o Corpo Vivo
o triturado Corpo de teu Povo:
Seu derramado Sangue vitorioso
O sangue "campesino" de teu Povo em massacre
que há de tingir em vinhos e alegria a Aurora conjurada!
E soubeste beber o duplo cálice
do Altar e do Povo,
com uma só mão consagrada ao Serviço.
O anjo do Senhor anunciou na véspera
e o verbo se fez morte, outra vez, em tua morte.
Como se faz morte, cada dia, na carne desnuda de teu Povo.
E se fez vida Nova
Em nossa velha Igreja!
Estamos outra vez em pé de Testemunho,
São Romero de América, pastor e mártir nosso!
Romero de uma Paz quase impossível, nesta Terra em guerra.
Romero em roxa flor morada da Esperança incólume de todo Continente
Romero desta Páscoa latino-americana.
Pobre pastor glorioso,
assassinado a soldo, a dólar, a divisa.

Como Jesus, por ordem de Império.
Pobre pastor glorioso, abandonado
por teus próprios irmãos de Báculo e de Mesa.
(As Cúrias não podiam entender-te:
Nenhuma Sinagoga bem montada pode entender a Cristo)
(de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia MT).

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