“Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7)
Breve síntese do Texto Base que tem servido de estudo para o 14º Intereclesial a ser realizado em janeiro de 2018 em Londrina/PR, Brasil.
Como se afirma na própria introdução do Texto Base (TB), escrito por muitas mãos, não se encontra no texto todas as possibilidades de reflexão em torno da questão urbana, mas oferece um caminho no qual se pode começar um aprofundamento. Uma síntese tem um caráter ainda mais limitado.
VER
O grande ícone da urbanidade sempre foi a cidade. E hoje, mais do que em qualquer outra época continua sendo. A cidade se configura por um espaço físico e pelas pessoas, com suas respectivas identidades, que constituem um território. Ao mesmo tempo, cada cidade é única. Chegamos a um grau de complexidade no qual o mundo urbano ultrapassa o espaço geográfico das cidades.
Neste contexto, no Brasil, e praticamente no mundo, chegamos a uma taxa de urbanização em torno de 84%. Um crescimento que se deu em apenas algumas décadas. Tal crescimento trouxe no seu bojo uma enorme diversidade e, ao mesmo tempo, a possibilidade de muita exclusão social. Assim, o eixo fundamental do TB é o direito à cidade, no sentido de que todos os habitantes possam ser incluídos no seu planejamento e construção, sem discriminações e privilégios.
A vivência religiosa não poderia deixar de ser influenciada por este processo de urbanização. No caso específico da Igreja Católica as Paróquias e Comunidades tem sofrido o impacto de tal dinâmica. As CEBs (Comunidade Eclesiais de Base) igualmente. Assim, torna-se fundamental pensar e viver a experiência de fé dentro de uma realidade de pluralismo religioso.
A história brasileira do processo de urbanização, semelhante em outras partes do mundo, foi a transformação das cidades em mercadoria. A receita neoliberal abandonou as periferiais, e tem empurrado ainda mais as populações mais pobres para longe dos benefícios sociais, culturais e econômicos dos grandes centros e das grandes metrópoles. A marca ideológica profunda que caracteriza a urbanização, mesmo nos chamados governos progressistas, é o social-desenvolvimentismo, que coloca no centro o mercado e não as pessoas.
Neste contexto, no Brasil, e praticamente no mundo, chegamos a uma taxa de urbanização em torno de 84%. Um crescimento que se deu em apenas algumas décadas. Tal crescimento trouxe no seu bojo uma enorme diversidade e, ao mesmo tempo, a possibilidade de muita exclusão social. Assim, o eixo fundamental do TB é o direito à cidade, no sentido de que todos os habitantes possam ser incluídos no seu planejamento e construção, sem discriminações e privilégios.
A vivência religiosa não poderia deixar de ser influenciada por este processo de urbanização. No caso específico da Igreja Católica as Paróquias e Comunidades tem sofrido o impacto de tal dinâmica. As CEBs (Comunidade Eclesiais de Base) igualmente. Assim, torna-se fundamental pensar e viver a experiência de fé dentro de uma realidade de pluralismo religioso.
A história brasileira do processo de urbanização, semelhante em outras partes do mundo, foi a transformação das cidades em mercadoria. A receita neoliberal abandonou as periferiais, e tem empurrado ainda mais as populações mais pobres para longe dos benefícios sociais, culturais e econômicos dos grandes centros e das grandes metrópoles. A marca ideológica profunda que caracteriza a urbanização, mesmo nos chamados governos progressistas, é o social-desenvolvimentismo, que coloca no centro o mercado e não as pessoas.
JULGAR
Diante do desafio urbano como a Palavra de Deus e a tradição cristã podem se posicionar?
A Ampliada Nacional das CEBs do Brasil (Fórum de articulação nacional) foi lá no livro de Êxodo e lembrou que Deus nunca abandona o seu Povo: “Eu vi…, eu ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7)
Porém, para aproximar mais a reflexão de nossa realidade, o TB se inspirou no Apóstolo Paulo como o grande exemplo da escuta de Deus aos clamores de uma realidade de cidade. E fecha a reflexão recordando que Paulo, e hoje a Igreja, sobretudo com o que o Papa Francisco, tem nos orientado, estão em sintonia com o Caminho de Jesus Cristo: Aquele que saiu do interior (Galileia) e foi para a grande cidade (Jerusalém).
Deus habita a cidade. Esta frase do Papa Francisco, dita ainda enquanto Cardeal Bergoglio em 2010 norteia todo o Julgar.
E é muito interessante perceber como Paulo, formado pela cidade, reconhece Deus onde justamente se imagina que Ele não possa estar. Deus pode ser encontrado no caminho, na casa e na mesa. A Igreja (ekklesia) só tem sentido se é a casa que acolhe aqueles e aquelas que o império não reconhece. Assim Paulo faz uma profunda crítica ao modelo de cidade de então, mas não com o profetismo tradicional, que já não falava mais para um povo cansado de tanta dor e sofrimento, mas com uma profecia apocalíptica. A fé apocalíptica anima a resistir na luta, criando pensamento e práticas alternativas.
Então, o que Paulo faz é recordar o Caminho de Jesus Cristo. Caminho que o próprio Deus escolheu fazer no humano Jesus de Nazaré, convocando-nos a se converter para uma lógica de inclusão, como está tão bem demonstrado quando Jesus cura o homem da mão seca no dia de sábado (Mc 3,1-6). “Vem para o meio”, diz Jesus. Vem que reconhecerei sua dignidade humana, ainda que nesta sala, não o reconheçam. O cuidado e a defesa da vida vai ser a característica central da BOA NOVA DE JESUS CRISTO.
