18 novembro, 2023

33º Domingo do Tempo Comum, Ano A

Reflexão: - Domingo,19 de novembro de 2023

33º Domingo do Tempo Comum, Ano A


Leituras:

Pr 31,10-13.19-20.30-31
Sl 127(128),1-2.3.4-5ab (R. cf. 1a)
1Ts 5,1-6 ou mais breve 25,14-15.19-21
Mt 25,14-30


Celebrando o 33º Domingo do Tempo Comum, a liturgia convida a trabalhar em favor do Reino do Céus, desenvolvendo os dons e talentos dado por Deus, para o bem, para o serviço do Reino dos Céus.

Penúltimo domingo do ano litúrgico, novamente o Evangelho apresenta-nos um trecho do “discurso escatológico”, as narrativas são das passagens que encerram a vida pública de Jesus, de revelação sobre o destino final, sobre o que é chamada a humanidade, a viver com a sua vida a plenitude da vida. O juízo pode ser pessoal individual, cada um vive esse juízo com a morte com o encontro com o Senhor, mas também o destino universal de toda a humanidade chamada a se realizar em Deus.

Os Evangelhos propostos, tem ensinado sobre o chamado que Deus faz a cada pessoa, fala-se da volta do Senhor e voltando Ele estabelece o julgamento, também a Carta de São Paulo aos Tessalonicenses traz essa mensagem.

Domingo passado a liturgia falava da vigilância, parábola das dez jovens que iam ao encontro do noivo, as previdentes que se preparam para essa espera, tendo conhecimento que poderia ser longa e demorada a caminhada ao encontro do noivo, e as imprevidentes, que não se prepararam, não assumiram a sua responsabilidade na caminhada ao encontro do noivo, a mensagem é a vigilância, se preparar e nessa preparação estar sempre alimentando o dom que o Senhor concede para essa espera.

A liturgia desse domingo, fala um pouco mais de como deve ser essa espera, Jesus conta a parábola onde o Senhor entrega talentos as suas trabalhadoras e aos seus trabalhadores, nessa parábola a espera não é uma espera passiva, onde a pessoa fica parada, é uma espera na qual cada mulher e cada homem deve trabalhar.

Jesus contou esta parábola “Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade. Em seguida viajou. O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão”. O homem que ia viajar é o Senhor e seus empregados, é cada mulher e cada homem é a humanidade, os talentos são os dons que Deus dá a cada pessoa, e o Senhor dá a cada pessoa de acordo com a sua capacidade; com sua dinâmica; com seu ritmo. A narrativa do Evangelho continua “Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar contas com os empregados”

O que havia recebido cinco talentos, entregou-lhe mais cinco e o que havia recebido dois talentos além dos dois recebido entregou mais dois e o patrão disse a cada um deles “Muito bem, servo bom e fiel! como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!”. O empregado que tinha recebido um talento disse - “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence” e o “patrão lhe respondeu: Servo mal e preguiçoso!”.

A vida cristã, o talento, os dons que Deus confia e dá a cada uma e a cada um, que Ele dá a humanidade, só cresce e só se desenvolve, trabalhando, sentindo-se trabalhadoras e trabalhadores da messe do senhor. É pelo trabalho que cada pessoa se desenvolve como pessoa, não é parada, e é tralhando pelo Reino de Deus que cada pessoa desenvolve a vida cristã, não apenas esperando.

Precisa deixar-se provocar por essa parábola, o que Deus espera receber de cada mulher e de cada homem, será apenas o que Ele deu a cada uma e a cada um? ou Ele espera receber de volta o que ele deu ao confiar a vida, a vida em Jesus Cristo. O Evangelho, diz que Deus quer os talentos, os dons, que deu a cada uma e a cada um, desenvolvido.

A primeira leitura tirada do Livro dos Provérbios, o elogio da mulher perfeita aos olhos de Deus, é a de ser uma trabalhadora “Uma mulher forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que as joias. Seu marido confia nela plenamente, e não terá falta de recursos. (...) Procura lã e linho, e com habilidade trabalham as suas mãos. Estende a mão para a roca, e seus dedos seguram o fuso. Abre suas mãos ao necessitado e estende suas mãos ao pobre. O encanto é enganador e a beleza é passageira”.

O que faz com que ela cresça e desenvolva não é sua aparência física, sua beleza, mas sim a sua dedicação ao trabalho. O trabalho realizado pela mulher conforme descreve o texto do livro dos Provérbios, na época, era trabalho próprio do homem e não da mulher e o texto deixa claro, ela era responsável pelo sustento da casa, da família e é pelo trabalho que a mulher vai aperfeiçoando sua família diante de Deus. Na cultura dessa época a mulher só tinha cidadania se recebida do homem e o homem que era responsável de prover e proteger a família, e o texto cheio de ousadia, diz que é a mulher, honesta, dedicada e trabalhadora que garante o sustento, crescimento e a ordem na família e ela torna-se generosa - “Abre suas mãos ao necessitado e estende suas mãos ao pobre”.

