As redes sociais e os grupos de WhatsApp viralizaram nas últimas horas um vídeo em que o candidato a presidente da República do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, insultava a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), dizendo que “são a parte podre da Igreja católica”.
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por Religión Digital, 16-10-2018. A tradução é de André Langer.
Bolsonaro demonstrou ao longo de sua carreira política sua inimizade com a Igreja católica, sobretudo com aquela parte mais comprometida com as causas sociais e osdireitos dos mais pobres. Ele está ciente de que dificilmente a CNBB vai emitir um posicionamento explícito contra ele, algo que muitos católicos estão pedindo com cada vez mais insistência, e se aproveita para insultar, uma postura que tem sido repetida ao longo de seus anos, como quando na tribuna do Congresso Nacional disse que o cardeal Paulo Evaristo Arns, um dos grandes lutadores contra a ditadura militar, era alguém “sem honestidade e um aproveitador”.
Suas palavras, pronunciadas no que parece ser um encontro com grupos simpatizantes, são consequência do apoio da Igreja católica aos povos indígenas, uma de suas grandes obsessões. No vídeo, o candidato defende a exploração dos recursos da Amazônia por multinacionais estrangeiras, o que, sem dúvida, significa uma catástrofe ambiental de dimensões imprevisíveis. Ele afirma que “a região norte do país tem um atrativo muito grande por este tipo de indústria, patrocinada por países cultos. Porque nós temos a área mais rica do mundo, não só em biodiversidade como em riquezas minerais”.
Um dos grandes parapeitos, que impedem a invasão da Amazônia por parte de predadores ambientais, são as terras indígenas, reconhecidas pelas leis brasileiras. Nesse sentido, dá entender que a demarcação das terras indígenas é um escândalo, pois prejudica um dos seus grandes aliados, que são os proprietários de terra. Em uma afirmação que pode ser qualificada como ridícula o candidato chega a afirmar que existe o perigo de que esses territórios indígenas se tornem em países independentes dentro do Brasil, o que é outro exemplo de falta de conhecimento. O candidato afirma que “se depender de mim, essa política unilateral de demarcar terras indígenas por parte do Executivo deixará de existir, porque a reserva que eu puder reduzir, eu farei”.
Este tipo de declarações apenas aumenta o clima de confronto e dá margem para seus seguidores se fortaleçam nos seus ataques, mesmo contra a própria Igreja católica. Nos últimos dias, apareceram símbolos nazistas nas paredes de alguns templos e a própria sede da CNBB foi local de concentração dos partidários do candidato para insultar aqueles que definiam como bispos comunistas.
Fruto deste clima pelo qual o Brasil passa, neste dia 15 de outubro, as Pastorais Sociais da CNBB, entre as quais está o CIMI, um dos alvos dos ataques de Bolsonaro, emitiram uma nota em defesa da democracia e dos valores constitucionais, na qual condenam que “um movimento antidemocrático fere estes valores supremos assegurados pela Constituição e apela ao ódio e à violência, colocando o povo contra o povo”, com atitudes discriminatórias que “atacam a democracia pelo desprezo dos seus valores republicanos”.
A nota afirma que “o Brasil é um país de desigualdades sociais profundas em que os ricos estão cada vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres”, uma situação que pode se agravar com o horizonte político que se vislumbra e um possível governo a serviço “do sistema financeiro e da política neoliberal que atacam direitos sociais, ambientais e o patrimônio do país”, pois “nosso Brasil pode ter diferenças, porém sem ódio”, uma atitude que a cada dia aumenta mais.
Fonte: IHU
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