13 setembro, 2017

CEBs NO CONTEXTO URBANO. A cidade desafia as CEBs. J. B. Libanio

As CEBs conservam a vocação de ser presença no coração da vida da cidade, carregada de problemas sociais.



A cidade desafia as CEBs.  As injustiças sociais no campo aparecem, sob certo sentido, de maneira bem escandalosa. A cidade tende a escondê-las. Ao assumir as grandes transformações culturais, as pessoas, mesmo pobres, sentem que participam de seus benefícios: eletricidade, aparelhos domésticos, produtos industrializados a preço acessível. Tal fato anestesia a consciência crítica. Dificulta as lutas. Ao vir para cidade, pensa-se que já se goza automaticamente de seus benefícios. E por isso, perde-se certa garra de luta.

Com efeito, gente que nas CEBs do interior reivindicava pelos próprios direitos, ao cair na grande cidade, diminui o fôlego. A cultura pós-moderna, com a inundação gigantesca de programas de TV e com outros recursos da informática, avassala a mente com propaganda. Tal universo de informação e de entretenimento termina por cansar as pessoas a ponto de elas não encontrarem energia para outras atividades. Passa-se facilmente de consciência combativa para acomodada.

Os líderes estudantis e operários, que, em décadas anteriores, conseguiam mobilizar os afiliados para comícios, assembleias e greves, lutam tenazmente para chegar até a eles por causa dos entraves que as cidades cada vez maiores põem e por influência da cultura pós-modernidade presentista e paralisadora.

As CEBs, que no passado desempenharam papel relevante na vida política do país a ponto de terem estado na origem de mobilizações e movimentos sociais populares, e também do Partido dos Trabalhadores, sofrem, nas cidades, da inércia crescente em face da política. Há enorme descrédito de tal atividade humana em consequência de vergonhosos escândalos por parte dos atuais políticos. Não há dia em que as manchetes não estampem casos de corrupção na administração do bem público.

O arrefecimento da prática religiosa na cidade

A cidade em relação à prática religiosa está a provocar-lhe o arrefecimento. Dificulta o exercício dos atos religiosos que na vida rural se seguiam cuidadosamente.  Já não se veem, com a clareza da vida rural, os antigos símbolos católicos, invadidos por outras religiões, especialmente pelas igrejas neopentecostais. As distâncias aumentam. A vida urbana acelera o ritmo das pessoas. A queixa geral: não se tem tempo para nada. De fato, na cidade o problema do tempo se torna cada vez mais grave. Um dos entraves para o crescimento da vida das CEBs vem de as pessoas não conseguirem hora para reunir-se. (nas cidades grandes, gasta-se muito tempo no trânsito, por exemplo.  A vida religiosa parece minguar.

O isolamento das pessoas e o cultivo do espírito comunitário.

A cidade aproxima fisicamente as pessoas. Agrupa-as em quantidade gigantesca. E curiosamente produz o efeito contrário. Em vez de socializá-las, isola-as no anonimato e no individualismo. Impera a regra: “salve-se quem puder”. Teme-se que estabelecer relações com as pessoas próximas traga invasões da privacidade.

Então surge o desafio para as CEBs urbanas. Como conseguir um equilíbrio entre o isolamento e a invasão exagerada da intimidade num ambiente de excessiva proximidade física.  As CEBs têm muito a oferecer com a experiência de ser comunidade. A origem primeira das CEBs aconteceu em torno de círculos bíblicos, celebrações, lutas sociais. As pessoas se reuniam para rezar, debater, celebrar, organizar mutirões. Essas realidades continuam importantes e mais ainda na cidade.

Os pilares das CEBs

Importa muito conjugar a dimensão comunitária, a preocupação social e a religiosidade. Sem esses três traços a CEB perde a característica própria. A cidade inibe, sob certo aspecto, os três elementos. Dificulta as reuniões comunitárias. Reduz o tempo para a convivência e assim impede o pessoal organizar-se comunitariamente.  Sem muita motivação e empenho, dificilmente as pessoas se reúnem para leitura orante da bíblia, para celebrações e reuniões, a fim de programar atividade social. E sob esta perspectiva, ela impede o empenho social.

CEBs evangelizam a religiosidade na cidade.

As CEBs conservam a vocação de ser presença no coração da vida da cidade, carregada de problemas sociais. Cresce nas pessoas certo desejo espiritual, provocado pela violência e dureza da vida urbana. As CEBs constituem-se pequeno oásis de espiritualidade.  A explosão do fenômeno religioso reflete a carência de toque espiritual no mundo atual.  Mas é preciso evangelizar a religiosidade. A religiosidade que não pede conversão, ainda não se deixou evangelizar. As CEBs têm potencial poderoso de ajudar as pessoas envolvidas na onda espiritualista para que descubram a exigência de mudança de vida. Mas em que direção? Na direção de uma conversão que, em última análise, assuma o serviço aos pobres, necessitados, marginalizados da sociedade. Então, o último passo da conversão da religiosidade se dá no compromisso, na práxis da caridade. Experiência que as CEBs conhecem de longa data e de que, portanto, têm muita experiência.

A cidade está a exigir das CEBs transformações profundas. Vale o princípio básico de toda mudança. Olhar para o passado, recolher os valores fundamentais e conservá-los. Perceber-lhes os limites e abandoná-los. E, sobretudo entregar-se à tarefa criativa. Ficam, portanto, estes questionamentos:

Que elementos das experiências anteriores vividas pelas CEBs merecem ser conservados?
Que elementos se consideram definitivamente superados e, portanto, não cabe teimar retê-los?
Finalmente, que novas perspectivas a cidade abre para as CEBs?

Fonte: www.cebsdobrasil- Nordestão- Batista Silva GT comunicação

Fonte: CEBs do Brasil


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