Ler esse texto, é convite, a um ver, agir e julgar pessoal, como orientação dada pelos provérbios, é pelo trabalho realizado de forma digna e dedicado, que a pessoa, não só tira o sustento para sua vida, sua família, mas ela se desenvolve a si mesma, chegando à perfeição que Deus quer que cada mulher e cada homem alcance.

O salmo, na pessoa do homem nos leva a mesma reflexão “Feliz és tu, se temes o Senhor e trilhas seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos hás de viver, serás feliz, tudo irá bem! A tua esposa é uma videira bem fecunda no coração da tua casa; os teus filhos são rebentos de oliveira ao redor de tua mesa. Será assim abençoado todo homem que teme o Senhor”.

A mulher e o homem, dedicando ao trabalho com honestidade, supera as dificuldades, cresce e se desenvolve diante das pessoas e cresce e se desenvolve diante de Deus, e chega a perfeição da vida, da própria vida que Deus lhe confiou, porque desenvolveu os talentos, os dons recebidos do Senhor e é o que o Evangelho fala, quando o Senhor volta, não se sabe o tempo, más Ele, conforme a capacidade, conforme o tempo de cada pessoa confia talentos e dons, confia a vida cristã, e quando o Senhor voltar, ele vai reconhecer o que cada uma e cada um fez com o que recebeu.

Com a parábola, diz Jesus que ao receber os talentos saíram logo e foi trabalhar, os que receberam cinco e dois multiplicou os talentos porque dedicaram ao trabalho, esses recebem a recompensa, que não foi dinheiro, e sim participar da alegria do senhor. Mas teve um que foi tomado pelo medo que o levou ao desanimo, medo de Deus “Senhor, sei que és um homem severo”, para ele o Senhor é severo e injusto “pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste”.

A imagem do Senhor não é de uma pessoa justa, que distribui talentos, dons conforme a capacidade e o tempo de cada pessoa, mas imagem de um Senhor severo e injusto que gera medo e o medo paralisa as pessoas de tal forma que não há mais alternativa para a vida, e enterra o talento, apenas conserva o que de Deus recebeu, importa-se apenas em não perder o que recebe. O que leva a não trabalhar para o próprio crescimento, a não trabalhar pelo Reino dos Céus, incapaz de viver a comunhão é o medo, porque a pessoa se sente amarrado, possuído pelo ressentimento e pelo ódio.

Muitos são, hoje, os que tem medo porque para essas pessoas Deus é severo e injusto, e são muitos hoje os que levam a outras pessoas uma imagem desfigurada do Senhor. Essa imagem de um Deus que mete medo é tirada da sociedade, da forma como a sociedade está organizada, onde se tem desigualdades; tem descartados; tem poderosos injustos e cruéis que exploram para apropriar do que não as pertencem e usam de violência e de guerra e isso leva ao medo que paralisa, impede as pessoas de desenvolver os talentos e os dons recebido de Deus e não conseguem desenvolver e conquistar aquilo que Deus deseja que desenvolvam e conquistem, e tem medo de Deus, porque da imagem dessa sociedade injusta, desses poderosos que projeta a imagem em Deus.

Ficar vigilante enquanto espera pela vinda do Senhor, mas é preciso ficar atento, a espera, conforme a parábola desse domingo, não é uma espera passiva, onde a pessoa fica parada, é uma espera na qual cada mulher e cada homem, a humanidade deve trabalhar os talentos, os dons recebidos do Senhor, trabalhar para o Reino do Céus e no Reino não existe: inveja; falar e querer mal a ninguém; auto suficiência; perseguições; hipocrisia; corrupção; crueldade; injustiça, e, portanto, não há medo. Trabalhar os talentos, os dons recebidos de Deus é não se deixar vencer pelo comodismo, deixar na gaveta os talentos, os dons de Deus, aceitar passivamente que o mundo se construa de acordo com valores que não são os de Jesus. A mulher e o homem não podem esperar o Senhor indiferente com os problemas do mundo, é preciso esperar o Senhor envolvido e empenhado no mundo, cooperando para que as pessoas trabalhem os talentos, os dons recebidos do Senhor, trabalhando em favor do Reino de Deus para que o Reino aconteça na vida da humanidade.

O testemunho, a pregação de cada cristã e cada cristão, das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), das paroquias, das igrejas, motiva as pessoas a trabalharem os talentos, os dons que Deus lhe deu, em favor do Reino ou está ajudando as pessoas a ficar e ou continuar com medo de Deus, paralisadas, sem criatividade, sem ousadia para trabalhar em favor do Reino de Deus?

Qual imagem de Deus Jesus apresenta, qual o rosto de Deus revelado em cada gesto e palavra de Jesus? E qual é a imagem de Deus, qual rosto de Deus que cada cristã e cada cristão, que as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), as paroquias, e as igrejas, revelam?

Deixar-se provocar pelo Evangelho é necessário.

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