O TB vai recordar que a Igreja se manteve fiel ao Caminho de Jesus quando foi capaz de apontar para a necessidade de incluir a todos e todas em uma sociedade justa e fraterna. Somente assim é possível ver sinais do Reino de Deus na história humana.
Finalmente é lembrado o já famoso “três T” de Francisco. O Papa nos lembra de que o mundo de hoje não pode ser justo se não houver Terra, Trabalho e Teto digno para todos. E mesmo sendo uma síntese, vale a pena reproduzir uma parte do seu discurso em uma favela africana, em 2015, em Nairobi:
Neste sentido, proponho que se retome a ideia duma respeitosa integração urbana. Nem erradicação nem paternalismo, nem indiferença nem mero confinamento. Precisamos de cidades integradas e para todos. Precisamos ir além da mera proclamação de direitos que, na prática, não são respeitados, e promover ações sistemáticas que melhorem o habitat popular e projetar novas urbanizações de qualidade para acolher as futuras gerações. A dívida social, a dívida ambiental para com os pobres das cidades paga-se tornando efetivo o direito sagrado dos «três T»: terra, teto e trabalho. Isto não é filantropia, é um dever moral de todos.
A Ampliada Nacional das CEBs do Brasil (Fórum de articulação nacional) foi lá no livro de Êxodo e lembrou que Deus nunca abandona o seu Povo: “Eu vi…, eu ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7)
Porém, para aproximar mais a reflexão de nossa realidade, o TB se inspirou no Apóstolo Paulo como o grande exemplo da escuta de Deus aos clamores de uma realidade de cidade. E fecha a reflexão recordando que Paulo, e hoje a Igreja, sobretudo com o que o Papa Francisco, tem nos orientado, estão em sintonia com o Caminho de Jesus Cristo: Aquele que saiu do interior (Galileia) e foi para a grande cidade (Jerusalém).
Deus habita a cidade. Esta frase do Papa Francisco, dita ainda enquanto Cardeal Bergoglio em 2010 norteia todo o Julgar.
E é muito interessante perceber como Paulo, formado pela cidade, reconhece Deus onde justamente se imagina que Ele não possa estar. Deus pode ser encontrado no caminho, na casa e na mesa. A Igreja (ekklesia) só tem sentido se é a casa que acolhe aqueles e aquelas que o império não reconhece. Assim Paulo faz uma profunda crítica ao modelo de cidade de então, mas não com o profetismo tradicional, que já não falava mais para um povo cansado de tanta dor e sofrimento, mas com uma profecia apocalíptica. A fé apocalíptica anima a resistir na luta, criando pensamento e práticas alternativas.
Então, o que Paulo faz é recordar o Caminho de Jesus Cristo. Caminho que o próprio Deus escolheu fazer no humano Jesus de Nazaré, convocando-nos a se converter para uma lógica de inclusão, como está tão bem demonstrado quando Jesus cura o homem da mão seca no dia de sábado (Mc 3,1-6). “Vem para o meio”, diz Jesus. Vem que reconhecerei sua dignidade humana, ainda que nesta sala, não o reconheçam. O cuidado e a defesa da vida vai ser a característica central da BOA NOVA DE JESUS CRISTO.
O TB vai recordar que a Igreja se manteve fiel ao Caminho de Jesus quando foi capaz de apontar para a necessidade de incluir a todos e todas em uma sociedade justa e fraterna. Somente assim é possível ver sinais do Reino de Deus na história humana.
Finalmente é lembrado o já famoso “três T” de Francisco. O Papa nos lembra de que o mundo de hoje não pode ser justo se não houver Terra, Trabalho e Teto digno para todos. E mesmo sendo uma síntese, vale a pena reproduzir uma parte do seu discurso em uma favela africana, em 2015, em Nairobi:
Neste sentido, proponho que se retome a ideia duma respeitosa integração urbana. Nem erradicação nem paternalismo, nem indiferença nem mero confinamento. Precisamos de cidades integradas e para todos. Precisamos ir além da mera proclamação de direitos que, na prática, não são respeitados, e promover ações sistemáticas que melhorem o habitat popular e projetar novas urbanizações de qualidade para acolher as futuras gerações. A dívida social, a dívida ambiental para com os pobres das cidades paga-se tornando efetivo o direito sagrado dos «três T»: terra, teto e trabalho. Isto não é filantropia, é um dever moral de todos.
AGIR
Diante dos desafios no mundo urbano, o TB aponta 10 situações nas quais devemos estar atentos e atentas para fazer sinais do Reino, sempre na direção de uma lógica de inclusão, o que em termos políticos significa buscar políticas públicas: as questões relativas a moradia; a mobilidade urbana; a violência, ao meio ambiente e sustentabilidade; trabalho; saúde, educação; arte, cultura, esporte e lazer; tecnologias de informação e comunicação; afetividade e sexualidade.
E evidentemente, cada CEB, integrada a uma rede de comunidades, em comunhão com a Igreja, deve sustentar a vida espiritual dos seus membros para que todos e todas possam manter viva a esperança de outro mundo possível. Possam encontrar força e consolo para viver os desafios do mundo urbano, o que não é nada fácil. Porém, a esperança de um mundo melhor deve estar sempre presente na vida cristã.
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E evidentemente, cada CEB, integrada a uma rede de comunidades, em comunhão com a Igreja, deve sustentar a vida espiritual dos seus membros para que todos e todas possam manter viva a esperança de outro mundo possível. Possam encontrar força e consolo para viver os desafios do mundo urbano, o que não é nada fácil. Porém, a esperança de um mundo melhor deve estar sempre presente na vida cristã.
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O artigo acima é parte da 4ª Edição do Jornal A Caminho Leia na integra:
http://www.cebsdobrasil.com.br/2017/08/27/a-caminho-edicao-04-agosto-de-2017cc/
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