Por Papa Francisco
Sinodalidade não é um slogan, mas expressa a natureza da Igreja
O tema da sinodalidade não é o capítulo de um tratado de eclesiologia, muito menos uma moda, um slogan ou o novo termo a ser usado ou explorado em nossas reuniões. Não! A sinodalidade expressa a natureza da Igreja, sua forma, seu estilo, sua missão”.
Caminhar juntos
A natureza da Igreja expressa na sinodalidade está explicada no “primeiro e mais importante ‘manual’ de eclesiologia, que é o livro dos Atos dos Apóstolos”, segundo o Papa.
“A palavra ‘sínodo’ contém tudo o que precisamos entender: ‘caminhar juntos’. O livro de Atos é a história de uma viagem que parte de Jerusalém e, atravessando Samaria e Judéia, continuando nas regiões da Síria e da Ásia Menor e depois na Grécia, termina em Roma. Esta estrada conta a história em que a Palavra de Deus e as pessoas que voltam sua atenção e fé para essa Palavra caminham juntas. A Palavra de Deus caminha conosco. Todos são protagonistas, ninguém pode ser considerado um mero figurante. Isso deve ser bem compreendido: todos são os protagonistas”, explicou o Papa.
Docilidade ao Espírito Santo
O livro dos Atos fala do anúncio pelos lugares geográficos e “da inquietação interior que surge da própria fé” e faz os apóstolos se moverem, mostrando-se dóceis ao Espírito Santo. Pedro e Paulo, segundo o Papa, são discípulos do Espírito Santo, o qual “os faz descobrir a geografia da salvação divina, abrindo portas e janelas, derrubando paredes, rompendo correntes, libertando fronteiras”. A partir da experiência de anúncio desses dois, se ensina que “nós somos a Igreja, todos juntos”.
É esse mesmo Espírito Santo que em outras ocasiões, como nos episódios da instituição dos diáconos e da aceitação dos pagãos – relatados no livro dos Atos dos Apóstolos – que é protagonista nos caminhos de decisões.
“Com discernimento, com necessidades, com a realidade da vida e com a força do Espírito, a Igreja avança, caminha junto, é sinodal. Mas sempre há o Espírito como grande protagonista da Igreja”, sublinha o Papa.
Uma Igreja sinodal
Uma Igreja sinodal é sacramento da promessa de que o Espírito Santo estará com ela, “cultivando a intimidade com o Espírito e com o mundo vindouro”. E, diante das discussões, as soluções são buscadas “dando a palavra a Deus e a sua voz entre nós orando e abrindo nossos olhos para tudo ao nosso redor; praticando uma vida fiel ao evangelho; interrogando a Revelação segundo uma hermenêutica peregrina que sabe salvaguardar o caminho iniciado nos Atos dos Apóstolos“.
Horizontalidade da Igreja
“A Igreja Sinodal restaura o horizonte de onde nasce o sol Cristo: erigir monumentos hierárquicos significa cobri-lo. Os pastores caminham com o povo: nós pastores caminhamos com o povo, ora na frente, ora no meio, ora atrás. O bom pastor deve mover-se assim: na frente para guiar, no meio para encorajar e não esquecer o cheiro do rebanho, atrás porque o povo também tem “nariz”. Ele tem faro para encontrar novos caminhos para a jornada ou para encontrar o caminho perdido
Envolver os marginalizados
E a totalidade dos batizados envolve escutar e envolver os marginalizados, aqueles que a sociedade descarta.
“‘Mas, padre, o que está dizendo? Os pobres, os mendigos, os jovens toxicodependentes, todos esses que a sociedade descarta, fazem parte do Sínodo?’ Sim, meu caro, sim, minha cara: não sou eu quem digo, quem o diz é o Senhor: eles fazem parte da Igreja. A tal ponto que, se você não os chamar, eles verão como fazer isso, ou, se você não vai ao encontro deles para ficar um pouco com eles, para sentir não o que eles dizem, mas o que eles sentem, até os insultos que lhe proferem, você não está fazendo bem o Sínodo. O Sínodo é até o limite, inclui a todos”.
Se não incluirmos os descartados, “jamais poderemos nos encarregar de nossas misérias”. E no caminho sinodal, é preciso ter claro que o Espírito Santo em sua liberdade “não conhece fronteiras e nem mesmo se deixa limitar pela pertença”. Assim, a indicação é que todos estejam preparados para surpresas.
Leia o pronunciamento na íntegra
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